Setor aponta alto custo de operação e desinformação do consumidor
A promessa de um combustível mais barato, limpo e alinhado às metas globais de sustentabilidade esbarra em uma realidade que segue na contramão dos discursos oficiais. Em Mato Grosso do Sul, a oferta de GNV (Gás Natural Veicular) encolheu nos últimos anos, mesmo com isenção de IPVA em vigor, estímulos à conversão e defesa ambiental do uso do gás.
Atualmente, apenas seis postos mantêm o fornecimento do GNV em todo o Estado, de acordo com o Sinpetro-MS (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo e Lubrificantes). Há alguns anos, eram oito. Os dois que deixaram de operar com o combustível não apontaram queda na demanda como razão direta.
“Continua a procura, porque se seguir as normas de segurança correta, o GNV se torna mais barato para quem utiliza muito durante o mês, como táxis e motoristas de aplicativo. O governo deveria subsidiar essa alternativa diante das dificuldades que enfrentamos com combustíveis fósseis, como gasolina e etanol”, declara Edson Lazaroto, diretor do Sinpetro.
Sobre as dificuldades práticas enfrentadas pelos postos que ainda oferecem o combustível, ele afirma: “Custo e manutenção são caros. O mais importante é a conscientização do consumidor sobre os protocolos de segurança no abastecimento”.

Foto: Nilson Figueiredo
Demanda por conversão se mantém
A retração dos pontos de abastecimento contrasta com a estabilidade na procura por conversões. Segundo Daniel Lima, proprietário de um centro automotivo especializado em GNV, o interesse dos consumidores segue constante, inclusive por parte de donos de veículos a diesel. O valor médio para instalar o kit gira em torno de R$ 4 mil para modelos populares. “Hoje não há mais um modelo específico, as instalações são feitas em todos os tipos de veículos”, destaca.
As dúvidas mais frequentes dos clientes, segundo o empresário, referem-se ao funcionamento do veículo e à autonomia. “Não há mais reclamações, porque os kits atuais possuem tecnologia avançada que faz o motor funcionar corretamente, sem alteração no desempenho”, explica. Ele ainda lembra que os clientes que optam pela conversão contam com isenção de 100% do IPVA.
Incentivo fiscal mantido em 2025
Com foco em metas ambientais, o Governo de Mato Grosso do Sul manteve para 2025 a isenção total do IPVA para veículos movidos a GNV, seja de origem ou por conversão autorizada. A medida, segundo a Secretaria de Fazenda, integra a estratégia estadual de transição energética e está alinhada aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU.
“O GNV é um combustível de queima limpa, com menor emissão de gás carbônico e sem enxofre na composição. É uma alternativa mais econômica e ambientalmente correta. Nosso objetivo é estimular o uso consciente e garantir um Mato Grosso do Sul mais verde e próspero”, diz o secretário estadual de Fazenda, Flávio César, em nota.
Apesar do discurso institucional, o Sinpetro afirma que não houve, até o momento, diálogo efetivo com o governo ou com a distribuidora estadual sobre medidas concretas de fomento ao setor. “Não houve uma tratativa direta, mas está em pauta”, ressalta o diretor.
Benefícios existem, mas falta política pública
Distribuído pela MSGás por meio de gasodutos de alta pressão, o GNV é reconhecido por sua eficiência energética e segurança. A combustão quase total reduz o acúmulo de resíduos no motor, amplia o tempo entre manutenções e elimina o risco de adulteração, já que o gás não entra em contato com intermediários.
O GNV pode gerar até 70% de economia em comparação com a gasolina e reduzir em até 76% a emissão de monóxido de carbono, segundo dados da própria MSGás.
É o que relata o freteiro, Aparecido Santo das Neves. “Eu instalei o GNV porque no final das contas compensa, esse meu veículo com gasolina ele fazia 3,5 km por litro, já com GNV a autonomia é de 10 km por metro do tanque, que tem capacidade de 25 metros”.
Segundo Aparecido, o que realmente impacta não são nem os preços e sim a burocracia envolvida nos processos de manutenção e vistorias anuais.
“O que é ruim é o seguinte, todo ano que a gente vai pagar o documento, é preciso fazer a vistoria do tanque de GNV, essa vistoria que é cara e demorada. Além disso tem que ser feita a qualificação do bujão, de 5 em 5 anos, e ai já não é no mesmo lugar da vistoria é em uma terceirizada específica o que acaba tornando o processo muito burocrático”, completou Neves.
Ainda assim, a baixa oferta nos postos e o desconhecimento sobre os protocolos de segurança no abastecimento — como a obrigatoriedade de todos saírem do veículo e o uso correto do sistema de aterramento — funcionam como barreiras à adesão.
A despeito dos avanços tecnológicos, benefícios fiscais e vantagens ambientais, o GNV ainda caminha à margem da estrutura de combustíveis em Mato Grosso do Sul. Para os motoristas que já adotaram a alternativa, o desafio é encontrar onde abastecer. Para os que consideram migrar, pesa a insegurança sobre o acesso à rede e a durabilidade do investimento.
Por Djeneffer Cordoba
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