O pão deverá ser mais brasileiro nos próximos anos. A guerra da Ucrânia mostrou a necessidade de o país repensar algumas atividades agrícolas, principalmente a do trigo. O Brasil foi afetado fortemente em dois pontos fundamentais na dependência externa que o agronegócio tem: fertilizantes e trigo.
No caso do primeiro, as importações vêm diretamente de um dos países envolvidos no conflito, que é a Rússia. Com relação ao trigo, tanto Ucrânia como Rússia são importantes exportadores mundiais do cereal. Embora os dois não tenham importância direta no volume de trigo importado pelo Brasil, o país está sofrendo os efeitos do repique internacional dos preços.
A produção nacional deste ano deverá subir para 7,9 milhões de toneladas, com consumo de 12,7 milhões. Daí a necessidade de importação de 6,5 milhões de toneladas. Boa parte será nos patamares atuais de preços, que estão 35% superiores aos de há um ano.
Uma das saídas é a tropicalização do trigo, um desafio que a Embrapa vem encarando há vários anos. O trigo tem de seguir os caminhos da soja e do milho. E isso começa a ocorrer. Experimentos já indicam boa produtividade do cereal até em Roraima.
É o caminho que o trigo deverá seguir, segundo Celso Moretti, presidente da Embrapa. Nos anos 1970, a área de trigo do Brasil estava concentrada no Sul, que representava 93% do espaço dedicado a essa cultura. Cinco décadas depois, o Sul ainda detém 90% da área semeada de trigo.
Na avaliação do presidente da Embrapa, é necessária uma tropicalização do produto, assim como ocorreu com a soja e com milho. E a guerra da Ucrânia despertou ainda mais essa necessidade.
O avanço da tecnologia permitiu a ida desses produtos para novas regiões, e o país passou de importador de alimentos para a autossuficiência e, inclusive, se tornou um dos principias exportadores mundiais.
O trigo poderá tomar o mesmo rumo e, em uma década, o país será autossuficiente e exportador. Nas contas da Embrapa, a produção nacional poderá subir para 14,7 milhões de toneladas em dez anos.
O Brasil central dá a possibilidade de cultivo de trigo em duas milhões de hectares, em área já consolidada e sem a necessidade de incorporação de terra ainda inexplorada.
A área nacional a ser cultivada neste ano deverá ficar próxima de três milhões de hectares. “O Brasil tem tecnologia para o aumento de produção e eliminação da necessidade de importação de trigo. O papel da Embrapa é prover soluções”, afirma o presidente da empresa.
Com informações da Folhapress