Iniciada no sábado (7), a guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas é um dos temas mais latentes da primeira quinzena de outubro. Afinal, o bolso dos consumidores sul-mato-grossenses também pode ser afetado em decorrência dos desdobramentos da guerra. Ao trazer volatilidade para o mercado global, a alta no preço do petróleo pode reacender uma pressão inflacionária e fazer com que o preço dos combustíveis se eleve em todo o mundo, inclusive, em Mato Grosso do Sul.
Política e geograficamente, o Brasil se encontra distante da guerra. No entanto, o impacto poderá ser sentido no bolso. Na segunda-feira (9), o brent, que é o petróleo vendido em estado “cru” e divido por meio de barris subiu 4,22% e alcançou a marca de US$ 88,15. Com isso, uma elevação no preço do barril pode vir a alterar o preço dos combustíveis pelo mundo – incluindo no Brasil.
O diretor-executivo do Sinpetro (Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência de Mato Grosso do Sul), Edson Lazarotto, explica que a Petrobras tem se mantido firme em não fazer quaisquer reajustes. “Fica a expectativa de que se as coisas piorarem no cenário de guerra e o dólar disparar como está ocorrendo, mesmo a Petrobras se mostrando firme em não reajustar, ficará quase impossível que não ocorra algum tipo de reajuste, principalmente do diesel. Nesse momento, conforme declarações do presidente da Petrobras, é preciso aguardar o desenrolar dos acontecimentos, não tem muito o que fazer”, explica Lazarotto.
Em pesquisa feita em, pelo menos, cinco postos de combustíveis da Capital, o jornal O Estado verificou que os preços seguem estáveis. No Posto Kátia Locatelli, localizado na Av. Costa e Silva, a gasolina foi encontrada a R$ 5,47, enquanto o etanol é comercializado a R$ 3,39 e o diesel S-10 a R$ 6,14; Já no
Auto Posto Trokar Petrobras, a gasolina comum é comercializada a R$ 5,39, enquanto o etanol segue na faixa de R$ 3,49 e o diesel R$ 6,19; Já no Alloy Auto Posto I, localizado na Av. Fernando Corrêa da Costa com a 14 de Julho, a gasolina é comercializada a R$ 5,29, o etanol a R$ 3,27 e o diesel a R$ 6,22; No Auto Posto BR – Posto Paulista, a gasolina também é vendida a R$ 5,29; por último, no Posto Master, localizado na Av. Calógeras, a gasolina foi encontrada a R$ 5,39.
Visão de especialista
O economista Lucas Mikael explica que embora os impactos sobre o Brasil sejam menores a curto prazo, o país está limitado às oscilações do dólar e da bolsa de valores. Caso a guerra se agrave e persista por muito tempo, será possível observar impactos mais diretos, por conta das travas na produção e distribuição do combustível. “Uma alta forte do petróleo tem como consequência direta a elevação do preço dos produtos derivados, como gasolina e diesel. Por sua vez, combustíveis mais caros afetam diretamente a inflação, já que são parte essencial de diversas cadeias produtivas e de distribuição. A grande dúvida que paira nos mercados é o ganho de escala do conflito e o possível envolvimento de aliados, atingindo a política de outros países do Oriente Médio. O maior risco está numa possível participação do Irã, que poderá exercer sua influência junto aos demais países da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), para cortar a produção e elevar o preço do petróleo”, argumenta o economista.
Ainda segundo Mikael, para MS, a alta nos preços dos combustíveis pode ser nociva, sobretudo, para o agronegócio. “É preocupante porque impacta diversas etapas da produção agropecuária. A primeira delas, naturalmente, é o frete. Não apenas o transporte dos produtos finais do campo para a cidade deve ficar mais caro, como também o deslocamento de insumos, gerando um efeito cascata no setor. É inviável para as transportadoras manter o custo do frete inalterado com tamanho aumento no preço dos combustíveis, já que, para as empresas, ele corresponde a uma parte considerável das suas despesas”, avalia Mikael, que completa, ressaltando que o agronegócio também utiliza o diesel para diversos tipos de maquinário, como tratores, colheitadeiras e geradores de eletricidade, o que impacta diretamente a produção.
Nos postos, expectativa é de reajustes
O jornal O Estado entrou em contato com gerentes de postos de combustíveis, em Campo Grande, para saber como está o clima nos estabelecimentos, se de fato a guerra em Israel trará algum impacto nos preços dos combustíveis. O gerente Júnior Sanabria acredita que o reflexo da guerra poderá ser sentido a longo prazo.
“É cedo para ter uma certeza, aqui os supervisores ainda não nos orientaram nada sobre o assunto. Acredito que futuramente, e se continuar essa guerra, pode, sim, ter algum impacto no preço da gasolina, vai depender de como o mercado dos combustíveis vai se comportar. Tudo que acontece no exterior gera algum tipo de impacto nos nossos preços, seja para mais ou menos. O que consequentemente gera impactos, inclusive em outros setores, como nos transportes de cargas que usam o diesel, alimentos no mercado etc.”, destacou o gerente.
O gerente de um outro posto de gasolina (que preferiu não se identificar), na Av. Costa e Silva, discorda que o cenário de guerra fará aumentar a gasolina. “Levando em consideração que o Brasil é um grande gerador de petróleo, temos aí a Petrobras, em MS mesmo tem cidades que produzem etanol. Então, acho bem difícil a gasolina aumentar por causa da guerra. Pode ser que ela sofra algum aumento, mas acho pouco provável que seja por esse motivo”, ressalta o profissional.
Por – Julisandy Ferreira
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