Empresárias relatam rotina intensa, aumento de custos e tradição brasileira de comprar flores em cima da hora
Em meio ao turbilhão de ligações, pedidos de última hora e flores que cruzam cidades inteiras para chegarem às mãos certas, o Dia das Mães se revela, todos os anos, como a data mais movimentada — e delicada — para quem vive da arte de florir. É quando o gesto de entregar uma orquídea, um lírio ou um simples botão de rosa carrega um simbolismo profundo: homenagear quem floresceu vidas.
“Eu sempre digo que a flor cabe em todos os momentos. Do nascimento à despedida. E no Dia das Mães ela é uma declaração silenciosa, mas muito potente”, afirma Silvane Regina, proprietária da Floricultura Flores&Cia. Há sete anos no ramo, ela comanda uma operação que praticamente dobra de tamanho nessa época, com reforço de equipe e reorganização de processos. “Mesmo assim, não damos conta. Deixamos muita gente sem resposta. Só no Dia das Mães, recebo mais de 600 ligações. WhatsApp então, nem consigo abrir tudo.”
A rotina exaustiva contrasta com a delicadeza dos produtos. Entre arranjos e cestas, cada unidade precisa ser pensada com agilidade, mas também com cuidado. Silvane, que é mãe, sente que isso também influencia na forma como produz. “A gente entende o sentimento envolvido. Sabe o quanto significa para uma mãe receber esse carinho. É por isso que faço questão de continuar mesmo quando estou exausta.”
A correria, porém, não começa com antecedência para todos. A maioria dos pedidos, segundo as floristas ouvidas, ainda se concentra no próprio domingo da celebração. “É da cultura brasileira deixar tudo para a última hora”, brinca Silvane. A consequência? A escassez. “Às vezes só tenho o buquê de três rosas. Digo: ‘é isso ou nada’, e as pessoas compram mesmo assim. O importante é não deixar passar.”
Preços crescem com demanda
O desafio de atender à alta procura é agravado pela explosão nos preços. “Esse ano os valores subiram até 300%”, relata Thaiana Severo, da Floricultura Nicaretta, que atua há três décadas no setor, — herança da mãe, que iniciou o negócio — dez delas no ponto atual. “Estamos pagando mais na rosa nacional do que na importada da Colômbia. E quem não se preparou vai ficar sem flor para vender.” A explicação está na cadeia de produção. Como o intervalo entre datas comemorativas é curto — especialmente entre o Dia da Mulher, em março, o Dia das Mães e o Dia dos Namorados, em junho — os produtores precisam escolher quando colher. O resultado é um mercado pressionado, com menor oferta e preços inchados.
Mesmo com os custos em alta, Thaiana estima um crescimento de 30% nas vendas em relação ao ano passado. “O cliente pode até diminuir o tamanho do pedido, mas não deixa de comprar. Flor é carinho. E, muitas vezes, acompanha outro presente, como uma bolsa ou um perfume. Mas ela está sempre ali, como símbolo.”

Foto: Nilson Figueiredo
Cestas, vasos e orquídeas
Ao contrário do Dia dos Namorados, quando o buquê reina absoluto, no Dia das Mães o perfil da compra muda. “Aqui sai muito vaso plantado e cesta de café”, explica Thaiana. “São presentes que duram mais, que transmitem cuidado contínuo. Você não dá um buquê de rosas vermelhas para a sua mãe. Dá uma orquídea, um lírio, uma flor viva.”
A personalização também se transforma. “A gente monta catálogos específicos para essa data, justamente para dar conta da produção”, explica Silvane. Mãe, ela revela que, ironicamente, não costuma receber flores dos filhos no Dia das Mães. “Ganho bolsas, roupas, viagens… porque nesse dia, atenção mesmo para eles, eu não consigo dar.”
Para Maria Gabriela, proprietária da Floricultura Silvestre, o desafio vai além de lidar com a inflação: é também manter viva uma experiência de afeto em um mercado cada vez mais competitivo. Ela conta que enfrenta a concorrência com grandes varejistas, como supermercados, que conseguem comprar em volumes maiores e repassar ao consumidor por valores mais baixos. “É uma concorrência desleal. Eles não têm o trabalho que temos. Recebem as flores prontas para vender, enquanto nós fazemos tudo manualmente.”
Apesar das dificuldades, ela aposta em um diferencial: o cuidado com cada pedido. “O cliente da floricultura valoriza esse carinho. Manda mensagem no WhatsApp e a gente organiza tudo: embala, monta, entrega. Temos até um cliente no Japão que manda flores todo ano para a mãe aqui.”
Flor como elo universal de afeto
Mesmo com sobrecarga, madrugadas viradas montando arranjos e das mensagens que se acumulam sem resposta, todas elas mantêm a paixão pelo ofício. E compartilham uma mesma visão: a flor como elo universal de afeto.
“A flor cabe em qualquer momento. Cabe no nascimento, no aniversário, na morte. Eu falo que estou presente na vida do cliente do começo ao fim”, reflete Silvane. Mãe também, ela revela que, ironicamente, não costuma receber flores dos filhos no Dia das Mães. “Ganho bolsas, roupas, viagens… porque nesse dia, atenção mesmo pra eles, eu não consigo dar.”
Thaiana concorda: “A flor é um gesto de carinho. Mesmo quando se dá um presente mais caro, ela vai junto. É um símbolo que fala por si.”
A experiência ampliou o olhar de Maria para o significado do Dia das Mães. “A mulher tem uma delicadeza natural no que faz. E isso aparece nos arranjos. É muito simbólico.” Ela mesma, florista, se emocionou ao ganhar um buquê durante um momento difícil da vida. “Mesmo rodeada de flores, aquele gesto teve um significado imenso.”
Por Djeneffer Cordoba
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