Especialista alerta que não tem sentido usar Blockchain

Blockchain

Nos últimos anos as moedas virtuais começaram a despertar todas as atenções no Brasil. A mineiração não-linear que, basicamente são milhares de computadores espalhados pelo mundo descriptografando valores para dar mais segurança nas transações comerciais ainda é vista com desconfiança, por isso, a matéria da Época é contundente quando diz que o blockchain está longe de ser perfeito.

A maioria das empresas que adotou a tecnologia ainda não é bem-sucedida. O seu verdadeiro potencial só irá se concretizar num futuro próximo. As afirmações são duras e vêm de quem entende do assunto: Nathana Sharma, professora de blockchain da Singularity University e consultora na área para companhias de todo o mundo.

Em visita ao país a convite do KES, a professora debateu os rumos do blockchain e sinalizou: ainda há um longo percurso para as empresas realmente aplicarem bem a tecnologia nos seus negócios. “Há muita excitação, muito hype e, na mesma proporção, muitos projetos que não chegarão a lugar algum”, afirma.

Nathana compara o blockchain de hoje ao boom da internet nos anos 2000. “Naquela época, toda empresa com um site abria capital”, diz. O tempo passou e o furor diminuiu. O mesmo, acredita a especialista, tende a acontecer com a tecnologia. “Para criar real valor para os negócios, os projetos de blockchain precisam maturar. Isso deve acontecer na próxima década.”

Antes de dar aula em uma das universidades mais “pops” da nova economia, Nathana estudou direito, filosofia e neurociência. “Eu sou fascinada pelo progresso humano. Agora, estou focada em como a tecnologia está expandindo o limite do que é possível a humanidade alcançar.”

Nesta entrevista, a especialista também discute as questões éticas em relação à inteligência artificial, o impacto do poder tecnológico da China e os riscos envolvendo a criação da Libra, a criptomoeda do Facebook.

Por que você decidiu estudar blockchain e inteligência artificial? Eu sempre fui fascinada pelo progresso humano, em descobrir por que fazemos o que fazemos e qual é o sentido da vida. Por isso, decidi me aprofundar no estudo da filosofia e da neurociência. A tecnologia mudou o patamar do que é possível a humanidade alcançar. Há avanços excitantes, capazes de mudar a forma como interagimos entre nós e com as empresas.

Você parece uma idealista quando fala de blockchain e inteligência artificial. Essa impressão é correta?

Bom, se você é uma mulher ou alguém não caucasiano, não há na história da humanidade melhor momento para ter nascido do que agora. Isso é bem inspirador. As novas tecnologias entram como ferramentas. Elas podem ser usadas para o bem ou para o mal. O blockchain, por exemplo, é uma tecnologia que promove a transparência e ajuda as pessoas a tomarem a melhor decisão. Quanto à inteligência artificial, penso que tudo que ajuda a expandir nossa capacidade vem para agregar. Quando nos tornamos mais produtivos, criamos abundância e a oportunidade de dividir mais com quem precisa. Tenho esperanças de que as novas tecnologias cheguem para mostrar que nós erramos muito no passado. E que, a partir de agora, podemos fazer as coisas de outro jeito.

No entanto, você mesma diz que o blockchain não é perfeito.
E não é mesmo. Talvez seja a primeira a falar isso, mas a verdade é muitos projetos de blockchain não vão a lugar algum.

Por quê?
Não faz sentido as empresas usarem uma tecnologia só porque ela está na moda. Cada caso deve ser analisado com muita calma. Hoje, por exemplo, há milhares de criptomoedas. Muitas serão um fracasso. A maioria das companhias que faz uso do blockchain ainda não é bem-sucedida. Estamos no início da tecnologia. Há muita excitação, muito hype e, na mesma proporção, muitos fracassos. Para criar real valor para os negócios, os programas precisam maturar. Isso deve acontecer na próxima década.

Em quais situações você acha interessante usar o blockchain?
No mercado imobiliário, por exemplo. No mundo todo, há um problema sério com a veracidade e confiabilidade da documentação de imóveis. O blockchain vai ser certeiro em resolver essa questão. Será um divisor de águas.

E como você se sente quando uma empresa poderosa como o Facebook lança uma criptomoeda?
Nessas horas, o interessante é nos perguntar: quem decide o que vamos usar como moeda? O que vai acontecer com países menores e menos poderosos? São perguntas difíceis e necessárias. No geral, eu acho uma boa ideia para o Facebook, mas não sei se é uma boa ideia para nós.

Você acredita que estamos no caminho certo nas discussões éticas sobre inteligência artificial?
No atual momento, só de discutirmos isso já acho importante, porque estamos começando a perceber que a inteligência artificial tem um viés. E o melhor é que percebemos que isso não acontece por acidente, mas, sim, porque nós somos uma sociedade enviesada. Agora, temos a oportunidade de medir e mudar esse comportamento.

E onde estamos errando em relação à inteligência artificial?
Quando usamos a inteligência artificial para cometer crimes. Ou, pior, quando governos autoritários fazem uso dela para controlar a população e diminuir a liberdade individual. De certa maneira, é o que está acontecendo na China. Definitivamente, temos um longo caminho pela frente.

(Rafael Belo com Época)

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