Paralisação atinge período pré-Natal, reduz fluxo de clientes e pode gerar prejuízo de até R$ 10 milhões por dia, estima a CDL
Na ponta do varejo, os efeitos da paralisação do transporte coletivo já se traduzem em custos adicionais e dificuldades operacionais, levando empresários a arcar com despesas que não estavam previstas, ou até a liberar funcionários diante da inviabilidade de deslocamento.
roprietário da Ótica e Relojoaria Seiko, o empresário César Nogueira relata que, embora parte dos colaboradores não utilize ônibus regularmente, a greve escancara um problema estrutural do sistema e pressiona os custos do empregador. Segundo ele, a empresa já complementa o valor do vale-transporte quando o gasto do funcionário supera o repasse padrão.
“Se o vale-transporte é R$ 4,95 e o funcionário gasta mais, a gente paga a diferença. Com a greve, o custo do aplicativo sobe muito. Tem funcionária que mora longe e a corrida chega a R$ 50. Não tem como pagar R$ 100 por dia só para ela vir trabalhar”, afirma.
César destaca que, diante desse cenário, a alternativa tem sido flexibilizar a jornada ou liberar o colaborador. “Você acaba tendo que escolher entre assumir um custo que não fecha a conta ou liberar o funcionário. Não é uma decisão simples, ainda mais neste período”, pontua.
Situação semelhante é enfrentada por grandes redes. Na Gazin, a gerente adjunta Maiara Araújo afirma que a paralisação pegou a empresa de surpresa e exigiu reação imediata para garantir o funcionamento da loja. “Temos colaboradores que não têm carro ou moto. Precisamos acionar aplicativo para garantir a ida e a volta deles”, relata.
Segundo Maiara, apenas em um dia, cerca de 15 funcionários precisaram desse apoio, o que elevou significativamente os custos operacionais. “São bairros diferentes, dois horários por dia, e os valores dos aplicativos aumentaram por causa da demanda. Não é um gasto pontual, é um impacto pesado”, afirma.
Além do custo extra com transporte, a gerente aponta impactos diretos no movimento da loja, especialmente no início do dia. “De manhã, muitos clientes costumam vir pagar carnê ou resolver pendências, e isso caiu bastante nesses dias de paralisação”, observa.
Perdas no comércio
Os relatos dos comerciantes confirmam a avaliação da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Campo Grande, que estima prejuízo de cerca de R$ 10 milhões em apenas um dia de greve. Para o presidente da entidade, Adelaido Figueiredo, o impacto vai além do caixa das empresas.
“Não perde só o empresário. Perde o trabalhador, que depende do transporte para chegar ao emprego, perde o vendedor comissionado e perde a cidade”, afirma.
A CDL alerta que a paralisação ocorre em um dos momentos mais sensíveis do calendário comercial. A entidade projeta que 77,5% das compras de Natal sejam realizadas de forma presencial, com expectativa de movimentação de R$ 194 milhões na economia local.
“O comércio estava preparado para o melhor Natal dos últimos anos. A greve compromete esse cenário”, reforça o presidente.
Por Djeneffer Cordoba