Do interior para o exterior: mulheres de MS conquistam espaços e levam para fora do país seus produtos

Com estampas
esclusivas, cerca de 500
pijamas são enviados
para o Chile por mês - Foto: Divulgação
Com estampas esclusivas, cerca de 500 pijamas são enviados para o Chile por mês - Foto: Divulgação

Em 2024, o Estado contou com mais de 200 empresas exportadoras, 59 de pequenos negócios

O empreendedorismo no Brasil tem apresentado uma tendência crescente nos últimos anos, especialmente com a pandemia da covid-19, com destaque para as mulheres. O crescimento do empreendedorismo feminino tem sido algo notável, representando 34% do total de empreendedores do país no ano passado.
Em 2012, eram 7,5 milhões de empreendedoras, chegando a 9,8 milhões no fim de 2019, pouco antes da pandemia. Já em 2022, após a retomada econômica, voltou a crescer, superando os 10 milhões. Já em 2024, foi alcançado o recorde, com 10,35 milhões de empreendedoras, de acordo com o Relatório Técnico de Empreendedorismo Feminino do Sebrae.

Para este ano de 2025, a tendência é que esse percentual continue aumentando, especialmente com as iniciativas de apoio específicas para mulheres empreendedoras, como o Sebrae Delas, um programa que celebra a diversidade e o poder transformador de cada mulher empreendedora.

Seja à frente de organizações ou na criação do próprio negócio, as mulheres têm desempenhado um papel cada vez mais importante dentro do empreender. E isso tem provado a capacidade de adaptação das mulheres. Inclusive, muitas já estão levando seus produtos para fora do país, como é o caso da Bruna Coelho e da Zanir Furtado. Empreendedoras do interior do Estado que, com o tempo, foram conquistando espaços e hoje exportam parte da produção para outros países.

Foto: Roberta Martins

De Porto Murtinho para o Chile

Uma vez por mês, cerca de 500 peças de pijamas da Bruna Coelho saem de Porto Murtinho com destino ao Chile. A farmacêutica, por formação, começou a empreender quando resolveu tirar do papel o sonho de realizar um casamento no meio do Rio Paraguai. Para ajudar nos custos da festa, Bruna começou a vender lingerie de porta em porta no município de Porto Murtinho, distante 473 quilômetros de Campo Grande.
“Eu comecei com uma mala onde investi R$500 em produtos. Algo despretensioso mesmo. Eu queria arrecadar mais ou menos R$50 mil para pagar esse casamento. E seria algo rápido, e isso era no ano de 2019. Mas, quando começou a pandemia, no ano seguinte, eu já estava com cinco malas. E foi justamente na pandemia que começaram a me pedir muito pijama”, explicou.

Hoje, com sua “privacy label” de pijamas com estampas exclusivas, além da loja em Porto Murtinho, cidade onde criou raízes em Mato Grosso do Sul, quando veio embora de Brasília, a empreendedora abriu um ponto de vendas em um dos shoppings da Capital. “Isso tudo fui conquistando com as vendas dos pijamas. Para ter uma ideia, em 2023 eu já não era mais MEI, até porque o meu volume de compra já não se enquadrava mais”, contou.

Foi neste mesmo período também que a Bruna teve seu primeiro contato com o Sebrae/MS, através da Sala do Empreendedor, em Porto Murtinho. Parceria que a empreendedora mantém até hoje, aliás, foi com a ajuda do Sebrae que os pijamas chegaram ao Chile.

“A exportação, ela se deu início com a Jornada Global, dentro do Sebrae Delas, que foi no ano passado. Durante o ano todo, nós fomos preparadas por consultores especializados em internacionalização. E quando foi em outubro, nós fomos para Iquique, no Chile. E lá foram organizadas rodadas de negócio específicas, onde já tinham compradores interessados pelo produto. E eu tive dois compradores indianos que têm negócios em Iquique”, assegurou.

Em média, são exportadas 500 peças por mês para esses compradores. No total, a produção mensal de pijamas atinge cerca de duas mil peças. Entretanto, essa escala está prestes a crescer, uma vez que Bruna já está prospectando novos países. “Estou fechando com uma trade. Nós já fizemos estudos de mercado e agora nós vamos focar no Paraguai, no próprio Chile, mas especificamente em Santiago, e temos interesse também na Argentina”, finalizou.

De Rio Negro para seis países

Com o mundo da moda sempre presente em seus sonhos, Zanir Furtado criou uma linha de bolsas de luxo que carregam as riquezas do Pantanal. Inaugurada em dezembro de 2020, a marca, que possui indústria própria, surgiu com o desejo da empreendedora de fomentar o desenvolvimento econômico de Rio Negro, cidade natal de Zanir e que fica a 173 quilômetros da Capital.

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

“O objetivo central foi integrar a beleza e a singularidade do Pantanal em produtos que não apenas representassem essa terra rica, mas que também impulsionassem o empoderamento e a transformação social da comunidade local. Descobri nas bolsas uma forma de dar novo significado ao couro do gado pantaneiro, transformando uma matéria-prima nobre em peças que contam histórias. Afinal, uma bolsa vai além do acessório: ela guarda segredos, memórias e a essência de quem a carrega”, definiu.

O Sebrae/MS acompanha a trajetória da empreendedora desde o início. Conforme Zanir, ainda na fase de estudo de viabilidade, aconteceu o primeiro contato. “Lá em Brasília, fui apresentada ao Empretec pela professora Jacqueline de Alcântara, que me desafiou a participar do programa antes mesmo de começar a aprender a desenhar as bolsas. Essa experiência foi um divisor de águas e marcou o início da minha jornada empreendedora com mais clareza e propósito.”

As “joias do Pantanal”, como são chamadas pela empreendedora suas bolsas, ganharam o mundo após dois anos da criação. Neste tempo, até iniciar as exportações, Zanir garante que ficou focada na estruturação, prospecção e no entendimento do mercado. “No segundo semestre de 2021, o CIN (Centro Internacional de Negócios), em parceria com o Sebrae, identificou o potencial da marca e nos convidou a integrar um projeto de preparação para a internacionalização. Foi a partir daí que demos os primeiros passos rumo ao mercado externo”, explicou.

As bolsas de luxo hoje são exportadas para Alemanha, Reino Unido, Chile, Portugal, Paraguai e França. Mas, além das exportações, Zanir já estuda abrir lojas fora do país. “Atualmente, estamos conduzindo um estudo de mercado minucioso para avaliar as melhores oportunidades de expansão internacional. A ideia é, com base nessa pesquisa, introduzir lojas próprias em mercados estratégicos, ampliando a presença da nossa marca e levando a riqueza e a autenticidade dos nossos produtos para o cenário global”, garantiu.

 

Internacionalização: um dos focos do Sebrae/MS para 2025

Em 2024, Mato Grosso do Sul contou com um total de 215 empresas exportadoras, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Desse total, 59 são pequenos negócios – o que inclui MEI (Microempreendedores Individuais), ME (Microempresas) e EPP (Empresas de Pequeno Porte), representando 27,4% do universo de empresas que atuam com exportação no Estado. As demais 156 são médias e grandes empresas. Para este ano de 2025, um dos focos do Sebrae é justamente ajudar o micro e pequeno empreendedor a alcançar o mercado estrangeiro, com o objetivo de ampliar a competitividade. E um dos pilares é a expansão de fronteiras, por meio de programas como o Sebrae Delas e o novo Programa de Internacionalização em parceria com a ApexBrasil, previsto para alcançar até 100 empresas neste ano.

Foto: Divulgação

E para que o produto seja exportado, o empreendedor precisa estar preparado para o mercado internacional. E esse processo de internacionalização, com o apoio do Sebrae, envolve, justamente, a preparação e execução de estratégias para que micro e pequenas empresas possam expandir seus negócios para fora do país. Esse caminho, feito de forma gradual, abrange desde a definição de metas e objetivos até a implementação de ações específicas para alcançar o sucesso. “Primeiro, existem algumas questões fiscais, algumas questões de padrões que as empresas precisam trabalhar. Elas precisam também ter um preparo de estoques, preparo operacional básico. Se a gente vai ter uma demanda internacional, ele tem que ter um preparo de estoques. E também, muitas vezes, ele passa por uma adequação de embalagens, uma adequação de portfólio”, explica a gerente da Unidade de Competitividade e Inovação do Sebrae/MS.

E por falar em mercado estrangeiro, Mato Grosso do Sul será a porta de entrada da Rota Bioceânica no país. O corredor logístico que visa ligar os oceanos Atlântico e Pacífico, passando por Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, será um dos caminhos para os empreendedores que querem alcançar novos países. “A rota bioceânica é o grande barco que abre as possibilidades do Mato Grosso do Sul para o mundo. A gente tinha uma posição estratégica nesse mapa. Com a Rota, a gente passa a ter uma outra posição. Então, a gente tem realmente uma possibilidade de intensificar esse comércio internacional”, assegurou Isabella.

Da ações voltadas especificamente para o público feminino, dentro desse processo de internacionalização, o Sebrae/MS desenvolveu ano passado uma jornada internacional no Sebrae Delas. A missão levou as empresárias para região de Tarapacá, ao norte do Chile. “Fizemos essa missão, no final do ano passado, dentro do Sebrae Delas. E hoje, são empresárias que já têm, boa parte, um preparo, conhecimento. Porque, quando falamos de internacionalização, de país em país, vamos ter barreiras diferentes e elas já conhecem algumas dessas barreiras, principalmente de países da América Latina. Algumas já estão conseguindo efetivar algum trabalho de exportação. Outras ainda estão fazendo adequação de embalagens, adequação de portfólio. Estão fazendo alguns preparos em relação ao produto”, afirmou Isabella Montello, gerente da Unidade de Competitividade e Inovação do Sebrae/MS.

Por Rafaela Alves

 

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