Declaração de imposto aumenta em 30% serviços de contadores

contador
Foto: Marcos Maluf

Com alta demanda, profissionais lucram e incrementam finanças 

A cobrança anual da Receita Federal, a DIRF (Declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física), é um dos pontos essenciais para a economia da Capital sul-mato-grossense, entre os meses de março e maio. Isto porque, não só como forma de reter impostos, a exigência ainda se torna fator positivo para profissionais do meio contábil, que veem a demanda de trabalho aumentar e os lucros subirem pelo menos 30%, de acordo com o cálculo feito pela reportagem do jornal O Estado, a partir dos valores obtidos através dos profissionais do setor presentes nesta publicação.

O presidente do Sescon/ MS (Sindicato das Empresas e Serviços Contábeis de Mato Grosso do Sul), explica que no escritório de sua propriedade, o Contábil Cronos, a demanda aumenta em pelo menos 25%, mas que esse resultado varia de acordo com a empresa, com o marketing, a localização e as maneiras de trabalhar de cada escritório e profissional. “Hoje o maior ponto positivo é o incremento financeiro e o maior ponto negativo é [o fato] de que as pessoas não têm o hábito de guardar os documentos para apresentar todos os necessários e fazer uma declaração correta”, esclarece o presidente.

Segundo a contadora, Rose Maia, 40, o período é muito bom, porque a demanda aumenta não só por conta das declarações de imposto de renda, como também surge a necessidade de muitos empreendedores, de regularizar a situação jurídica e tributária. “Temos uma demanda extra com as entregas do IRPF, e além disso, é uma época que muitas pessoas que estão trabalhando de forma irregular, buscam pela abertura de novas empresas e ganhamos com isso também. [O lucro] depende muito da demanda de trabalho, que varia ano a ano, mas tirando como base o último [2023], aumentou 30%”, relata Maia, que argumenta ainda, que embora o período seja positivo, jamais conta com o dinheiro que ainda não ganhou, por uma questão de segurança financeira.

Um dos pontos essenciais que Maia destaca também como profissional, é o cuidado com a “picaretagem” no setor por parte de alguns profissionais. Conforme avalia, muitas vezes, em busca de um valor mais baixo, a pessoa contrata o serviço por um custo menor, mas o profissional não garante a qualidade e a entrega correta. “Não existe uma tabela de valores de honorários. Com isso, tem colegas, que pegam uma alta demanda por cobrarem um valor bem pequeno e acabam não oferecendo um serviço de qualidade. As pessoas que estão em busca de um profissional para declarar seus impostos, precisam tomar cuidado na escolha”, alerta a contadora.

Outro ponto para os profissionais do setor que também demanda maior atenção, são, além das leis, os prazos a serem cumpridos à risca, sob pena de aplicação de multas de valores altos. Para o sócio da 2A Contabilidade e Assessoria, Adriel Henrique Fagundes, 43 anos, há pelo menos 30 no segmento contábil, a falta de celeridade e dinamicidade do sistema da Receita Federal, interfere no andamento dos atendimentos.

“Até o momento, a Receita Federal não divulgou as novas orientações para a entrega da DIRPF referente ao exercício de 2024, eis uma das questões que impactam o andamento dos trabalhos do contador nesta época, visto a demora em publicar normas e liberar acesso ao programa. No meu ponto de vista, seria mais eficaz adotar um programa único e acessível ao contribuinte ao longo do ano, possibilitando atualizações contínuas offline, desse modo, na época da entrega do IR, o processo se resumiria à verificação final e apresentação à Receita Federal”, argumenta o profissional.

A entrega da declaração permanece, até o momento, com os critérios estabelecidos no exercício de 2023, com base no ano de 2022, ou seja, os contribuintes que atendem a requisitos como rendimentos superiores a R$ 28.559,70, recebimento de rendimentos isentos ou tributáveis exclusivamente na fonte acima de R$ 40.000, movimentação na Bolsa de Valores acima de R$ 40.000, posse de bens de valor superior a R$ 300.000, receita bruta anual acima de R$ 142.798,50 de atividade rural e estrangeiros que se mudaram para o Brasil em 2023 e permaneceram até 31 de dezembro são obrigados a realizar a entrega da DIRPF em 2024.

Conforme pontua Fagundes, é essencial a organização da documentação durante o ano anterior à declaração. Afinal, um dos pontos mais sensíveis quando o assunto é a declaração, está nessa organização da papelada. “No que diz respeito ao aumento específico na demanda, que resulta em maior fluxo e perda de tempo, identificamos que a demora e desencontro nas informações e documentos entregues constituem um desafio significativo. Por essa razão, todos os nossos clientes são orientados ao longo do ano anterior a nos consultar antes de tomar qualquer decisão que possa impactar sua DIRF”, destaca o contador.

Chance para lucro aumentar

A contadora aposentada da Receita Federal, Arifa Machado, 62, explica que este ano pretende manter somente os clientes que já atende. Para adiantar o trabalho, ela está deixando toda a documentação semipronta, a fim de não perder nenhum prazo. Machado argumenta que o valor já é algo esperado nas finanças, já que seu lucro aumenta mais de 100%. Além do trabalho de declaração, ela também costuma “consertar” o erro de outros profissionais. “O que preciso comprar, como, por exemplo, móveis, reforma e troca de carro, eu me programo para os meses de março a maio. Após o mês de maio, eu ganho ainda com declarações e consertando erros que foram feitos por pessoas que entregaram a declaração para fazer ‘bem baratinho’ e sem o conhecimento da legislação tributária”.

Machado, que atua na área há pelo menos 40 anos, explica que a tecnologia foi essencial para trazer facilidades na vida do contador, já que hoje existe a liberdade do home office e a solução de problemas sem precisar se deslocar até a receita federal, junta comercial, ou prefeitura. “Está tudo muito fácil, antes tínhamos que estar muito e fazer muitos cursos de aperfeiçoamento e hoje está tudo na mão. No passado, para abrir uma empresa, o contador ficava dois dias na rua, indo até a prefeitura, receita, junta, aos bombeiros e hoje não, está mais fácil, apesar de ter que continuar se atualizando. Antigamente era muito suado o trabalho de contador”, relembra.

O perito contábil e responsável técnico da empresa AP Contabilidade & Perícia, André Porto, explica que o período é positivo, porque o contador sempre ganha um extra. Conforme pontua, a demanda de clientes pessoa jurídica), mas a demanda com pessoas físicas, se torna bastante relevante, mas em sua avaliação, apesar de ser um a mais nas finanças, se colocado na balança o trabalho em comparativo com o retorno financeiro, a remuneração não se mostra tão significativa.

“É curioso que na realidade, apesar de ser um ‘a mais’, eu acho que a relação de trabalho [em vista do] retorno financeiro nem é das melhores. Porém, tem algo a mais por trás disso, que é a confiança e segurança que as pessoas depositam em nosso trabalho para fazer o imposto de renda. Eu gosto de atender as pessoas e ajudá-las a ter tranquilidade e segurança ao declarar”, esclarece o profissional, que aponta um faturamento maior de pelo menos 35% na área contábil.

Ainda em avaliação do setor, Porto esclarece que a quantidade de microempreendedores individuais cresceu bastante nas demandas de trabalho. Em seu parecer, há na atualidade, uma tendência à terceirização de serviços, que pode ser explicada inclusive, pela taxa de desemprego crescente dos últimos anos.

“Muitas pessoas buscaram outras alternativas. Acredito que em boa medida, ainda em decorrência da pandemia. Muitos setores da economia sofreram bastante nesse período. Existem pessoas que me procuram para fazer cálculos de salário comparando se elas recebem como PJ ou como CLT. Isso [denuncia] o reflexo de uma tendência de mercado. As empresas estão dispostas a contratar essas duas formas, especialmente se tratando de serviços desempenhados no home office”, explica.

Por Julisandy Ferreira.

Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.

Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook Instagram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *