O cartão de crédito, que por anos foi símbolo de conveniência e poder de compra, tornou-se também o principal elo de uma dependência financeira silenciosa entre as famílias de Campo Grande. A mais recente edição da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, elaborada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio) em parceria com a Fecomércio-MS, mostra que o uso do crédito segue alto e continua a comprometer boa parte da renda familiar na Capital.
Em outubro, 65,4% das famílias relataram ter dívidas, um índice praticamente estável em relação a setembro (65,2%). Embora o cenário não tenha piorado, o dado revela que o endividamento segue em patamar elevado e persistente, mesmo com indícios de melhora no ambiente econômico.
Entre os tipos de dívida, o cartão de crédito é o principal vilão e aliado ao mesmo tempo — presente na vida de 68% dos consumidores endividados. Em seguida aparecem os carnês de loja (19,3%) e os financiamentos habitacionais (11,8%). O levantamento também destaca o financiamento de veículos (11,6%), o crédito pessoal (9,9%) e o crédito consignado (7,9%).
A pesquisa aponta ainda que 44,9% das famílias estão com contas em atraso, e 29,4% têm dívidas já vencidas. O tempo médio de atraso é de 69 dias, e o comprometimento médio da renda familiar com dívidas chegou a 28,7%. Para 52,7% dos entrevistados, as parcelas consomem entre 11% e 50% do orçamento mensal, enquanto 10,2% declararam que mais da metade da renda vai apenas para o pagamento de dívidas.
O dado mais preocupante, contudo, é que 46,3% dos endividados afirmam não ter condições de quitar suas obrigações no próximo mês. Além disso, 35% dos entrevistados estão endividados há mais de um ano.
Análise econômica
Para a economista Regiane Dedé de Oliveira, do Instituto de Pesquisa da Fecomércio-MS, a estabilidade do endividamento e a leve redução da inadimplência mostram uma recuperação gradual do poder de compra, impulsionada pela retomada da renda e pelo comportamento mais cauteloso do consumidor. “A melhora é importante para o comércio local, especialmente neste último trimestre do ano, quando o consumo tende a crescer”, afirma.
Ainda assim, Regiane pondera que a recuperação é desigual. “Quase metade das famílias continua com dívidas em atraso, o que mostra que o alívio é tímido e exige maior atenção ao planejamento financeiro. O cartão de crédito, quando mal administrado, transforma-se em uma extensão da renda, mas com custo elevado”, alerta.
Por Djeneffer Cordoba