Fatores como crises climáticas e política internacional estão interferindo na mudança de valores
Comprar grãos em supermercados ou fazer uma pausa para tomar um café em restaurantes e estabelecimentos tem se tornado cada vez mais caro. O produto muito consumido pela população brasileira tem se tornado o novo alvo da inflação. De acordo com dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgados pelo IBGE, o preço do café subiu em média 39,60% no ano passado. Ainda de acordo com a pesquisa realizada este mês, o café registrou o segundo maior aumento de preços na prévia da inflação. Com uma elevação registra em 7%, o café ficou atrás apenas do tomate, que apresentou um aumento de 17% entre a segunda quinzena de dezembro e a segunda quinzena de janeiro.
Com cafés custando entre R$ 2,0 e R$ 4,0 reais, a gerente da Chipas Maximo Randa, Elika Maria Rachid afirma que tem observado o aumento nos preços e que isso afeta na visão dos clientes sobre os estabelecimentos. “Quando os custos sobem, é necessário reajustar os preços. Mas isso acaba prejudicando o comércio, pois muitos clientes acham que não compensa pagar os preços mais altos e reclamam bastante, dizendo que, embora os preços subam, os salários não acompanham a mesma velocidade”.
A gerente explica que para conter o aumento e manter os clientes, a maneira mais adequada é realizar pequenos reajustes. “Tentamos reajustar os preços de maneira mais comedida, não aumentando muito de uma vez. O nosso patrão, por exemplo, tenta fazer pequenos aumentos, como 25 ou 50 centavos, para não perder clientes. Mesmo sem um grande retorno financeiro, ele prefere não aumentar tanto para manter a clientela”, comentou.
O proprietário da Chiparia das Bandeiras, Manoel Alves Coutinho, explica que em quatro anos trabalhando com vendas de café no estabelecimento, somente agora tem sentido um aumento significativo nos preços. “As vendas têm caído a cada dia. Eu acredito que quem realmente gosta não vai deixar de tomar, mesmo com o aumento. Mas para quem não tem muito dinheiro e, às vezes, passa pelo estabelecimento, o aumento pode afastar essas pessoas. Tem muita gente que passa aqui e pede um café por R$ 1,00, mas infelizmente a gente não tem mais esse valor”, pontuou.
O proprietário ressalta que tem observado uma queda nas vendas nos últimos meses, com uma diminuição na procura por parte dos clientes. “Antes, vendíamos cinco garrafas de café de 1,8 litro por dia. Agora, estamos vendendo quatro, e, em alguns dias, sobra até uma garrafa. A movimentação caiu, apesar de estarmos em uma localização movimentada. As pessoas estão deixando de consumir”, lamentou.
Visão do economista
O economista Eduardo Matos explica que desde o ano passado o café está passando por uma expansão contínua em seus preços, com fatores que se devem com grande influência do mercado internacional. “A produção brasileira de café, abastece praticamente o mundo todo, pois o volume brasileiro é alto e as condições de solo e clima são favoráveis para a planta. Há muitos anos, um competidor que surgiu para dividir este mercado com o Brasil, foi do Vietnã, no entanto, as crises climáticas (que também afetaram a produção do grão brasileiro), praticamente desolou o plantio de café vietnamita, fazendo com que o mundo dependesse única e exclusivamente do café brasileiro”.
Em sua análise, com o aumento da demanda pelo grão do país e a produção igual, os produtores lidam as diferenças elevando os preços. “Uma regra básica de oferta e demanda. A demanda externa forte e, somado ao fator dólar valorizado, temos um caso que o preço em território nacional deve ser demasiadamente alto para que os produtores optem por manter o produto em solo nacional em detrimento da exportação”, afirma o economista.
Por João Buchara