Volume de chuvas em outubro está 62% acima do esperado na Capital

CHUVA
VALENTIN MANIERI

Mudanças climáticas e o desmatamento podem ampliar incidência de raios, apontam especialistas

Após um longo período de estiagem, o mês de outubro proporcionou uma mudança nesse cenário. Somente neste mês, o volume de chuvas ultrapassou 150 milímetros em quase todas as regiões do Estado, encerrando uma estiagem prolongada. Campo Grande está com 62% de chuvas acima da média, com 217,4 milímetros para 134,2 mm esperados. 

Além da Capital, o meteorologista Natálio Abrahão informa que Coxim, Ponta Porã, Três Lagoas, Rio Brilhante, Bataguassu e Ivinhema também registraram volume de chuvas acima do esperado para o mês de outubro, todas passando 130 milímetros. Até o momento, Campo Grande ocupa o segundo lugar, com média de 217,4 mm, ao passo que Ponta Porã registra 287,6 mm. O meteorologista comenta que, apesar do volume observado, é esperado que outubro apresente “um alto volume de chuvas, mas já houve anos abaixo”.

1 milhão de relâmpagos

O último fim de semana foi marcado por tempo severo, com chuvas contínuas em diversos municípios e tempestades intensas em Mato Grosso do Sul. 

O professor de Física da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) Widinei Alves Fernandes informa que mais de 75% das descargas ocorrem ao longo do ano e são predominantes no verão e na primavera.

A incidência de raios no Brasil este ano subiu quase 80%, quase dobrou. Segundo especialistas, mudanças climáticas e desmatamentos podem estar entre as causas. O clarão no céu assusta, e muitas vezes a queda de raios causa mais do que medo. Os raios vêm acompanhados de grandes tempestades, que ameaçam a rede de energia elétrica. Quantos postes foram danificados em MS?

De acordo com o coordenador do Elat, a ação humana pode influenciar nesse fenômeno. “O desmatamento modifica a estrutura do solo, modifica a circulação do ar, do vento e tende a intensificar as tempestades. É claro que tempestades mais fortes provocaram mais raios. Então esses desmatamentos estão, sem dúvidas, ligados aos aumentos expressivos que nós estamos vendo.” 

Enquanto isso, Rio Paraguai chega a 1 cm da seca recorde

Se por um lado a Capital contabiliza bons resultados com as chuvas dos últimos dias, a estiagem severa que afeta o Pantanal atinge seca histórica. Tudo isso em razão de que o Rio Paraguai registrou o segundo menor nível em 121 anos de medição, na cidade de Ladário-MS. A seca histórica praticamente inviabilizou a navegação de grandes embarcações, que escoam minério e outros produtos da região.

No último dia 16, a estação de Ladário, 426 km a oeste de Campo Grande, marcou -60 cm. Desde 1900, o nível do Rio Paraguai só esteve mais seco em setembro de 1964, quando chegou a -61 cm. A informação é do Centro de Hidrografia e Navegação do Oeste, da Marinha.

Os valores negativos das medições se devem ao fato de a primeira régua instalada em Ladário, há 121 anos, acabar fora da água em períodos de nível baixo. Na época, estimou-se que o nível não desceria mais do que aquele valor, mas isso aconteceu já alguns anos depois, em 1910.

“São quase três anos sem o transbordamento do Rio Paraguai, o evento clássico da região”, afirma o pesquisador Marcelo Henriques, do SGB/ CPRM (Serviço Geológico do Brasil), órgão do governo federal responsável pelo monitoramento da vazão dos rios.

Com o início do período de chuvas neste mês, o SGB projeta uma tendência de estabilização seguida de elevação do nível da água na maioria das estações de medição ao longo das próximas semanas. Nesta sexta-feira (22), o nível do Rio Paraguai estava um pouco mais alto em Ladário, -55 cm.

Há incertezas, no entanto, sobre o volume de chuvas para os próximos meses. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, órgão do governo americano, estima que há 87% de chances de que o fenômeno La Niña (resfriamento das águas do Pacífico) continue entre dezembro e fevereiro de 2022. Para o Brasil, isso deve significar mais chuvas no Norte e menos precipitação no Sul. (Com Fabiano Maisonnnave-Folhapress)

CUIDADOS

Em informações disponibilizadas pelo Elat (Grupo de Eletricidade Atmosférica), Mato Grosso do Sul está entre os estados com mais mortes por incidência de raios, com 138 vítimas entre 2000 e 2019. Entre as circunstâncias da fatalidade, 26% estão ligadas à área rural, com 66% correspondendo à agropecuária e 34% a atividades na área rural não identificadas. 

Durante as tempestades intensas, o professor reforça a importância em considerar os cuidados que precisam ser mantidos para evitar acidentes envolvendo as descargas elétricas, em locais onde não é possível procurar abrigo.

“Na área externa, não existe nenhum lugar seguro para ela ficar, mas existem lugares mais perigosos, que são aqueles perto de árvores, principalmente as isoladas, porque elas se tornam um ponto de destaque na vizinhança, então aumenta as chances de uma descarga vir a ocorrer nessa árvore e atingir a pessoa de forma direta. Próximo de grandes estruturas ou qualquer área isolada a pessoa está correndo riscos. O que ela deve fazer é procurar um abrigo dentro de qualquer estrutura fechada ou dentro de um veículo fechado e lá ela estará segura em relação aos raios. Assim que ela ouvir o trovão, esse trovão foi uma descarga que ocorreu no máximo há 20 km, então quer dizer que ela já está exposta às descargas e deve procurar abrigo”, explicou.

Mesmo assim, o professor pontua que também é preciso manter a atenção para quem está no interior de residências, já que as descargas elétricas também podem provocar riscos para a população. 

“Quando a pessoa estiver dentro de uma residência, ela não pode dar caminho para as descargas atingirem ela. Não ficar em contato com nenhum equipamento elétrico que esteja conectado à rede elétrica, ou seja, se a descarga ocorreu na rede elétrica, na linha de comunicação, pode chegar até quem esteja em contato com o equipamento elétrico. Então, durante uma tempestade, evite contato com equipamentos que estejam ligados à rede elétrica. Não dê condições para que a descarga possa chegar até você, mesmo dentro desses abrigos. E evite tomar banho também nesses períodos”, finalizou. (Isabela Assoni)

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