Preservação da “Rainha do Pantanal” é feita por voluntários

Objetivo une especialistas e comunidade em prol das onças

Após inúmeros incêndios que ocorreram na região do Pantanal, muitos deles que culminaram com a morte de vários animais de espécies diferentes, ainda é possível ver pessoas conscientes da necessidade de cuidar e preservar os animais silvestres da região, principalmente as onças-pintadas que habitam no Pantanal da Nhecolândia, em Aquidauana. Proprietários das fazendas Barranco Alto e Vera Lúcia uniram forças com médicos-veterinários especializados no cuidado e monitoramento desses animais para garantir que eles sejam conservados. Atuando desde 2015 como voluntários, o casal de médicos-veterinários Thyara de Deco, 35, e Gediendson Ribeiro, 38, coordenadores científicos do projeto, contaram para a equipe do jornal O Estado como funciona o trabalho de preservação apoiado em tecnologia e quais os gargalos que o projeto enfrenta diariamente.

Thyara explica que as iniciativas para preservação acontecem em diversas frentes. “Idealizamos várias ações, nem todas estamos conseguindo executar da forma como gostaríamos, mas basicamente são: estudar a população de onças, tanto por armadilhas fotográficas quanto por coleiras de sinal, para assim avaliar os aspectos comportamentais, alimentação, e ver também a predação e qual é a alimentação preferencial delas. Além disso, desenvolvemos ações voltadas para a educação ambiental para a população, o que fazemos é uma orientação não tão formal, por meio da promoção de ações junto com a população, e então aproveitamos para ter um bate-papo informal com a população, pois assim a gente viu que dá mais certo”, conta.

Voluntários e de coração aberto, a equipe de coordenação conta com aproximadamente seis profissionais de diferen-tes áreas. A especialista conta que ganha ainda o apoio de guias turísticos e trabalhadores das proximidades num estilo de trabalho de formiga, em que o coletivo se une em prol do bem maior: preservar as “Rainhas do Pantanal”.

“O projeto conta com voluntários e o pessoal das fazendas próximas, que nos apoiam; e alguns também são da área de agronomia e biologia. Além disso, temos um pessoal de economia, amigos que nos fazem pensar de outras formas. Também temos uma orientanda de mestrado da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) que acaba participando de algumas ações, e um estudante pós-doutorado, que em paralelo participa de algumas ações. Mas devemos agradecer também aos guias turísticos, pois o grupo, toda vez que visualiza algum animal, passa a localização para a gente e para os funcionários das fazendas próximas que atuam ativamente conosco”, pontua.

Como funciona o monitoramento?

É certo que você já viu algum programa que usa imagens de câmeras espalhadas na natureza para flagrar os animais em situações do cotidiano. Pois é, essa tecnologia também é usada por aqui. Após dificuldades de manutenção e problemas técnicos, boa parte das coleiras de rastreamento instaladas nas onças da região já não funciona, mas, mesmo assim, a tecnologia possibilitou que câmeras, denominadas “câmeras trap”, ou armadilhas fotográficas”, funcionem como os “olhos dos pesquisadores”.
“O monitoramento que a gente faz deles hoje é por visualização, tanto por armadilhas fotográficas quanto por relato de guias turísticos. O monitoramento é bem mais visual, o monitoramento nada mais é do que armadilhas fotográficas, câmeras fotográficas que possuem um sensor e quando passa algum animal, ou ela sente o movimento, imediatamente captura uma fotografia, ou um vídeo de pequena duração. Atualmente temos 15 câmeras espalhadas, é um número pequeno, mas estamos buscando fundos para aumentar essa quantidade”, explica a dupla.

Orgulhoso, Gediendson, pesquisador da UFMS, que participou do resgate da onça-pintada no Jatobazinho, que hoje está na Fazenda Caiman, relembra os passos já dados pela iniciativa. “Conseguimos calcular a área de vida desses animais que conseguimos recuperar e vamos mandar o material para a parte de genética, mas o que vimos foi a área de vida graças aos dados obtidos em 2017, por meio da coleta de informações registradas pelas coleiras de rastreamento”, explica.

Os trabalhos continuam e o sonho de vencer alguns gargalos é o que motiva a todos os envolvidos no projeto. Segundo o pesquisador, a falta de recurso é uma barreira que precisa ser vencida.

“Hoje para nós um grande gargalo que temos é a falta de recurso para pesquisa, já que com eles teríamos mais coleiras, câmeras, além de possibilitar ter profissionais atuando no campo. A falta de recurso para a pesquisa a campo, isso acaba que atrapalha não só no nosso trabalho, mas quase todos os outros projetos de conservação, o fator limitante é a falta de recurso”, lamenta.

Uma iniciativa linda merece todo o nosso apoio, afinal uma das belezas que mais chamam atenção no nosso bioma é a da onça-pintada. Se você ficou interessado no trabalho dos pesquisadores e pensa em contribuir de alguma forma, pode entrar em contato pelo perfil deles no Instagram @oncasrionegro.

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