Prefeitura tenta destravar expansão de ciclovias com novos editais

Foto: Nilson Figueiredo
Foto: Nilson Figueiredo

Moradores e ciclistas comemoram o anúncio das obras

Após anos de lentidão e descontinuidade nos projetos cicloviários, Campo Grande deve ganhar novo capítulo voltado à mobilidade ativa. A Prefeitura de Campo Grande prepara três editais específicos para a implantação e requalificação de ciclovias, somando cerca de R$7 milhões em investimentos garantidos. A promessa é interligar trechos desconectados, melhorar a sinalização e ampliar as rotas seguras para quem usa bicicleta na Capital.

Segundo o secretário municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos, Marcelo Miglioli, os editais estão em fase final e devem ser publicados em breve. “Acreditamos que com esses três processos licitatórios vamos conseguir avançar bastante. Já temos os recursos garantidos, agora é questão de licitar e executar”, afirmou.

De acordo com a diretora-adjunta da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), Andreia Luiza Torres de Figueiredo da Silva, entre os projetos previstos está a construção de um trecho de 1,2 km no entorno da Feira Central, que vai se conectar à ciclovia existente na região da saída para Cuiabá e também à Avenida dos Cafezais. Outro edital prevê obra de conexão entre a Avenida Cônsul Assaf Trad e a Rua Desembargador Leão Neto do Carmo, passando pela Nossa Senhora do Bonfim, totalizando R$1,5 milhão em investimentos.

Moradores da região da Avenida Nossa Senhora do Bonfim, uma das vias que deve ser contemplada com obras de ciclovia em Campo Grande, relatam situações de risco envolvendo ciclistas e pedestres, e veem com bons olhos o projeto de construção da estrutura.

Lídyani Gondin, que mora há cinco anos na avenida, diz que o fluxo de bicicletas é constante, sobretudo nos fins de semana. “É bem movimentado aqui, principalmente no horário de pico. Tem muito ciclista que passa por aqui, tanto para lazer, quanto para ir para o trabalho. E também muita criança que anda de bicicleta, ainda mais no final de semana”, relatou. Ela reforça que a construção da ciclovia seria bem-vinda pela comunidade. “Seria muito bom. O pessoal pede muito essa ciclovia”, afirmou.

Quem também vive a realidade do trânsito intenso na região é a moradora e empresária Helena Lopes, que há 20 anos reside no local. Ela lembra que a ausência de infraestrutura já provocou acidentes. “Já aconteceram muitos acidentes de bicicleta. Teve uma menina que foi atropelada ali, o carro bateu nela”, contou. “É muito perigoso aqui, difícil de chamar a atenção dos motoristas. Quem sabe, com a ciclovia, não diminui um pouco isso”.

Além dos moradores, ciclistas que passam frequentemente pela avenida também destacam o risco de trafegar na via. A ciclista profissional Theura Flores diz que por conta da insegurança precisou mudar seu trajeto.

“Essa via tem muito fluxo de carros, principalmente nos horários de pico. Nós, ciclistas, sentimos falta da ciclovia, tanto pela segurança, quanto pelo espaço. Mesmo andando ao lado da calçada, corremos muito risco. Eu mesma quase sofri um acidente, porque os carros passam muito perto. Temo pela minha vida ao andar nessa avenida”, relatou. “Até optei por fazer outro caminho, com menos movimento, principalmente se estou com criança”.

Ela comemora o anúncio da obra e diz que os pedidos pela estrutura são antigos. “Pedimos muito por isso aqui nessa região. Nos finais de semana, vamos para o Parque dos Poderes, então passamos direto por aqui, além de irmos para outros lugares. Esses trajetos também carecem de estrutura”, completou.

Além disso, está prevista a requalificação da ciclovia da Avenida Cônsul Assaf Trad, com melhorias na sinalização e conexão com a ciclovia existente ao lado do CEASA. A Avenida Nely Martins e a rua Luiz Alexandre também estão incluídas no pacote de requalificação. “Vamos fechar um elo cicloviário importante na cidade, conectando trechos e dando mais segurança para quem pedala”, destacou Andreia.

Os novos projetos são específicos para ciclovias e independem de outras obras viárias. No entanto, a cidade também tem aproveitado intervenções estruturais maiores para incluir rotas cicláveis. Um exemplo é a requalificação da Avenida Lúdio Coelho, já licitada, que incluirá ciclovia até a região da saída para Aquidauana. “Em todas as grandes obras, estamos integrando ciclovias. É uma mudança de cultura na forma como planejamos a mobilidade”, disse a diretora-adjunta.

Do montante final, a diretora revela que sobrou um valor e que já há uma outra obra em estudo para investir. “Sobrou recurso de uma obra remanescente, que vamos utilizar para a implantação de ciclovia na Rua Zulmira Borba, no Nova Lima. Com isso, teremos o fechamento de uma conexão cicloviária importante na cidade”.

Apesar do avanço, a malha cicloviária de Campo Grande ainda enfrenta diversos problemas. Trechos que começam e terminam abruptamente, ausência de sinalização e falta de manutenção colocam em risco quem depende da bicicleta para se locomover. Em vários pontos da cidade, ciclistas relatam insegurança, principalmente em cruzamentos sem qualquer estrutura voltada à travessia segura.

A Capital trabalha na ampliação das ciclovias há quase duas décadas. Em 2005, a cidade contava com apenas 24 km. Esse número chegou a 86 km em 2012 e avançou para 110 km em 2024, conforme dados da prefeitura. A última obra entregue foi a de 1,2 km na Avenida Gury Marques, ligando a Avenida dos Cafezais com a Rua Buenópolis, acesso a bairros como Moreninhas, Santa Felicidade e Nova Jerusalém.

Apesar de o Plano Diretor de Mobilidade Urbana prever uma rede integrada de ciclovias, com conexão aos terminais de ônibus, bicicletários e travessias seguras, o que se vê na prática são trechos isolados e pouco funcionais. Desde a aprovação do plano em 2015, Campo Grande acrescentou apenas cerca de 24 km à malha. Com os novos editais e a promessa de integração, a prefeitura tenta dar uma resposta às críticas de abandono e fragmentação da rede.

Por Inez Nazira

 

Confira as redes sociais do Estado Online no Facebook Instagram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *