Ovando crava: a onda Bolsonaro não passou e seguirá em 2020

Parlamentar cita que o melhor para o PSL seria Bolsonaro assumir a sigla

Às vésperas do primeiro teste eleitoral depois de ser escolhido presidente do Brasil, Jair Bolsonaro procrastina. É como define, inclusive, um amigo seu, eleitor do 17 e deputado federal por Mato Grosso do Sul desde 2019. Luiz Ovando, com a mais absoluta sinceridade que o conduziu ao destaque político atual, não poupa essa crítica ao chefe da nação.
Mesmo reconhecendo que há sucessos e progressos no curto prazo, ele alerta que no PSL falta visão, algo que pode oferecer “grande risco à direita brasileira”. Ovando destaca ainda que esse problema é crônico, latente, e sistêmico ao partido, que possui hoje a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados e também quatro senadores. Quanto a Mato Grosso do Sul ele vê a mesma coisa.
Todavia, na serenidade dos seus 70 anos, Luiz Ovando aponta uma solução prática para essa dificuldade da sigla e da ala política que sobressaiu ao “esquerdismo” no último pleito: a mudança no comando do PSL. De acordo com o parlamentar o Presidente da República também deveria ser o presidente da legenda e assim também definir os rumos estratégicos do partido. “O que está acontecendo com o PSL são ambições exageradas sem humildade, sem tolerância, sem condescendência e sem visão. As pessoas estão ávidas para entrarem para o PSL. E infelizmente, a gente tem muito pouco a dizer porque o partido está em conflitos. Arrisco dizer que isso é culpa do presidente. Quer queira, ou não, ele assumiu uma posição que se reflete no PSL. Ele não quer saber do partido e está equivocado”, fala Ovando. Entretanto o deputado avisa que há tempo de se reverter isso, e até de se eleger um novo prefeito de Campo Grande ligado a essa sigla. (Colaborou Danilo Galvão)

Médico Luiz Ovando fala do jogo político, das próximas eleições, e o mandato no Congresso em defesa da vida

Por Rafael Belo

O Estado – Como o senhor ver a repercussão dos fatos atuais do Brasil na política?
Ovando – Eu estou vendo com uma certa naturalidade. Depois de um certa idade a gente vai conhecendo o ser humano e de uma maneira geral pessoas decepcionam . As pessoas são muito falhas. E você não conhece as pessoas. Ninguém tem o privilégio de conhecer as pessoas por completo. Eu digo isso, inclusive como médico. Por exemplo, um ex-Procurador Geral da República dizer que mataria um pessoa, e depois se mataria , com tudo planejado? Imagina duas pessoas de destaque nesse episódio, e um assassinato na principal corte do país? Parece até ficção refletir disso. A gente desconfia há muito tempo de como o mundo do poder tem seus absurdos, mas tem hora, que revelações assim, totalmente fora do normal, chocam. Não há homem justo. Esta é a questão. E há coisas escusas, não poucas, por isso houve tanta renovação na política recentemente.

O Estado – Qual a sua visão de política, agora de dentro de um mandato, e já no Congresso Nacional?
Ovando – Para responder essa pergunta vale recorrer a duas coisas. Uma delas é a passagem de Eclesiastes 7:20, na qual se diz “contudo não existe um homem tão justo sobre a face da terra que saiba fazer o bem sem jamais pecar! A outra, faço questão de mencionar uma notícia que tomou todos de surpresa, que foi essa do (Rodrigo) Janot. Mesmo sem acontecer, o que foi revelado já se transformou em um escândalo, porque expõe fissuras da nossa República. Foi um escândalo sem tragédia. Se acontecesse teria uma repercussão dramática ao país. Todavia, ficaria claro a todos o que acontece de real nos bastidores, e todas as barreiras que impedem o Brasil de se desenvolver. Eu na minha atuação, e sabendo como Brasília é, não espero, faço e exerço sobretudo a minha convicção, pois foi pra isso que me escolheram. Quando posso faço a diferença e não espero que me convidem aos espaços em que eu tenha como atender a esse propósito. Eu simplesmente me apresento e trabalho.

O Estado – Porém, se não há “homem justo”, como fazer para que a sociedade seja mais justa, e que se vença distorções hoje aparentes a vários setores, por conta da corrupção ou descaso de políticos? O senhor, que é alguém escolhido para a mudança, já chegou a se sentir no Congresso Nacional um “corpo estranho”?
Ovando – Sendo médico, sei bem o que significa um corpo estranho, ou que fosse na analogia um radical livre. Pra mim, o principal, e o necessário, é o que preserva a vida. Esse é a minha maior luta, na política, na medicina ou como cidadão. Eu estou no mandato de deputado federal para preservar vidas, e faço isso diariamente. Como se preserva a vida? A natureza ensina que isso acontece primeiramente pelo equilíbrio de forças. Eu tenho condição de ajudar, são 44 anos de trabalho pela saúde, professor universitário, com serviços prestados à Santa Casa, com atuação em Hospital Militar , além de ser um cidadão preocupado com a minha cidade, o meu Estado e o meu país. Se eu tenho experiência e noção técnica, fica por conta da iniciativa, e não irei pecar por isso. E eu não posso me furtar diante da expectativa que me foi colocada, ou a expectativa que também tenho em servir o Brasil.

O Estado – A onda Bolsonaro elegeu o senhor? É um fenômeno que já passou ou deve ainda fazer muito barulho nos próximos anos?
Ovando – A onda Bolsonaro ajudou a me eleger. Conduto é fato que eu não apareci do nada. Já era conhecido, uma pessoa respeitada pela trajetória e que até poderia ter exercido cargo público antes. Cheguei a ser o 24º mais bem votado para a Câmara Municipal de Campo Grande, onde tem 29, só que a regra do jogo me impediu de assumir, certamente por falha de estratégia do partido que eu estava na época. Acredito que ainda não passou esse fenômeno, nem também a recessão que o país foi mergulhado, infelizmente.

O Estado – E o que para o senhor reforça essa crença?
Ovando – O Brasil ainda está doente, saiu do coma, porém há muito a se fazer para a recuperação. A retomada econômica ainda precisa ser mais forte e nesse aspecto não se mudou muito do que era o ano passado. Naquela altura, em 2018, víamos, antes das eleições um enorme desejo de transformação, em virtude de todas as classes estarem indignadas com tantas situações de agressão à vida, em inúmeras frentes. Aí veio então o Bolsonaro! Diferente, falando do que está errado, franco, patriota, lembrando da família, e crítico quanto à roubalheira, venceu, mas assumiu um desafio de fazer diferente e tem que fazer diferente. Por que se deixar, volta tudo a ser do mesmo jeito. O salvador da pátria, ouso dizer que sim, e tinha que ser alguém até truculento para viver essa figura. A população escolheu ele para esse emprego sabendo como era o seu jeito. Entretanto, agora investido do poder, que significa o comando de uma nação, nosso presidente deve ter sempre a consciência do tamanho da responsabilidade que vive. Sem estratégia não alcançará os objetivos que traçou, e muito menos fará isso, se não tiver visão.

O Estado – No entanto, ele conseguiu aprovar medidas importantes, ele soube aproveitar o momento?
Ovando – Quanto isso, o Bolsonaro foi estratégico, cirúrgico, um verdadeiro militar. Pois fez o que realmente o que deveria, no fragor da mudança, e assim conseguiu a vitória política na reforma da Previdência. Tenho a impressão de que se ele apresentasse hoje, com todos esses fatos todos acontecendo, encontraria grande dificuldade de aprovar.

O Estado – Mas há muito tempo de mandato ainda, e a rejeição em relação ao presidente tem aumentado. O que isso sinaliza na sua visão?
Ovando – As demais reformas e ações estruturais são necessárias ao país, e não dizem respeito apenas a esse Governo. São desafios de Estado. Agora, com certeza, nem tudo que o Bolsonaro fala agrada, principalmente à esquerda.

Luiz Ovando – Entrevista

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