A decisão do presidente Jair Bolsonaro de retirar os radares móveis das rodovias federais preocupa autoridades e especialistas de trânsito. O decreto foi publicado na quinta-feira (15), no Diário Oficial da União. No mesmo dia, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) suspendeu as atividades com os equipamentos em todo o país, dando cumprimento imediato à medida e sem previsão para o retorno da fiscalização móvel.
O número de mortes nas estradas do Brasil tem reduzido nos trechos onde os radares de velocidades foram colocados. Um levantamento da “Folha” identificou que a redução média de óbitos foi de 21,7% nos quilômetros de rodovias federais que tem o equipamento eletrônico. A pesquisa mostra ainda uma redução de 15% nos índices de acidentes após instalação dos radares.
O levantamento da “Folha” analisou os dados de acidentes e mortes registrados pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) entre os anos de 2007 e 2018, um intervalo de 12 anos, antes e depois da colocação dos equipamentos. Foram computados, no total, 1.530 pontos e foi possível verificar também que em apenas 27,2% dos quilômetros onde teve a implantação de radares houve aumento no número de mortes.
Na decisão não existe determinação sobre os radares fixos, que ficam instalados em locais definidos e de forma permanente. A suspensão se aplica aos radares estáticos, móveis e portáteis.
O professor Renan Soares Júnior, psicólogo especialista em psicologia do trânsito, alega que a decisão presidencial foi abrupta. “Se o presidente imagina que deve ser feito mudanças nas políticas de fiscalização, porque existe algum problema ou questão, isso precisa ser debatido com base em dados técnicos, pesquisas, ser debatido com a população, com os trabalhadores do setor, enfim, fazer isso de maneira democrática e não fazer a suspensão como ele fez e se provarem para ele que funciona ele traz de volta. Então, que dizer, o processo é ao contrário, a gente discute para ver as modificações para depois mudar a política e não suspender abruptamente”, explicou.
E ainda conforme o professor, outro grande ponto é que a legislação para velocidade não é questão do Brasil e sim uma recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde). “A questão de legislação para velocidade, ela não é questão do Brasil, de técnicos brasileiros ou do governo anterior ou qualquer outra coisa, isso é um dos pilares centrais das recomendações da OMS e da Organização Pan-Americana de Saúde para o trânsito no mundo, então quando a gente observa essas coisas, a gente se preocupada com os impactos que isso vai trazer”, declarou.
Em Mato Grosso do Sul, principalmente durante as operações da PRF em feriados prolongados, o que mais tem chamado atenção é justamente a quantidade de condutores que são flagrados em alta velocidade. No feriado de Corpus Christi foram registrados 2.573 flagrantes feitos pelos radares, 24 acidentes, 48 pessoas feridas e uma morta. E um dos pontos mais críticos das estradas federais do Estado, de acordo com a PRF, é o anel viário em Campo Grande. Inclusive, o prefeito da Capital, Marquinhos Trad (PSD), é contrário à decisão do presidente, tendo em vista que os maiores pedidos da prefeitura são justamente para redutores de velocidade.
“Eu e o Brasil discordamos dessa suspensão e com certeza vai aumentar o número de acidentes e mortes nas estradas federais, infelizmente. Como prefeito, o que eu mais tenho recebido dos vereadores e da população é justamente o pedido de instalação de redutores de velocidade, quebra-molas e de semáforos. Em Campo Grande em cada esquina tem um semáforo e o índice de acidentes aumenta a cada mês”, ressaltou o prefeito.
Federação dos PRFs vê com preocupação medida anunciada
A FenaPRF (Federação Nacional dos Policiais Rodoviários) divulgou uma nota pública manifestando preocupação com a real possibilidade de aumento da violência no trânsito diante da determinação do presidente que suspende a utilização dos radares.
Conforme a federação, é fundamental o uso dos equipamentos para redução do número de acidentes e mortes no trânsito. “As maiores nações do mundo utilizam o controle de velocidade com equipamentos de radar, e diversos estudos demonstram a eficácia do controle de velocidade na redução da mortalidade nas estradas e rodovias”, diz trecho do documento.
E ainda, segundo a federação, a suspensão dos radares, sem estudos, pode contribuir para um aumento des acidentes decorrentes do abuso da elocidade,consequentemente de mortes e feridos.
“FenaPRF segue defendendo esta utilização na fiscalização viária, com os devidos ajustes e estudos que permitam que o caráter educativo e de preservação da vida seja sempre o objetivo a ser alcançado”, finalizou a nota. (Rafaela Alves)