A Enfermagem é uma profissão predominantemente feminina. Desde suas precursoras, como Florence Nightingale na Europa e Anna Nery no Brasil, até as profissionais de hoje, que constituem 83,8% da força de trabalho da área em Mato Grosso do Sul, conforme dados de profissionais inscritos no Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul).
A profissão ganhou destaque pela sua importância durante a atual pandemia, trazendo protagonismo mundial muito pelas mãos dessas mulheres. Neste 08 de março, Dia Internacional da Mulher, o Coren-MS conversou com profissionais da enfermagem que seguem na linha de frente do enfrentamento à Covid-19. Medos e incertezas acompanham as profissionais de saúde diariamente.
São 23.921 mil profissionais, sendo 7.329 mil enfermeiras, 14.008 mil técnicas de enfermagem, 2.583 mil auxiliares de enfermagem e uma obstetriz. Além dos desafios, a força e as aptidões femininas fazem toda a diferença no cuidado com as pessoas e na nobre missão de salvar vidas.
A auxiliar de enfermagem,Sra. Sandra Maria de Lima, esteve nos principais sites, jornais e televisão ao ser a primeira profissional da enfermagem a receber a vacina contra a covid em Mato Grosso do Sul. O dia 18 de janeiro de 2021 está bem vivo na memória.
Como trabalha na sala de vacina do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, participaria da cerimônia como a profissional que iria aplicar a vacina nas primeiras pessoas. Isso ocorreu. Foi Sandra que imunizou a indígena terena Domingas da Silva, imagens que foram divulgadas por todo o Mato Grosso do Sul.
A surpresa ficou para o fim. Como havia doses disponíveis, acabou sendo imunizada em público. “Como trabalho na sala de vacina, estaria lá como vacinadora. Já tinham escolhido os primeiros que seriam vacinados, uma idosa, uma indígena e um médico. Quando digo que fui pego de surpresa, realmente é um fato. Não estava esperando. Foi um misto de alegria, surpresa e gratidão”, transparece Sandra.
A enfermagem também trouxe realização pessoal. Permitiu criar os três filhos, ser avó de dois netos e passar o amor à profissão. O filho mais velho também é profissional de enfermagem no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian.
Para a auxiliar de enfermagem, ser mulher e enfermeira, é ser gente que cuida de gente, que promove saúde e trabalha com a vida humana.
“Nós somos os profissionais que ficam na ponta. É onde tudo acontece. Se o paciente está recebendo a vacina é porque tem a enfermagem atrás aplicando. Mas temos que entender que tudo é um conjunto. Tem os profissionais na rede de frio da vacina, o motorista que realiza a entrega das doses nas unidades de saúde, a profissional que planeja o dia da vacinação. Me sinto orgulhosa em permanecer na enfermagem”, diz Sandra.
Empatia palavra-chave de Rayanne
Enfermeira obstétrica no Humap (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian), Dra. Rayanne Valentin Ribeiro, viu a figura da enfermagem se tornar o elo entre mãe e filho na pandemia. O isolamento, uma das medidas de biossegurança, obrigou nestes primeiros dias de vida do bebê estar afastada da mãe. Neste momento, a profissional permitiu que a empatia pudesse falar mais alto e oferecer o melhor acolhimento a estes pacientes.
“A gente sendo mulher temos uma empatia maior. Eu não tenho filhos, mas posso imaginar o que uma mãe passa naquele momento. Sem ninguém para ajudar. Era ela e a enfermagem apenas. Isso interfere no início de um vínculo de uma mãe e o filho. É um desafio muito grande para nós profissionais”, menciona Rayanne.
Atuando em um ambiente dominado por homens, Rayanne reconhece o esforço da mulher na profissão, muitas são mães, algumas solteiras, que trabalham em jornada dupla e ainda dedicam o tempo aos estudos, buscando especialização.
“Quando comecei na enfermagem era tempos mais difíceis, muito diferente do que hoje, antes havia muito mais a presença masculina na obstetrícia. Hoje, no Hospital Universitário em que trabalho, o grupo de enfermagem é totalmente de mulher. Sobre a carga horária é ótima, até possível ter tempo para outras coisas. Mas não deixa de ser pesado. O trabalho da enfermagem é um trabalho pesado e de muitas responsabilidades”, enaltece Rayanne as conquistas.
Transformação na vida de Keity
Quem vê hoje, não reconhece Keity Marielle. Emagreceu 40 kg, está feliz por acompanhar o crescimento do filho e realizada como profissional atuando no Hospital da Cassems (Caixa de Assistência ao Servidor do Estado de Mato Grosso do Sul) de Nova Andradina. Ela foi a primeira profissional de enfermagem de Mato Grosso do Sul a contrair o vírus. Adquiriu após contato direto com um paciente.
Os primeiros sintomas vieram no dia 26 de março de 2020 e a confirmação quatro dias depois com teste positivo. A recuperação não foi nada fácil. Precisou passar três dias na UTI em observação e 25 dias em isolamento, distante da família e do trabalho.
“Recebi muitas mensagens de carinho. Foram muitas correntes de orações em vários lugares, me senti especial, coisa que jamais pensei. O que mais me doía era ouvir meu filho de 3 anos na época dizer: Mamãe, me dá um beijo? Mamãe me dá um abraço? E eu não poder tocá-lo absolutamente nada”, consta Keity sobre os dias de aflição.
Depois de curada, Keity já estava atuando na área de isolamento contra covid, substituindo profissionais afastados e dando assistência aos pacientes infectados.
“A enfermagem tem um papel de suma importância e é uma peça fundamental nisso tudo. Temos a capacidade de diagnosticar e tratar os mais simples sintomas, até mesmo quando estamos na função de mãe e ainda estamos 24 horas ao lado do paciente. Nós somos essenciais, fazemos de tudo e buscamos por valorização”, pede a profissional por um piso salarial mais justo.
Keity passou por uma transformação na vida. Fez uma cirurgia bariátrica que trouxe melhoria na saúde e realização pessoal. Ser exemplo de reinventar a própria história, a profissional destaca a força da mulher.
“Nós mulheres somos independentes. Temos a delicadeza dos fortes, sempre iguais em nossas lutas. Temos sonhos, determinação e somos perseverantes. Corajosas e inteligentes ímpar. Nenhum adjetivo é o suficiente para explicar o ser mulher. Feliz Dia da Mulher”, deseja Keity.