Eles chegam antes da hora, sem dar tempo para chá de bebê e decoração do quarto. Delicados, convivem com agulhas, tubos, sondas, alarmes, fios e lutam pela sobrevivência
Ser mãe de um bebê de UTI é viver fortes emoções” – esta é a frase que resume os 131 dias em que Taygra Prates, 26 anos, passou debruçada na incubadora do filho. Henrique nasceu de 23 semanas, o equivalente a 5 meses, com 28 centímetros, pesando 680 gramas e desde pequeno precisou batalhar pela vida.
Henrique foi planejado e é fruto do relacionamento de dois anos de Taygra com Gabriel Porto, 22 anos. Entre idas e vindas ao médico, a gestação da fotógrafa foi marcada por sangramentos e dores, mas a fé e a esperança de que seu bebê viria ao mundo saudável estavam vivas em seu coração.
“Essa idade gestacional é considerada um aborto e a médica falava que ele não teria muitas chances de sobreviver. Os dois primeiros meses da minha gestação foram tranquilos, mas a partir do terceiro mês eu comecei a ter muito sangramento, vivia em médico, costurei o colo do útero porque em uma consulta de rotina ele estava nascendo, aí ela costurou com urgência e nisso eu vim para casa, mas tive de voltar para o hospital e fiquei internada, porque continuei tendo muito sangramento e muita cólica, fiquei segurando ele no hospital”, relembra a jovem mãe.
Para Taygra, ser mãe de um bebê de UTI é comemorar todas as conquistas do filho e viver fortes emoções. “Desde quando ele tem inúmeras intercorrências até as conquistas. É tudo muito intenso, não existe meio-termo dentro de uma UTI quando o assunto é o seu filho passando por tudo que passou. São fortes emoções, você aprende a ser mais humana, você começa ver o mundo de outro jeito, começa dá valor para pequenas coisas da vida e ver as coisas com mais amor, outra visão de tudo no mudo. Cada pequena conquista dele era comemorada, até quando ele ganhava 10 gramas, respirava sozinho, movimentos diferentes. Pensa na alegria quando ele tomou o primeiro leite dele, que foi 1 ml”, contou revivendo o momento.
Colecionando momentos
Diferente de muitas mães que conseguem se programar com o passar de cada mês e que têm o prazer de colecionar as fotos em álbuns, para Taygra não foi assim. Porém, cada ciclo ficou registrado em sua memória e sobretudo em seu coração.
Pensando em uma maneira de ajudar outras pessoas que passaram por esse momento difícil da maternidade e após presenciar oito bebês que não voltaram para casa, a fotógrafa decidiu voltar à UTI Neonatal do Hospital Geral El Kadri para fotografar os nenéns prematuros que estavam passando pelo mesmo que Henrique viveu e encontrou uma forma de confortar e presentear as mães.
“Para mim os momentos mais importantes da vida devem ser fotografados. Os bebês passam inúmeras intercorrências na UTI, eles sofrem, dói muito ver o seu filho sofrendo, levando agulhada, então é um momento muito importante para o bebê e principalmente para os pais, por isso eu quis registrar. Esses momentos são muito importantes para mostrarmos e falarmos para eles quando eles crescerem o quanto eles foram guerreiros”, explica.
Um dos bebês fotografados por Taygra foi a Antonella; ela nasceu de sete meses e, assim como Henrique, precisou lutar pela vida. A iniciativa trouxe para a fotógrafa o sentimento de nostalgia em voltar ao lugar em que aprendeu muito sobre a vida e o amor.
“Você relembra tudo que viveu e é bem nostálgico. Eu comecei a subir as escadas para chegar na UTI e de lá eu já comecei escutar o barulho dos aparelhos, quando eu entrei eu chorei, foi uma nostalgia, o terapeuta que hoje é meu amigo foi lá para me receber, ele me acalmou, na hora você lembra de tudo, o que prevalece na hora são as lembranças das intercorrências que ele teve, apesar de termos lembranças boas também”, finaliza emocionada.
Novembro Roxo, mês da prematuridade!
No mês de novembro comemora-se o Dia Mundial da Prematuridade, celebrado globalmente no dia 17, cujo grande objetivo é chamar a atenção da sociedade sobre esse tema tão importante, que é o nascimento antes do tempo.
De acordo com o pediatra neonatologista e professor do Curso de Medicina da Uniderp, Walter Peres da Silva, evitar a prematuridade continua sendo um grande desafio ao obstetra e a antecipação eletiva ou indicada do parto, que corresponde a cerca de 50% dos prematuros, deve ser criteriosamente praticada, principalmente com o emprego de novas tecnologias para avaliação do bem-estar fetal.
“É importante salientar que, na maioria das vezes, o determinante direto do parto eletivo é a chamada ‘alteração da vitalidade fetal’. O parto prematuro espontâneo, que corresponde à outra metade dos casos, pode ter sua frequência diminuída se as alterações que surgem semanas ou dias antes do trabalho de parto, tais como as de contratilidade uterina, cervicais e bioquímicas, forem diagnosticadas em tempo hábil. Dessa maneira, um acompanhamento pré-natal adequado é fundamental para a redução da chance de haver um parto prematuro”, orienta o especialista.
Segundo o neonatologista, o nascimento prematuro de um bebê pode sobrecarregar toda a família. Isso porque uma série de pesquisas demonstra que bebês prematuros têm maiores chances de se transformarem em crianças que demandam cuidados especiais dos familiares.
“Deficiências cognitivas e problemas emocionais e de comportamento são os itens mais comumente associados com o nascimento prematuro. Isso costuma significar que a família precisará arcar com mais recursos físicos, financeiros e emocionais. A interação com o bebê pode acarretar muita insatisfação e frustração para os adultos. Isso acontece principalmente porque o recém-nascido prematuro não consegue responder às fantasias comumente criadas no imaginário dos adultos”, revela.