Exclusiva! O Estado Online entrevista coordenador do Método Wolbachia

Na próxima semana acontece a soltura dos primeiros mosquitos Aedes Aegypti com Wolbachia em sete bairros da Capital. A ação é resultado de uma parceria entre o World Mosquito Program (WMP), ministério da Saúde, Governo do Estado e a Prefeitura de Campo Grande. Em entrevista ao Estado Online, o coordenador de projetos do WMP, Gabriel Sylvestre, comenta sobre o método Wolbachia, as fases do projeto e a expectativa de expansão para outros municípios.

O Estado Online: O que é o programa WMP e como funciona o método Wolbachia?

Gabriel Sylvestre: A WMP é uma iniciativa internacional sem fins lucrativos criada na Austrália, na universidade de Monash e hoje ela está implementada em 12 países. No Brasil, a execução é pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com os governos locais nas cidades onde atuamos. O programa tem como metodologia o método Wolbachia que é o nome da bactéria que utilizamos. Ela está presente na natureza em cerca de 60% dos insetos, então baratas, mariposas, borboletas e outros mosquitos tem a Wolbachia naturalmente. Nós transferimos a bactéria da Drosófila, que é a mosca da fruta, para o Aedes Aegypti. O mosquito com a Wolbachia é incapaz de transmitir dengue, zika, chikungunya, febre amarela urbana e mayaro que são os vírus comprovados que a Wolbachia combate.O Aedes Aegypti com a Wolbachia, é chamado de Wolbito. O método serve para diminuir a transmissão das doenças. A grande diferença dele para os demais é que ele exige liberação dos mosquitos porque a Wolbachia passa na reprodução desses insetos.

O Estado Online: Como feito feito o processo de transferência da Wolbachia para o Aedes Aegypti?

Gabriel Sylvestre: São três pontos muito importantes, primeiro é que o método Wolbachia não envolve modificação genética então nem o DNA do mosquito, o RNA do vírus e o DNA da Wolbachia são alterados. É apenas uma transferência mecânica que fizemos da drosófila para o mosquito Aedes Aegypti. O segundo é reforçar que o método é complementar, então tudo que é feito para acabar com o mosquito pela população e pelo governo precisa continuar. Não podemos ter um movimento de relaxamento da população só porque o mosquito não irá transmitir doenças. Temos que reforçar sempre que todas as medidas como o controle químico do fumacê, o controle mecânico de tirar foco de mosquito, tudo isso precisa continuar sendo feito. O terceiro é que nada disso estaria acontecendo sem a parceria do governo do Estado e a Prefeitura de Campo Grande.

O Estado Online: Em fevereiro foi assinado o termo de cooperação entre o Ministro da Saúde, o líder da WMP no Brasil e o governador do Estado para implementação do Método Wolbachia em Campo Grande (MS). Como ocorreu o processo de execução deste projeto na Capital desde então?

Gabriel Sylvestre: Toda Campo Grande vai receber o Wolbito no prazo de três anos. Para atender esse plano inteiro nós dividimos a cidade em seis fases, em blocos de cerca de 130 mil pessoas. A primeira fase, que iniciamos em fevereiro, compreende sete bairros na região do Lagoa e do Anhanduizinho, então esses bairros tiveram engajamento iniciado em fevereiro e março. Várias capacitações aconteceram, atividades com a população, palestras nas universidades e igrejas, mas com a pandemia precisamos pausar o trabalho de campo. Em outubro retomamos o engajamento da fase 1 e em novembro finalizamos. Na semana que vem começa a soltura da fase 1.

O Estado Online: Qual é o trabalho que a biofábrica tem desempenhado e como funciona a produção desses mosquitos?

Gabriel Sylvestre: Como o método exige a liberação de mosquitos nós temos aqui um espaço onde produzimos esses insetos. A biofábrica é cedida pelo Governo do Estado e dentro dela funciona um laboratório. Todo o ciclo dos mosquitos a partir dos ovos acontece, então nós temos uma sala que é a sala de produção de larvas e pupas. São bacias com água, cada uma recebe 30 mil larvas, então são cerca de 70 bacias que produzem as pupas que são os casulos de onde os mosquitos adultos irão sair uma semana depois. Então a gente eclode os ovos, que dão origem às larvas e pupas e oito dias depois eles vão para a sala de tubos. Nessa sala produzimos os dispositivos de acrílico que são onde os mosquitos ficam dentro para irem pro campo depois e serem liberados. Recebemos ovos que vem do Rio de Janeiro porque lá existe um biofábrica de produção, esses ovos são de mosquitos de Campo Grande isso é importante ressaltar. Um dos primeiros trabalhos que fizemos aqui foi coletar mosquitos de Campo Grande e enviar para o Rio de Janeiro para passarmos a Wolbachia para a população de mosquitos daqui.

O Estado Online: A liberação dos mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia acontece na próxima semana. Como será a logística da soltura nos bairros e quantos mosquitos serão liberados?

Gabriel Sylvestre: Semanalmente vamos liberar cerca de sete mil tubos de mosquitos nesta primeira fase. Esses tubos são divididos ao longo da semana em rotas, então todos os dias uma vez por semana cada rota vai receber mosquito. A soltura dura 16 semanas e a produção acompanha isso, então semanalmente a biofábrica produz um lote que na semana seguinte vai a campo.

O Estado Online: Após a liberação, o processo de monitoramento irá funcionar em quais etapas?

Gabriel Sylvestre: Um mês após a liberação vamos iniciar um monitoramento do estabelecimento da Wolbachia em campo. Nós vamos fazer uso da própria malha de ovitrampas, uma armadilha que o município já utiliza, que coleta os ovos do Aedes Aegypti. A cada 15 dias vamos pegar essa paleta, trazer pra biofábrica, eclodir os ovos e as larvas que nascerem vamos enviar para o Rio onde será detectado se a larva tem a Wolbachia.

O Estado Online: Qual é o resultado esperado do método Wolbachia na Capital? Existe a possibilidade desse projeto se expandir para outros municípios?

Gabriel Sylvestre: Existe a intenção por parte do Governo do Estado para que haja a expansão, nós temos muito interesse e temos a necessidade de cumprir o financiamento do ministério da Saúde que é dedicado exclusivamente para Campo Grande, além de Petrolina (PE) e Belo Horizonte (MG). A gente pretende fazer essas três cidades muito bem e sem dúvida dar continuidade, chegar em municípios vizinhos que também tem problema com a arbovirose. A ideia é expandir e utilizar a própria estrutura da biofábrica para dar seguimento. O interesse do ministério da Saúde em expandir pelo Brasil é para representar os diferentes biomas e ambientes.

(Texto: Jéssica Vitória)

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