Estiagem, geadas e fogo reduzem safrinha no Estado

Estiagem impacta agronegócio
Foto: Divulgação

Perdas superam os 2 milhões de toneladas de grãos no Estado

Com uma estimativa inicial de produção de mais de 9 milhões de toneladas, Mato Grosso do Sul deve ter perdas superiores a 4 milhões de toneladas e colher somente 6 milhões de toneladas. As intempéries climáticas, primeiro com a forte estiagem, depois geadas e agora o fogo consumindo o que restou das lavouras, estão derrubando os índices ainda mais.

De acordo com os dados do Siga (Boletim de Monitoramento de Safra) da Famasul e Aprosoja-MS, na terceira semana do mês de agosto a área plantada para o milho 2ª safra 2020/2021 atingiu 2,003 milhões de hectares, com aumento de 5,7% quando comparada com a área da safra 2019/2020, que foi de 1,895 milhão de hectares. Após a geada a produtividade foi revisada para 52,3 sc/ha, gerando uma expectativa de produção de 6,285 milhões de toneladas.

Quanto ao clima, a semana passada foi marcada por estiagem em todo o Estado. De acordo com os modelos agroclimáticos, a estiagem agrícola no Estado chega em média a 55 dias, porém o momento é de colheita e a estiagem contribui para o avanço do trabalho. Hoje quase 60% da área foi colhida no Estado.

A região norte está com a colheita mais avançada, com média de 74,1%, ao passo que a região centro está com 66,1% e a região sul com 52,6% de média. A área colhida até o momento, conforme estimativa do Projeto Siga, é de aproximadamente 1,161 milhão de hectares.

A porcentagem de área colhida na safra 2020/2021, encontra-se superior em aproximadamente 8,8 pontos percentuais em relação à safra 2019/2020, para a data de 20 de agosto.

A operação de colheita avançou cerca de 21,2 pontos percentuais nos últimos 7 dias. No início da 2ª safra de milho 2020/2021 havia a expectativa de um volume de 9,013 milhões de toneladas de grãos e uma produtividade média de 75 sc/ha.

Entretanto, a ocorrência de adversidades climáticas nas principais regiões produtoras do Estado, em especial o reduzido volume de chuvas, afetou diretamente o desenvolvimento fenológico e a granação do milho, levando a maioria das lavouras a serem enquadradas nas classificações “regular e ruim”.

 

Situação ruim

Visita de técnicos a lavouras mostrou que existem locais com espigas com má formação, plantas que não se desenvolveram, estandes irregulares, entre outros problemas que afetaram diretamente o potencial produtivo da cultura.

Algumas áreas podem colher apenas 15 sacas por hectare. A maioria das áreas atingidas por geada estava no estádio R2 e R3. No momento estima-se que a área estimada afetada pela geada no Estado é de 604,4 mil hectares, sendo 30% da área produtora do Estado. Diante desses fatos, espera-se uma quebra de 2,722 milhões de toneladas diante da produção inicial.

O boletim aponta ainda que alguns fatores devem ser observados como a área de cultivo. Em algumas lavouras do Estado já se pode verificar a perda total em razão da estiagem e da queda de granizo. Alguns produtores já planejam gradear a cultura do que colher, haja vista que o custo com a operação das máquinas sem perspectiva de produção inviabiliza a continuidade do cultivo.

 

Piores condições

As regiões oeste, centro, sul e sudeste possuem as piores condições das lavouras, e juntas representam mais da metade da área plantada do Estado. Houve queda de granizo no mês de maio que afetou 6.890 hectares em Naviraí, 600 hectares em Amambai e 50 hectares em Coronel Sapucaia. Essas áreas tiveram perda total da área plantada de milho.

O prognóstico de precipitação acumulada indica até 60 mm para o mês de agosto. A geada e estiagem reduziram drasticamente a estimativa de produção inicial.

 

Cenário atual

O secretário de Produção e Meio Ambiente, Jaime Verruck, diz que o cenário é preocupante porque o problema não se restringe apenas a Mato Grosso do Sul. “Se o problema fosse restrito a Mato Grosso do Sul, nós até teríamos uma certa tranquilidade sobre o ponto de vista de mercado, mas ele não está restrito apenas a MS. Temos perdas significativas no Paraná, perdas seguidas em Mato Grosso. Isso quer dizer que o Brasil entra com a safra já com uma sustentação de preços e também com uma questão de oferta”, afirmou.

Verruck lembra ainda que o Brasil e o mundo têm um crescimento da demanda por suínos e por aves. “A situação que tem sinalizado até o momento. Primeiro o Brasil já está importando milho. Então eu vou dar um exemplo só da JBS: o grupo JBS Ara importou mais de 750 mil toneladas, né? Já para o Brasil, já fez os contratos de importação.

Então eu acredito que em função da mobilidade, do milho que tá saindo, os 6 milhões de toneladas seriam suficientes pra atender a demanda local mas o mercado não funciona dessa forma. Então, nós vamos ter de consequência uma maior importação de grãos”, pontua.

“Mato Grosso do Sul exportará menos milho do que tava previsto, né? Salvo alguns contratos muito específicos, mas não devem exportar milho, dado o crescimento dos preços internos e deve, sim, fazer a importação, porque empresas como BRF, JBS, Aurora, que têm maior necessidade de milho, devem fazer importações marginais.

Quando a gente fala de marginais não estão vendo volume significativo para Mato Grosso do Sul e eu acredito também que por mais que tenha sido afetado pela seca, a importação de milho deverá ocorrer do Paraguai, que é um produtor de milho, por mais que também tenha sido atingido pela seca. Então, Mato Grosso do Sul diminui as suas exportaçõesos preços continuam elevados e também devem importar milho para o próximo ano até a próxima safra, a data que é a safra de verão normalmente uma safra de soja. Então colhida a safra agora nós só teremos milho em Mato Grosso do Sul a partir de agosto e setembro do próximo ano”, conclui.

 

(Texto de Rosana Siqueira)

 

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