Reality na Berlinda
Em apenas três semanas de programa, o Big Brother Brasil 21 já havia causado tantas polêmicas envolvendo um participante, que terminou na desistência do mesmo. O ator Lucas Penteado, 24 anos, não resistiu a pressão e perseguição dos brothers e sisters mesmo o programa ter alegado o acompanhamento médico e psicológico acionado duas vezes pelo ex-BBB. A maior envolvida e mais cancelada nas redes sociais, foi a cantora e apresentadora, Karol Conká, 35 anos, eliminada muitos paredões depois com recorde de rejeição acima de 99%. A ela nada foi feito durante todas as críticas e humilhações desta para com Lucas durante o programa. Ambos são negros.
Após ainda trazer a bandeira da bissexualidade e beijar um participante assumidamente homossexual durante a festa do programa, Lucas chegou ao limite e não foi convencido a permanecer no reality. O apresentador Thiago Leifert, falou do ocorrido, da trajetória do ator no programa, chorou, destacou o suporte dos bastidores ao participante, exibiu imagens de Lucas dentro e já fora da Casa, concluiu afirmando ter falado com ele ao telefone e o mesmo está bem.
Ele buscou o apoio de outra negra: Lumena. Apesar de ter desistido há algum tempo, o ex-brother Lucas acompanhou a derrocada de seus “carrascos”. “Os vilões” que foram eliminados depois de emparedados um a um: Nego DI (98,76%), Karol Conká (99,17%), Lumena (61,31%) e Projota (91,89%). Aliás, Lumena pediu desculpas na terça-feira (6) novamente.
A quantidade de d ebates e posicionamentos gerados fora do reality, afetou integrantes de defesas das pautas das questões raciais em Mato Grosso do Sul. A educadora social, Romilda Pizani coordenadora do Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro de Mato Grosso do Sul, se sentiu na obrigação de acompanhar os dois últimos episódios do reality na época para entender a repercussão. Para ela, o posicionamento do Lucas, embora ele tenha consciência em relação a questão da negritude, foi de um guri, como nos chamamos. “Talvez ali, naqueles momentos, a imaturidade e a inexperiência falaram mais alto. Mas enquanto ser humano, eu ainda reforço que tudo isso é resultado desse período pandêmico que estamos vivendo”, frisou. Já na questão da pele, o assunto é outro.
“Na questão racial negra, infelizmente, é o que está posto. Existe ainda nos dias de hoje o racismo, preconceito e por mais que as pessoas se digam ao contrário não é isso que se é visto todos os dias. É ilusão da pessoa dizer que o racismo não existe. O racismo vem em outros formatos e, ele faz ainda as mesmas coisas e causa ainda as mesmas sequelas no cidadão e na cidadã negra”, avaliou Romilda. A militante negra acredita que o mais lamentável ainda é quando o racismo também vem de uma pessoa negra. “Então, você ser um negro não te tira do lugar do racista. Muito pelo contrário. O que não justifica, mas o que também nos leva a pensar até onde a pessoa negra está ou é uma pessoa consciente”, refletiu. Romilda ainda lembra que o debate sobre a militância negra surge muito forte dentro deste Big Brother e isso vem, inclusive, da participação do Babu, no BBB20. “Mas agora, até porque tem um número maior de negro, isto vem muito mais forte”, destaca.
Sofrimento psicológico
Do ponto de vista psicológico, a psicóloga Júlia Arruda F. Palmiere, coloca o reality dentro do contexto mundial no qual vivemos onde os confinados já entraram no programa com o cotidiano social total ou parcialmente interrompidos. totalmente nos diversos posicionamentos que podemos assistir no reality. Em especial, essa edição tem mobilizado o slogan “sofrimento não é entretenimento” nas redes sociais, por causa dos episódios de violência psicológica, protagonizados por alguns participantes.
Para ela o sofrimento psíquico está escancarado nessa edição do reality, através de episódios de racismo, xenofobia, humilhações e bifobia que tomaram forma de violência psicológica. “Tais episódios afetaram o participante Lucas Penteado, culminando em sua desistência do programa. Os efeitos dessas discriminações\preconceitos no sofrimento psíquico é inegável e extremamente violento, como todos assistimos dentro da casa”, destacou. Entre o que determina ser sofrimento psíquico está racismo, gênero, discriminação por orientação sexual e classe. Isto está na Lei 8.080 que regulamenta o Sistema Único de Saúde.
Julia, atesta que independente da presença de um transtorno psicológico, o sofrimento psíquico de Lucas é político. “É fundamental considerar a intersecção de raça, classe e gênero na determinação do sofrimento e das formas de adoecimento psíquica. O participante Lucas é um jovem negro, periférico e biafetivo. É um corpo fora das normas desde sua performance corporal efusiva, sua raça e sua orientação sexual, assim, se encontrou vulnerável em termos de rede de apoio e acolhimento na casa. O território existencial de Lucas estava hostil, violento e repressor”, afirmou.
Dilson Walkarez, o Dilsinho Mad Max, foi o primeiro a sair depois de 20 dias de confinamento por motivos de saúde da mãe. Morador de Campo Grande, o ex-BBB, não está acompanhando esta edição. “Só fiquei sabendo que saiu por decisão própria. É difícil você falar sobre as eventuais opiniões, opções e as escolhas que as pessoas têm. A gente sabe que na vida cada escolha é uma renúncia e a gente nem precisa querer entender o motivo que uma pessoa tem para fazer suas escolhas. Se o objetivo da escolha se refere somente a vida dela, independente desta escolha, todos devem entender e aceitar porque a cada um pertence a sua decisão”, refletiu o ex-brother.