O empresário e presidente da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul fala ao jornal O Estado sobre a importância da construção da Ponte Bioceânica e quais medidas são necessárias para melhorar a situação industrial da Capital. Longen também avalia as mudanças econômicas propostas pelo governo federal e como elas impactam a vida da população brasileira. Presidente da Fiems considera Rota Bioceânica de extrema importância para melhorar escoamento da produção e chegada de matéria-prima a MS
O Estado – Qual o impacto da Rota Bioceânica para o desenvolvimento industrial em Mato Grosso do Sul? Quais os setores que podem ser fortalecidos? E os polos industriais, o senhor acredita que, além de Campo Grande e Três Lagoas, outras cidades podem ser industrializadas, como Porto Murtinho, por exemplo?
Sérgio Longen – É uma rota que é um sonho, claro que é uma rodovia, uma fonte de escoamento e de produção, de chegada de matéria-prima, de extrema importância pro desenvolvimento do Estado, mas para isso, com certeza, teremos muito trabalho a desenvolver. Sem sombra de dúvida, é um sonho e uma grande conquista para todos nós. Sobre os setores, acredito que é muito difícil você hoje dizer que o setor A ou B possa ser fortalecido em razão da Rota Bioceânica até porque temos de identificar no Estado o potencial de uso da rota e depois diversificar os setores. Então, é algo muito difícil até porque não é algo que está à disposição de se fazer uma análise técnica a respeito no momento, temos de fazer ainda as alfândegas, as aduanas, os locais de transbordo de carga. Temos já diversos polos industriais, assim chamados em MS; começamos por Três Lagoas, que continua sendo um polo muito positivo para a indústria do Estado. Depois temos aí Aparecida do Taboado, com um polo bastante avançado para a indústria; Paranaíba já se desenha com um avanço significativo em termos de desenvolvimento industrial na formatação de polos; e temos Dourados com uma grande condição de ampliação, inclusive precisamos de alguns ajustes, mas Dourados está na rota de desenvolvimento do setor industrial. Ponta Porã figura também como uma grande opção em razão da viabilidade do porto seco na região. E temos também Maracaju, com um potencial muito grande em decorrência da alta produtividade do agronegócio de lá, e eu entendo que é um município muito interessante, além da nossa Capital.
O Estado – Como o senhor avalia a situação industrial de Campo Grande? O que pode ser melhorado?
Sérgio Longen – Campo Grande, que daqui a alguns dias está de aniversário, uma data muito esperada por todos nós, tem um grande potencial. O trabalho do prefeito tem feito a diferença e já observamos que as empresas começam a se movimentar para se instalar em Campo Grande de forma acelerada, mas precisamos de mais distritos industriais em Campo Grande, o que temos é muito pouco para oferecer, precisamos de leis modernas para abrigar essas empresas e mais distritos organizados, com infraestrutura, energia no mercado livre, ou uma outra opção de energia, precisamos de uma estação de tratamento de efluentes coletivos, precisamos de creches nesses distritos e estamos na construção dessas ações importantes também para o crescimento da economia e da indústria na Capital.
O Estado – Recentemente, o Radar Industrial apontou que a confiança do empresário industrial cresceu em julho, entre outros fatores, motivada pela expectativa com a recuperação econômica do segundo semestre. Como o senhor enxerga esse processo, é possível recuperar o crescimento do PIB perdido no primeiro semestre?
Sérgio Longen – Em primeiro lugar, o fim do ano passado gerou uma grande expectativa não só no setor empresarial. A população brasileira, de modo geral, estava muito animada com as possíveis mudanças que poderiam ocorrer no Brasil, e que trariam mais empregos e de certa forma essa expectativa foi perdendo força no início do ano, em razão da demora nas mudanças previstas, principalmente de reformas que são muito importantes para o Brasil, como a reforma da Previdência, que inclusive continua em discussão. Essa página ainda não foi virada, mas avançou mais um passo e, com certeza, outras reformas virão, como a tributária, mas, passando a reforma da Previdência este ano, e somente de os primeiros passos serem positivos dentro da Câmara Federal, a gente já notou em julho a mudança da expectativa brasileira com aquilo que o Brasil inteiro espera, que são as mudanças. Eu entendo que a população está acima muitas vezes da vontade política, precisamos exatamente executar as reformas para que realmente a população comece a receber empregos, via investimentos não só da iniciativa privada, como do governo federal. Precisamos de certa forma desses recursos que estão sendo canalizados para muitos benefícios que foram criados ao longo do tempo e reverter isso para investimentos dos mais variados, como educação, infraestrutura e segurança, essa é a mudança que queremos para o país.
O Estado – A reforma da previdência tem o poder de destravar o desenvolvimento industrial do país? E a reforma tributária, quais os benefícios dela para o empresário da indústria?
Sérgio Longen – A reforma da Previdência, quando aprovada, vai dar um direcionamento para os investidores, não só para os brasileiros, de que o Brasil passou a olhar também para outras frentes, não só para aquelas de benefícios pessoais. Precisamos da igualdade social e não da desigualdade social construída. Quando você avalia exatamente onde estão os benefícios da Previdência hoje, eles estão fortalecendo exatamente uma categoria, e precisamos tratar os brasileiros como todos os brasileiros, depois dessa virada de página da reforma da Previdência, não é nem o valor financeiro que temos hoje a ser discutido, que está dentro do pacote da reforma, mas é o gesto político brasileiro de que o Brasil passa a cuidar de outras ações, e não somente das questões de assistencialismo.
O Estado – Qual a relação entre orçamento do governo e o impacto disso na geração de empregos nas indústrias?
Sérgio Longen – A partir do momento em que o governo federal diminuir o seu tamanho, vamos passar a ter mais recursos do governo federal para serem utilizados em outras frentes, que não aquelas de salário e de direitos que foram construídos há muito tempo. Então, entendo que a única forma hoje que o governo federal tem de ajudar mais o Brasil é ele diminuir o seu tamanho, até porque mudar as leis vai ser muito difícil. A prova clara está aí, foi a venda de parte da Petrobras, que, como bem dito pelo ministro Paulo Guedes, não temos nenhuma Petroamericana ou Petroeuropeia. Então, por que nós temos de ter uma Petrobras? A distribuição de combustível pode ser perfeitamente regulada pelo governo federal e não necessariamente ele ser o único que possa comercializar, ou explorar o combustível do Brasil. No mundo inteiro, isso não acontece. Essas são as revisões que o Brasil precisa fazer e estamos no caminho, porque já estão identificadas as ações que podem ser construídas e claro que o corporativismo público ele é muito forte. Então, com certeza, teremos muitas dificuldades para avançar, mas assim que a população entender que é dessa forma que o Brasil vai mudar essa página de desemprego e de desenvolvimento, a gente vai conseguir com que o Brasil figure entre os grandes países em desenvolvimento não só na área do agro, produtor de matéria-prima para praticamente o mundo inteiro, mas também como produtor de produtos industrializados, exportando aí uma fatura importante, e a mão de obra que é o que precisamos.
Nova política econômica e desenvolvimento
Longen também fala sobre como a nova política econômica coloca o Brasil no mesmo nível de outros países desenvolvidos. “Tem muitas ações que o governo federal discute e que muitas vezes, quando o brasileiro recebe a notícia, ele não entende; está tão tabulado com a vivência de muitos anos que ele acaba não percebendo que isso que está sendo praticado no Brasil não acontece no mundo inteiro. São essas mudanças hoje que estão na mesa; muitas vezes está sendo discutido o fim de certas normas regulamentadoras como aconteceu em Brasília, que não existem no mundo inteiro. A mais avançada indústria mundial alemã, e a japonesa, por exemplo, a brasileira se sobrepõe a todas elas juntas. Então, o Brasil precisa rever essas ações que foram criadas no passado e adequar o Brasil ao mundo da produção. A indústria mundial hoje tem regras a que o Brasil precisa de certa forma se adequar até porque estamos falando de abertura de mercado, e se o Brasil é para estar inserido no mercado mundial, ele precisa ter regras mundiais, do contrário teremos um desequilíbrio de competitividade com o mundo inteiro”, finaliza. Acesse também: Dupla brasileira de tênis bate a Russia e ganha bronze
(Marcus Moura e Michelly Perez)