Empreendedoras negras revelam desafios e a luta contra o preconceito

“Não quero que a minha filha, passe por tudo o que eu passei e viva no cenário que eu vivi. Desejo a ela um mundo de amor, algo que infelizmente a gente não vê na nossa realidade” – este é o desabafo da empresária campo-grandense Maria Aline da Silva, 31, que traz na memória as tristes lembranças de quando era a única vendedora negra do seu antigo local de trabalho. Assim como Maria, diariamente o empreendedorismo feminino para mulheres negras se torna desafiador, foi o que revelou uma pesquisa realizada pelo Sebrae, que indicou que os pequenos negócios liderados por mulheres negras representam a maior proporção entre as empresas que ainda permanecem com a atividade interrompida durante a pandemia e reúnem a maior proporção de empreendedores que tiveram crédito bancário negado em razão do CPF negativado.

Segundo Maria Aline, o racismo foi vivenciado em diversos momentos de sua vida, e em sua memória há situações que até mesmo ocorreram na sua infância. Por isso ela afirma que hoje, mais do que nunca, sabe a importância de se colocar no lugar do outro e de ter empatia pelo próximo.

“Desde criança sofri preconceito de todas as formas, mesmo não tendo a pele tão escura quanto outras meninas, fui chamada de ‘negrinha fedida’, ‘cabelo de bombril’. Quando trabalhei no setor de vendas no comércio, foi algo que me marcou muito, e lembro até hoje. Eu era a única funcionária negra da loja e quando os clientes chegavam, eu era a última opção de atendimento. As outras vendedoras eram todas loiras, e os clientes simplesmente, me ignoravam, era como se eu não estivesse ali”, contou.

Aceitação

Atualmente atrás do balcão de atendimentos da MMS Materiais para Construção, no Jardim Panorama, a empresária, que junto com o seu esposo atua na venda de materiais para construção desde 2016, relembra que mesmos os desafios sendo outros, ser mulher em um meio preponderantemente masculino também traz consigo diferenças no tratamento recebido pelos clientes.

“Uma das minhas maiores dificuldades é a de ser aceita. Na loja, divido os afazeres com quatro homens e, ainda assim, é comum ver clientes chegarem e ir diretamente perguntar para eles, e não para mim. Lembro um dia, no qual meu marido precisou se ausentar e fiquei sozinha. Um cliente chegou e me pediu uma luva de tubulação, mas na hora ofereci uma luva para proteção de mãos e me lembro de que fiquei muito nervosa, pois o cliente começou a se alterar”, destacou ela que relembra, ainda, que, somado a isso, o desafio se faz ainda maior quando se trata de conciliar a tarefa de ser mulher, esposa e mãe; é uma luta diária.

(Texto: Michelly Perez)

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