Houve um crescimento de 113% somente nas internações de UTI
O número de pacientes internados com COVID-19 bateu recorde em Mato Grosso do Sul. O último boletim divulgado pela SES (Secretaria de Estado de Saúde) aponta que, ontem (6), 503 pessoas estavam internadas em hospitais por conta da doença. Destas, 299 estavam em leitos clínicos e 207, em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva). Quando comparado com o cenário de um mês atrás, a situação fica alarmante. Em 6 de julho, eram 224 pessoas internadas nos hospitais do Estado, sendo 139 em leitos clínicos e 96 na UTI. O aumento no número de internações chegou a 114%, conforme os boletins divulgados diariamente pela secretaria.
Até ontem, o recorde de internações por COVID-19 era do dia 30 de julho, quando 494 pessoas estavam hospitalizadas. Naquele dia, 276 pacientes infectados pelo novo coronavírus estavam em leitos clínicos e 223, em UTIs. Entre os dias 31 de julho e 2 de agosto, houve queda no número de internações. Nos dias seguintes, com exceção de quarta-feira (5), houve acréscimo de pacientes internados com a doença nos hospitais do Estado.
A ocupação de leitos de UTI, em um mês cresceu 113%. De acordo com o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, se o número de leitos disponíveis fosse o mesmo de um mês atrás, o sistema de saúde teria entrado em colapso, como ocorreu em outros estados. “Se nós estivéssemos há 30 dias, nós já teríamos um colapso se não tivéssemos avançado em leitos de UTI. Mesmo se comparado há 15 dias, nós teríamos um colapso”, constatou. A ocupação de leitos chegou a 60% em todo o Estado. A macrorregião de Campo Grande tem o maior índice de ocupação: 94%, seguida pela macrorregião de Corumbá, que possui 77% dos leitos ocupados. A macrorregião de Dourados está com 50% dos leitos ocupados, e a macrorregião de Três Lagoas, 25%.
A diretora do HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul), Rosana Leite, recentemente, reafirmou que as unidades hospitalares têm limites. O Regional é referência para casos de COVID-19 no Estado, porém, em razão do aumento significativo de casos graves no mês de julho, a unidade precisou adotar medidas para manter o atendimento. “Nós fizemos uma análise do mês de julho e nossa taxa de ocupação sempre foi acima dos 95%. Com isso, nós seguimos uma estratégia e estabelecemos que assim que atingíssemos essa média, iniciaríamos a transferência de pacientes”, revelou durante transmissão de terça-feira (6).
No entanto, como a demanda pelos serviços aumenta a cada dia, na última semana, mover os pacientes já não surtiu o efeito desejado, conforme a médica. “Nós realizamos com frequência, mas temos mantido essa taxa acima dos 98%. Por exemplo, na segunda-feira (5), nós chegamos a transferir 10 pacientes e continuamos com a mesma taxa de ocupação”, assegurou a diretora do Regional.
O pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) Júlio Croda afirma que a preocupação com a ocupação dos leitos de UTI deve-se ao fato de que o paciente com COVID-19 fica, em média, uma semana a mais se comparado com uma pessoa acometida por outra doença. “Enquanto um paciente sem COVID é de uma semana, os positivos são entre duas a três a semanas em tempo de UTI. Caso os números continuem a subir, o sistema de saúde não vai suportar realizar o atendimento de todos esses pacientes”, pontuou.
Croda explica que o principal risco está na dificuldade de definir quando o vírus terá o pico no número de contaminações. “Nós ainda estamos na curva exponencial, sem sinal de achatamento. A cada semana, nós vemos os números se superarem em novos casos”, afirmou o pesquisador da Fiocruz.
(Texto: Amanda Amorim/Publicado por João Fernandes)