Depois de uma semana, Campo Grande ainda respira ares da tempestade que deixou rastro de destruição

VALENTIN MANIERI
VALENTIN MANIERI

Trabalhos de recuperação seguem sendo executados, mas estragos ainda são visíveis nos bairros

Os estragos da ventania registrada na última sexta-feira (15) continuam assustando os moradores da Capital. Passando pelas ruas da cidade não é difícil identificar semáforos estragados, moradores recolhendo entulhos, fios de telefonia nas calçadas, árvores e galhos caídos atrapalhando a passagem e ameaçando a segurança dos transeuntes. A equipe do jornal O Estado percorreu diferentes bairros para conversar com os moradores e identificar os prejuízos que permanecem após sete dias da tempestade.

Em alguns casos, as árvores e seus galhos continuam a provocar acidentes, foi o que contou Carlos Batista, comerciante de 52 anos que teve a residência atingida pela queda de uma árvore, na Rua Ministro Azevedo, bairro Santo Antônio. “Caiu em cima da minha casa. Está com risco de virar e quebrar a parede. Sem brincadeira nenhuma, essa árvore ainda pode causar uma morte”, afirma o morador, que já presenciou um acidente automotivo um dia após a queda da árvore, que impede todo o trânsito da rua. 

“O rapaz virou aqui à noite e não sabia, foi com tudo para o meio dela. Ela precisa ser retirada com urgência. As crianças vêm aqui comprar chiclete, bala, estão correndo risco. Esses dias tiveram bastante vento, deu medo de cair de novo”, relembra Carlos, preocupado com a situação. 

Mas não é apenas a segurança dos moradores que está sendo afetada pelas árvores não recolhidas. Anderson Delfino, serralheiro de 39 anos, relata a dificuldade para retirar a árvore que ameaça demolir o lava-jato de seu primo, localizada na Avenida das Bandeiras.

“Fizemos a solicitação, mas os bombeiros vieram às 23h, e ninguém atendeu. Se o muro chegar a ceder, cai em cima do lava-jato. Não podemos colocar carro ali, corre o risco de cair tudo em cima. Tivemos de paralisar os atendimentos, por que estamos com muito medo de causar um acidente”, relatou.

Ao ser questionado a respeito da situação, o major Fábio Pereira de Lima, assessor de comunicação do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul, respondeu que mais três equipes foram colocadas nas ruas para trabalhar na queda de árvores, totalizando 100 militares além do contingente normal. Até o momento, havia 164 chamados em aberto, além do aumento de solicitações para vistorias. Segundo informações de uma fonte dentro da corporação, cada equipe consegue retirar em média três árvores por dia, dependendo do tamanho e da gravidade de cada situação. 

“O número de quedas foi muito maior do que conseguiríamos atender normalmente, isso contando que não tivéssemos mais nenhuma outra ocorrência. Apesar disso, todos os esforços estão sendo feitos para que a situação seja resolvida os mais rápido possível”, afirmou a corporação em nota.

Procura por Ecopontos aumenta 50%

A alta demanda de serviços após os estragos provocados pelo temporal do último fim de semana aumentou a procura pelos Ecopontos da Capital. Segundo o gerente operacional da Solurb, concessionária responsável por gestão da limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos do município de Campo Grande, Bruno Velloso, só na última semana o número de atendimentos aumentou mais de 50%. 

No Ecoponto da região das Moreninhas, por exemplo, os atendimentos dobraram durante a semana. “Antes realizávamos de 5 a 7 atendimentos por dia. Nesta semana foram de 15 a 20”, contou Maurilio Munhoz, 22 anos, porteiro do Ecoponto. Ele ainda afirmou que a maior parte do material recolhido é de telhas quebradas e podas de árvores.

Já no Ecoponto Panamá, o mais antigo da Capital, o aumento foi percebido apenas no último sábado (16). “Recebemos uma boa quantidade de galhos e poda, quase cinco caixas em um dia”, comentou o funcionário do Ecoponto Panamá, Reinaldo Araújo, 35 anos.

Vale lembrar que tais locais são reservados a coletas de material reciclável, resíduos de construção, podas e incineráveis. Cada pessoa pode levar até 1 metro cúbico, que equivale a 1.000 litros por usuário. Os Ecopontos funcionam das 8 às 18h, de segunda-feira a sábado.

Semáforos continuam desativados

Apesar da reativação de mais de 200 semáforos pela Agência Municipal de Transporte e Trânsito, ruas movimentadas da Capital continuam sem o conserto da sinalização desde a última semana. É o caso da Avenida das Bandeiras, que conta com ao menos dois semáforos desligados separados por poucos metros. “É assustador, tem acidente aqui todo dia”, conta Samanda Zanin, gerente de vendas de um estabelecimento localizado na Avenida das Bandeiras. “Não passa um dia sem acontecer alguma coisa, mesmo com o semáforo desligado o povo não respeita e passa correndo”, conta Samanda, insatisfeita com a situação.

Vale lembrar que a equipe de O Estado esteve no mesmo local na semana passada e o semáforo já estava sem o funcionamento. Na tarde de ontem (21) houve acidente envolvendo um motociclista. A Agetran, ao ser procurada em busca de informações sobre a manutenção dos sinaleiros, não respondeu. A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep) também não deu resposta ao ser questionada a respeito da situação.

Chamadas para vistorias em árvores em áreas de risco seguem em alta

Mesmo após uma semana do temporal, ainda constam 164 chamados de ocorrências a serem atendidos, informa o CIOPS (Centro Integrado de Operações de Segurança). O Corpo de Bombeiros Militar segue trabalhando para reparar os danos deixados pela tempestade. Além dos atendimentos emergenciais, é possível solicitar, pelo 193, uma vistoria em caso de risco iminente de queda de árvore. Comprovado o risco, o corte é feito.

“O recomendável é que os bombeiros militares atuem quando o risco é iminente, ou seja, quando a árvore oferecer perigo de cair e atingir pessoas, animais, casas ou veículos ou quando já estiverem caídas gerando risco às pessoas e transtornos ao trânsito como obstrução de vias e acessos”, explica o major do Corpo de Bombeiros Fábio Pereira de Lima. E ressalta que quem atua após o Corpo de Bombeiros, para a retirada do material, é a secretaria de obras.

O major afirma ainda que, nos últimos dias, houve um aumento no número de chamadas para vistorias em árvores, tendo em vista o receio da população referente à previsão de novas chuvas para o próximo fim de semana. 

Nos casos em que as situações não oferecem riscos, o contato deve ser realizado com a prefeitura municipal, por meio da Secretaria de Meio Ambiente. E, nesses casos, sendo em terreno particular, a responsabilidades do manejo do material é do proprietário.

Rajadas de vento devem começar ainda hoje e atingir de 50 a 100 km/h

Campo Grande tem um novo alerta de chuva e fortes rajadas de vento que podem variar de 50 a 100 km por hora. De acordo com a meteorologista Valesca Fernandes, coordenadora do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima no Estado de Mato Grosso do Sul, a previsão é de que o tempo comece a ficar mais severo na madrugada de sexta-feira (22) e continue assim até domingo (24), com probabilidade de tempestades acompanhadas de raios.

Conforme a prefeitura da Capital, as árvores que caíram e prejudicaram diversas fiações, um total 254, já foram retiradas pelas equipes do Corpo de Bombeiros, com apoio da Defesa Civil. A equipe de reportagem entrou em contato com a Energisa, que informou que em Campo Grande 100% dos clientes (área urbana) impactados pelo temporal da última sexta-feira (15) já tiveram o fornecimento restabelecido. A concessionária ainda conta com o apoio de um helicóptero para ajudar no restabelecimento da rede de energia elétrica na zona rural da Capital dos principais assentamentos das regiões como Terenos, Nova Andradina e Ponta Porã. (Aline Araújo, Clara Rockel e Débora Ricalde)

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