CPI da Covid escancara luta das mulheres para ocupar espaço na política

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Mesmo sem ocupar uma das cadeiras titulares nos trabalhos da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid, a bancada feminina, criada neste ano, está ganhando destaque durante as sessões. As senadoras se organizaram para acompanhar os encontros semanais que definem os próximos passos da comissão e não deixam de participar dos depoimentos. As representantes do Mato Grosso do Sul, Soraya Thronicke (PSL) e a líder da bancada, Simone Tebet (MDB), falaram com O Estado Online sobre a busca por mais espaço na política, ilustrada na comissão.

Os nomes que integram a CPI foram indicados pelos partidos e a bancada feminina não conta com a prerrogativa de indicar membros. Com isso, elas não podem votar e nem apresentar requerimentos. Tebet explicou o que isso significa, na prática. “Qualquer senador tem o direito de participar das reuniões para interpelar as testemunhas. A diferença é que os não membros não podem votar ou apresentar requerimentos e ainda precisam aguardar para falar após os 18 titulares e suplentes”, disse.

“Sendo assim, pedimos ao presidente da CPI, senador Omar Azis – e fomos atendidas – para que a bancada feminina tivesse prioridade de fala no início das sessões”, completou.

Para Thronicke, a comissão ilustra a situação das mulheres na política. “Não há mulheres como membro na CPI da Pandemia porque as bancadas não indicaram. Esse é o reflexo da pouca representatividade que ainda temos no parlamento. Somos maioria em número na população, mas minoria na política, por exemplo”, disse.

“Porém, este ano criamos oficialmente a Bancada Feminina no Senado Federal, com uma liderança que conta com toda a estrutura e prerrogativas dadas aos líderes de partido ou bloco parlamentar, como preferência para uso da palavra, possibilidade de orientar votações e de participar do colégio de líderes da Casa”, comentou.

Para acompanhar os trabalhos de perto, as senadoras estão se revezando. “A bancada feminina é pluripartidária, temos senadoras governistas, de oposição, ou independentes, como eu. Criamos um critério justo, de rodízio, para que todas pudessem participar”, contou Tebet.

Isso porque a atuação feminina já foi destaque em outros meios da imprensa. A Agência O GLOBO publicou nesta semana que elas criaram um grupo no WhatsApp para discutir os trabalhados no Senado e na CPI da Covid. Além disso, a líder do Cidadania, Eliziane Gama, passou a frequentar as reuniões semanais da cúpula da comissão nas quais são definidos os rumos dos trabalhos.

A ausência de mulheres como titulares na comissão gerou até a uma provocação do filho do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro, que chegou a dizer em abril que as mulheres se mostraram menos indignadas por não ter representantes nas investigações. “Acho que as mulheres já foram mais respeitadas e mais indignadas, não é? Estão fora da CPI, não fazem nem questão de estar nela e se conformam em acompanhar os trabalhos a distância”, disse. Tal comentário rendeu uma discussão entre Gama e Bolsonaro.

“Infelizmente, no início dos trabalhos tivemos episódios lamentáveis em relação aos colegas. Mas fomos firmes e a nossa participação no colegiado já está consolidada. A nossa voz não pode ser calada, especialmente nesta CPI, que não trata apenas de fatos passados, de corrupção. Estamos falando de fatos continuados. Estamos falando da perda de 500 mil vidas”, afirmou a líder da bancada sobre as reclamações de senadores que a bancada enfrentou no começo dos trabalhos da CPI.

Mesmo pensamento foi manifestado pela senadora Thronicke. “Então a bancada feminina tem sido bem participativa na CPI, estamos acompanhando tudo de perto, fazendo questionamentos muito pertinentes e não abrimos mão do nosso direito de fala, conquistado pela união das mulheres no Senado Federal”.

 

Política nacional

A senadora Simone Tebet lembrou ainda as dificuldades que a voz feminina enfrenta para se consolidar uma vez que consegue chegar a algum cargo político. “Outro problema é que após ultrapassar a barreira eleitoral, as mulheres Brasil afora ainda sofrem com o machismo, o preconceito, o assédio, a violência política, a falta de espaço nos postos de comando. Por isso que costumo dizer que, muitas vezes, a mulher precisa chegar empurrando a porta na política”, comentou.

 

Indicações

Conforme o portal do Senado, as indicações para integrantes de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) são feitas pelos próprios blocos partidários. Porém, a bancada feminina não tem a prerrogativa de sugerir nomes para o colegiado. A bancada foi criada formalmente neste ano e tem a liderança da senadora de Mato Grosso do Sul, Simone Tebet (MDB).

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