Como o coronavírus, dengue pode estar subnotificada em MS

Mato Grosso do Sul enfrenta dois ‘inimigos’ mortais em 2020: a COVID-19 e a dengue. Porém, o novo coronavírus é mais letal, com maior número de vítimas em menos tempo, 41 até o momento, superando os 39 da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Já a dengue tem um número muito maior de casos confirmados e notificados, sendo 31,2 mil e 62,4 mil, respectivamente.

A situação que pode se repetir nos dois surtos é a possibilidade de subnotificação dos casos, ou seja, o número de doentes pode ser muito maior do que o divulgado. Enquanto são necessários testes em massa para se ter uma dimensão do coronavírus, no caso da dengue, existe a desconfiança por parte do governo do Estado de que muitas pessoas estão deixando de ir para as unidades de saúde com medo de se infectarem pela COVID, assim, casos não são contabilizados.

Segundo a infectologista e integrante do COE/MS (Centro de Operações de Emergências), Mariana Croda, ambos, a dengue e coronavírus, possuem um perfil marcante no Estado. Enquanto o vírus se espalha aos poucos pelos municípios, o mosquito transmissor já está presente e continua reproduzindo a doença todos os anos, mesmo com variação na intensidade.

“Apesar de a dengue estar concentrada principalmente em Campo Grande, pois costuma se reproduzir em áreas mais urbanas, as mortes são registradas em diversas cidades do interior e não possuem o fator de risco, então, as mortes acabam sendo registradas em todas as faixas etárias. Já o COVID-19 faz vítimas com fator de risco identificado, que estão em um grupo específico ou possuem comorbidades”, destacou.

No entanto, a doença teve sua progressão mais lenta, ao passo que no auge, em janeiro e fevereiro, a máxima de mortes registradas foram 11 ao mês. Enquanto para o vírus, o mês de junho marca o início de uma nova onda no Estado e, antes do fim, soma 21 óbitos. “O novo coronavírus é mais letal do que todas as doenças que circulam em MS. Enquanto a dengue não deve ter um aumento significativo até novembro, em que gera uma nova onde de casos, o vírus ainda não chegou no seu pico e nós ainda viveremos um aumento muito grande”, pontuou a infectologista.

Outro ponto que os difere no momento em estabelecer os dados confirmados está no critério para confirmação. Por se tratar de uma doença recorrente, a dengue possui características possíveis de se identificar sem um exame laboratorial definido pelo critério clinico-epidemiológico enquanto isso não é possível com o novo coronavírus. “Apesar de existir uma discrepância entre os casos de dengue e COVID, é possível que se tenha um número ainda maior de coronavírus, pois com a dengue nós conseguimos fechar o diagnóstico com as características da doença enquanto no coronavírus não”, relatou Croda.

Medo da população

No entanto, a subnotificação também pode estar ocorrendo com a dengue. Pela 9ª semana consecutiva, Mato Grosso do Sul tem registrado uma queda no número de notificações da doença. De acordo com as informações do boletim da SES (Secretária de Estado de Saúde), na última semana foi identificado um aumento de 847 novos casos enquanto na semana anterior foram apontados 1,2 mil.

Para a gerente técnica de Doenças Endêmicas da SES Jéssica Klener Lemos dos Santos, após a primeira notificação dos casos do novo coronavírus, a população passou a temer os centros médicos o que causou essa redução no número de notificações. “Pode ocorrer uma subnotificação, pois as pessoas têm tido medo de procurar o serviço de saúde, mesmo nos casos em que os sintomas estão sendo apresentados, talvez com medo de se expor ao coronavírus”, frisou. Essa suspeita se confirma quando os dados apresentados pelos municípios, semanalmente, são comparados. “Em MS, o Aedes aegypti resiste o ano todo, é possível fazer uma comparação com os anos anteriores, em que esse período era notada um aumento nos casos. Se compararmos os boletins municipais e de uma semana para outra, não é apresentado novas notificações, e, será que realmente não está havendo casos?”, questionou.

A gerente técnica ainda aponta que a dengue possui diferentes estágios e ignorar os sintomas da dengue pode gerar graves consequências para o enfermo, que às vezes, por falta do acompanhamento, podem desenvolver sintomas mais graves que podem levar a um fim trágico, que poderia ser evitado. “Dependendo do caso da pessoa, principalmente quando apresentam comorbidades, caso demore ir em busca de atendimento, pode tornar o quadro mais grave e dificultar o tratamento. Em alguns momentos, pela demora, se torna impossível reverter e a pessoa pode vir a óbito”, explicou.

(Texto: Amanda Amorim)

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