Segmentos como serralherias e construção relatam dificuldades para repassar custos e temem prejuízos
O anúncio do aumento de tarifas sobre o aço e o alumínio pelos Estados Unidos começa a causar preocupação no Brasil. A decisão do presidente Donald Trump de elevar as tarifas de importação para 25% afeta diretamente um dos principais destinos das exportações brasileiras desses produtos e pode trazer reflexos negativos para setores que dependem de aço e alumínio no mercado interno, como serralherias e indústrias.
Entre os entrevistados pela reportagem do O Estado, há consenso de que o impacto será inevitável caso as tarifas sejam aplicadas. Segundo Wantuir Ficher, serralheiro, os preços dos materiais já vêm subindo nos últimos anos e a nova elevação deve tornar o trabalho ainda mais difícil.
“Agora vai aumentar de novo. No final do ano já tinha subido, virou o ano, subiu de novo”, relata. Ele acrescenta que, diante do aumento, “absorvemos uma parte para fechar o serviço e repassamos outra parte aos clientes”. Porém, isso compromete o lucro: “O material é o mesmo, mas a nossa porcentagem de ganho diminui”.
Wellington da Costa, também serralheiro, explica que, para não inviabilizar os serviços, será necessário dividir os custos com os clientes. “Se a gente tinha uma margem de lucro de 20%, já vai cair para 12% ou 15%. Vamos jogar 10% para o cliente e 10% tirar da nossa margem de lucro. Senão, não conseguimos trabalhar nem vender”, afirma.
Na JG Serralheira Artística e Metalúrgica, o impacto pode ser ainda maior. Os proprietários Grasi e Jackson, que já perceberam um aumento recente de 7% nos preços dos insumos, temem que contratos já fechados sejam comprometidos. “Nenhum contrato está previsto para uma alta de 25%. Se realmente essa tarifa for aplicada, vai afetar muitas obras e quem faz contrato terá que absorver a alta, até mesmo dispensando funcionários para cumprir o contrato”, diz. Eles também destacam que o aumento comprometeria o lucro, mas garante que a qualidade do trabalho continuará sendo prioridade.
A aplicação das tarifas também levanta críticas à falta de medidas de proteção para setores dependentes do aço e do alumínio no Brasil. “O governo deveria tomar alguma medida para proteger esses setores, com certeza”, reforça o representante da JG Serralheira.
Para os especialistas, o impacto não se limita apenas ao setor siderúrgico. O economista Welber Barral explica que as tarifas de 25% inviabilizam parte das exportações para os EUA, mas o mercado interno americano não tem produção suficiente para suprir a demanda, o que pode gerar inflação nos preços ao consumidor. “A falta de aço nas cadeias de suprimentos gerou mais desemprego do que o protecionismo criou empregos, como mostram estudos do Cato Institute”, aponta.
Enquanto o governo brasileiro ainda não se pronunciou sobre a medida, trabalhadores como Wellington da Costa já começam a planejar como lidar com os possíveis aumentos. “A gente vai ter que ajustar para não parar, mesmo com as dificuldades”, conclui.
Por Djeneffer Cordoba
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