Aplicativos têm debandada de mais de mil motoristas

uber - reajuste
(Photo by Leon Neal/Getty Images)

Com pandemia e alta dos combustíveis, categoria sofre com crise e reivindica melhores condições

Mais de 10% dos motoristas de aplicativo da Capital deixaram as plataformas desde o início da pandemia. Em busca de reajustes nas tarifas de viagens e diminuição do preço do combustível, esses profissionais desejam condições mínimas de ganho financeiro para continuarem a transportar pessoas. Após a chegada de empresas prestadoras desse tipo de serviço à cidade, não houve muitas mudanças nos preços praticados e quem paga a conta é o motorista.

Segundo a APPLIC-MS (Associação de Parceiros de Aplicativos de Transporte de Passageiros e Motorista Autônomo de Mato Grosso do Sul ), as duas maiores plataformas de transporte não aumentaram os valores das viagens desde o início de suas operações em Campo Grande. Muitas manifestações, passeatas e atos públicos já ocorreram, mas nada mudou.

O início da pandemia no Brasil forçou a debandada de motoristas insatisfeitos com o trabalho e causou a migração de muitos para o delivery, serviço de entregas. Usando uma motocicleta, o rendimento se assemelha ao do transporte por quatro rodas. No entanto, a vantagem é maior, de vez que os custos com combustível e manutenção são menores que os do carro.

“Até agora, as empresas só estão na promessa. Continuam nos tratando de maneira totalmente autoritária, sem ajuda alguma. Até mesmo com a pandemia, que tem assolado todos nós, equipamentos de proteção saem do nosso bolso. O álcool gel e as máscaras protetoras temos que comprar. Elas [plataformas] falam uma coisa e praticam outra, mentindo para a população”, se revolta Paulo Pinheiro, presidente da APPLIC-MS.

Demora no embarque

Os aplicativos também já percebem queixas de usuários quanto ao tempo esperado para embarcar. Muitas pessoas relatam uma demora incomum, o que remete à ausência de motoristas no momento do pedido. De acordo com uma moradora da Capital, que não quis identificar-se, estava difícil solicitar uma viagem nesta semana.

Eu tive muita dificuldade. Acho que está um pouco geral isso. Ouvi de um motorista que havia uma relação com o preço da gasolina. Parece que o número de motoristas ativos está muito baixo e, os que temos, não pegam a viagem quando vêem que é muito longa. Hoje cedo, a corrida começou em R$ 15, mas não tinha motorista. Depois, o valor foi subindo até chegar aos R$ 40”, revelou a moradora.

Segundo a APPLIC-MS, um dos motivos que explicam a demora está relacionado às opções que o motorista possui na hora de fazer uma viagem. Comumente, os condutores têm cadastro em mais de um serviço de transporte, e acabam preferindo aceitar corridas que compensam mais.

Evasão

A associação informa ainda que mais de mil motoristas se evadiram para os aplicativos de entrega, plataformas que tiveram um salto na demanda em virtude das medidas restritivas durante a pandemia. Manassés Alves, ex-motorista de aplicativo, avalia que não compensou trabalhar com o carro e teve de desistir da ideia.

“Eu vendi o meu carro financiado, porque para mim não tinha condições. A gasolina teve reajustes desde sempre, mas as corridas, não. Às vezes tem preço dinâmico para o motorista, mas e quando não tem? Você vai rodar só para pagar o combustível? Me sobravam de R$ 1.000 a R$ 1.200, o que não pagava todas as minhas contas”, explicou Manassés.

Tereza Gomes, motorista de aplicativo, compartilha seus desapontamentos. “Somente com combustível, eu gasto 50% do meu ganho. Fora as outras despesas. É um ganho ilusório. E como as taxas não têm aumento há seis anos, tudo fica pior. Além da lavagem semanal do carro, os desgastes do veículo, seguro, pneu e oficina. Há pedidos de viagem muito longe e as pessoas reclamam da demora. E aí os motoristas acabam cancelando”, comenta Tereza.

Com cerca de 12 mil motoristas em Campo Grande, a APPLIC-MS diz que não existe seguridade entre plataforma e profissional. “Para eles tanto faz se hoje saíram dois motoristas, mas entrou mais dois. Se essas questões de tributação altíssima e aumentos diários dos combustíveis permanecerem, sem dúvidas, a tendência é de ter menos veículos à disposição da população”, prevê Paulo Pinheiro.

(Felipe Ribeiro)

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