Ânimo renovado a quem enfrenta a pandemia com coragem

Com a chegada da vacina, profissionais da saúde voltam a sonhar com dias melhores

“Esta vacina é símbolo de esperança! Que possamos retomar as nossas atividades familiares e sociais. Estamos contando os dias, minutos, porque não foram fáceis todos os dias que passamos até aqui.” Este é o relato emocionante da médica Marcela Ramone do Nascimento, que, desde fevereiro do ano passado, cuida dos pacientes com COVID-19 que passam pelo Hospital Regional de Mato Grosso do Sul e na Unimed de Campo Grande.

Mudança na rotina, plantões puxados, a perda de colegas de profissão e de pacientes resumiram o ano de 2020 da médica. Apesar de viver dias sombrios e difíceis, Marcela nunca perdeu a esperança de dias melhores.

”A maioria dos profissionais de saúde estão se desdobrando para conseguir fechar as escalas, para manter a qualidade no atendimento, e lógico que isso tem o seu preço emocional e físico. Estamos ansiosos, contando os dias para que toda a população seja imunizada”, revela.

Marcela recebeu a primeira dose da vacina no dia 19 de janeiro, que veio acompanhada de uma boa dose de alívio! ”O dia que eu tomei a vacina não doeu, mas a vontade que eu tinha era de chorar, chorar de emoção, de ver que talvez toda essa realidade fosse mudar, que nós temos uma luz no fim do túnel”, relembra.

Ao contrário da maioria das pessoas que tiveram tempo para tentar entender o que era pandemia e o que estava acontecendo no mundo, Marcela lembra que os profissionais da saúde não tiveram a mesma oportunidade.

”A impressão que dá é de que estávamos vivendo em um campo de guerra. Não tínhamos tempo hábil para ressignificar, para assimilar ou se reenergizar de uma maneira boa, porque, querendo ou não, o ambiente de trabalho acabou ficando hostil e infelizmente não temos opção de desistir, porque as pessoas contam com a nossa ajuda, nosso tratamento”, relata.

A enfermeira Evelyn Silva de Oliveira, 27 anos, trabalha no Hospital Rita Antônia Maciel Godoy, no município de Caracol, distante 376 quilômetros da Capital. Ela conta que contraiu a doença e teve de ficar isolada, perdeu o paladar e o olfato, sentiu muitas dores no corpo, mas agradece por ter tido apenas sintomas leves.

”Fiquei vários dias ruim em repouso, não sentia fome, não comia direito e quando comia eu não sentia o cheiro e nem gosto. Muita dor nas pernas, tosse, dor de garganta e sentia um cansaço muito grande. Tomei todas as medicações conforme prescrição médica e graças a Deus me recuperei em casa e não precisei de internação”, celebra.

De acordo com a enfermeira, não está sendo fácil conviver com a doença; a preocupação com os pacientes toma conta diariamente e a incerteza sobre o que esperar do novo vírus gera insegurança e aflição.

”Medo e ao mesmo tempo a esperança de que é o começo de uma nova etapa, de que coisas boas estão por vir e de que tudo vai mudar para melhor com a imunização. Em breve vamos poder nos reunir em família, amigos e, claro, poder nos abraçar e curtir momentos inesquecíveis no aconchego de quem amamos. Continuamos firmes na luta por dias melhores”, afirma.

Vacinada no dia 20 de janeiro, Evelyn lembra que cogitou não tomar a vacina por medo e receio, mas que mudou de ideia e sabia que essa era a única maneira de se manter forte. ”Surgiram muitas dúvidas, e mesmo já estando decidida que não tomaria a vacina eu mudei de ideia. Em meio a tudo que acompanhamos, o aumento no número de casos, o sofrimento dos pacientes e de seus familiares, faz com que nossa vontade de vencer só aumente, queremos estar forte e preparados para poder ajudá-los”, declara.

Mulher de fé, a enfermeira acredita em dias de superação e crê que tudo vai ficar bem após a imunização. ”Desde quando começou tudo isso eu perdi algumas pessoas próximas que amava, isso me deixou muito triste, mas, mesmo assim, eu não perdi a esperança de que vai passar e que vamos ter dias bons e felizes. O que nos resta é ter fé e esperança de dias melhores”, acredita.

Relato de quem vive na UTI

Quem também passou por dias difíceis dentro do hospital foi a fisioterapeuta intensivista da UTI COVID-19 da Santa Casa de Campo Grande, Bruna Oliveira Corrêa do Amaral, 28 anos. Ela lembra que trabalhar na linha de frente ao enfrentamento da doença causou medo e foi um desafio.

”Os pacientes evoluíram rápido para quadros graves e a recuperação era lenta. O sofrimento era em dobro por saber que os seus familiares estavam aflitos sem poder vê-los, pouco entendiam sobre a doença e alguns não puderam nem se despedir. O cansaço para o profissional da saúde era físico e mental. Os equipamentos de proteção individual eram quentes, desconfortáveis e machucavam, mas sem eles não dava pra ficar. Foram longos meses de plantões difíceis”, relembra a profissional.

Segundo a fisioterapeuta, ela não chegou a ser infectada pela doença, e apesar de tomar todos os cuidados de paramentação e desparamentação, a profissional define o livramento como proteção divina.

”Graças a Deus não me contaminei até agora, e espero continuar assim. É uma vitória passar pela pandemia, trabalhando no olho do furacão sem me contaminar! Além das medidas de cuidado, Deus me protegeu.”

Vacinada no dia 19 de janeiro, Bruna finaliza torcendo para que a vacina chegue para toda a população e torce para que o ano de 2021 seja um ano melhor para todos. ”A vacina é a única medida de parar a pandemia na atualidade, era algo que estávamos esperando ansiosos. A vacina é algo palpável que podemos confiar! Estou muito feliz por ter recebido a primeira dose, aguardo ansiosamente para a segunda. E espero, que em breve, toda a população, meus pais, avós, parentes e amigos também estejam imunizados”, conclui. Veja outros conteúdos do caderno Viver Bem.

(Texto: Bruna Marques)

 

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