Polícia Civil confirma que resultado dos 90 dias iniciais será divulgado em coletiva de imprensa
Após 90 dias de atuação, o GT (Grupo de Trabalho) instituído pela DGPC/MS (Delegacia-Geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul) com o objetivo de desafogar as demandas da DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), em Campo Grande, terá seu prazo de duração prorrogado, conforme informações obtidas pelo jornal O Estado.
De acordo com o coordenador do grupo, delegado Márcio Custódio, todas as informações, como os principais resultados e números alcançados, serão passadas à imprensa e à população em uma entrevista coletiva que será marcada para depois que o prazo de 90 dias se encerrar, o que acontece hoje (21).
Ao todo, o grupo, criado em fevereiro deste ano, deveria analisar quase 6 mil boletins de ocorrência que estavam “travados” na DEAM. Nenhum dos delegados que compõem o GT procurados pelo jornal informaram o motivo da prorrogação e ou até quando os trabalhos devem se estender.
“O Governo do Estado, a SEJUSP e a PCMS irão apresentar os números e os resultados dos trabalhos do GT DEAM após o encerramento do prazo de 90 dias contados da data da publicação da Portaria que criou o Grupo de Trabalho, o que ocorrerá em 21 de março”, afirmou Custódio, em mensagem.
Resultados parciais
Entre os dias 7 e 21 de março, o GT da DEAM alcançou os seguintes resultados:
* 642 Boletins de Ocorrência distribuídos para análise;
* 380 Inquéritos Policiais instaurados; 2 representações de prisão preventiva e 2 representações por busca domiciliar e apreensão;
* 54 Boletins de Ocorrência despachados;
* 16 Boletins de Ocorrência devolvidos à DEAM;
* 154 Inquéritos Policiais encaminhados;
* 3 Ocorrências arquivadas.
Negligência no atendimento
A frente de trabalho foi criada após a morte da jornalista Vanessa Ricarte, assassinada a facadas pelo ex-noivo, Caio Nascimento. O desenrolar do caso, que incluiu a divulgação de um áudio mandado pela vítima a um amigo, mostrou a ineficiência da DEAM e a negligência vivida pela jornalista ao buscar ajuda na delegacia.
Na época, Vanessa relatou em detalhes o tratamento frio e negligente recebido na DEAM e afirmou que foi induzida pela própria delegada, que deveria garantir sua proteção, a voltar para casa, onde foi brutalmente atacada e morta a facadas pelo ex-noivo.
No áudio de quase 4 minutos, Vanessa lamenta o tratamento que recebeu na Casa da Mulher Brasileira e diz que parece que ninguém entendeu a dimensão do que havia acontecido.
A divulgação da mensagem mandada para o amigo revelou a realidade do tratamento recebido pela vítima e desmentiu todas as informações dadas à imprensa durante entrevista, na qual as delegadas da DEAM afirmam que prestaram todos o apoio possível e que foi decisão da própria vítima ter retornado sozinha para casa.
Após esse relato, vieram à tona, diversas histórias de mulheres negligenciadas pela DEAM e pela Casa da Mulher Brasileira.
Cultura do Descaso
Recentemente, o jornal O Estado também divulgou o caso de Maria de Fátima (nome fictício), que precisou fugir da cidade onde morava após ser agredida pelo ex-companheiro e receber um tratamento negligente tanto no CREAS (Centro de Referência à Assistência Social), bem como na delegacia de polícia.
“Não quero virar notícias apenas quando eu morrer”, disse a assistente social, que destacou que seu algoz tinha, contra si, mais seis boletins de ocorrência e algumas medidas protetivas, inclusive para se manter afastado da filha, fruto de um antigo relacionamento onde, supostamente, também era agressivo.
De acordo com a advogada Janice Andrade, membro do MCRIA (Fórum Permanente em Defesa da Vida de Mulheres e Crianças de Mato Grosso do Sul), o descaso com as mulheres que denunciam e a certeza de impunidade encoraja homens a fazerem cada vez mais vítimas.
MPMS: Ao contrário do divulgado pelo Estado, no caso de Maria de Fátima, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) arquivou apenas a denúncia oferecida em razão do tratamento negligente que a vítima teria recebido no CREAS de Nova Alvorada do Sul. A denúncia contra o agressor segue em investigação, sendo que foram solicitadas novas diligências para melhor apuração do caso.
Quem ofereceu para custear um hotel ou transporte para a vítima até Campo Grande para pedir medida protetiva contra o agressor foi a assistência social da cidade e não o delegado, como é mencionado na mesma matéria
Por Ana Clara Santos
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