A expectativa é de que Campo Grande tenha 50% dos bairros atendidos com a nova liberação
A terceira fase do Projeto Wolbachia, aliado no combate às arboviroses causadas pelo mosquito Aedes aegypti, está prevista para acontecer no fim do mês de outubro com duração de seis meses. A liberação contempla outros 15 bairros da Capital, sendo eles Carandá Bosque, Carlota, Chácara Cachoeira, Dr. Albuquerque, Estrela Dalva, Jardim Paulista, Maria Aparecida Pedrossian, Noroeste, Rita Vieira, São Lourenço, Tiradentes, TV Morena, Universitário, Jardim Veraneio e Vilas Boas.
O projeto acontece em parceria do Ministério da Saúde com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), sendo executado pelo governo do Estado e pela prefeitura. O gestor de implementação do método em Campo Grande, Antônio Brandão, conta que o projeto foi dividido em seis fases e que, ao fim da terceira, a Capital terá 50% dos bairros atendidos.
“O projeto consiste na liberação de mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia dentro de suas células no campo para que eles cruzem com a população selvagem de Aedes da região e os filhotes já nasçam com essa bactéria. E quando o mosquito tem essa bactéria, não consegue se proliferar dentro dele doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela urbana. Então a gente consegue falar que esses mosquitos estão protegidos e, consequentemente, a população está protegida contra esses vírus”.
Brandão explica que, antes de qualquer liberação, é realizada uma pesquisa de campo pelos agentes da prefeitura junto à população, para perguntar se conhecem, entendem e permitem a aplicação do método.
“A gente só faz a liberação quando ocorre a aceitação da população. Até agora, nas duas primeiras fases, a aceitação foi acima de 90% e é o mesmo que a gente espera para a terceira fase. Porque o nosso trabalho de engajamento é realizado nas escolas, nas unidades de saúde, com lideranças locais para passar a informação pra população. O engajamento comunitário é um pilar para o projeto, porque a população precisa saber o que está acontecendo no seu território”.
Aedes aegypti
Até o momento, foram notificados 11.293 casos prováveis da dengue em Mato Grosso do Sul. O Estado segue ocupando o quarto lugar no ranking nacional em relação às 27 unidades da Federação, com incidência de 402,8. Quanto mais alta é a posição, maior é a incidência.
Aparecida do Taboado, Antônio João e Figueirão lideram os municípios com maior incidência de dengue. Campo Grande ocupa o sexagésimo quinto lugar do ranking, com 436 casos prováveis e taxa de incidência em 48,1, o que caracteriza menos de 100 casos para 100 mil habitantes. No total, foram 377 casos confirmados na Capital, com duas mortes.
Os dados apresentados no último boletim epidemiológico para chikungunha, no dia 1º de setembro, apontam 120 casos prováveis em 2021, com incidência de 4,3. As cidades que lideram o ranking são Nioaque, Chapadão do Sul e Brasilândia. A zika somou 77 casos prováveis neste ano e apresenta incidência de 2,7 no Estado. Chapadão do Sul, Bataguassu e Antônio João são as três cidades com maior incidência.
Projeto Wolbachia
O projeto consiste na implementação da bactéria Wolbachia no mosquito Aedes argypti. Quando o mosquito apresenta a bactéria, impede que o vírus de dengue, zika, chikungunha e febre amarela se desenvolvam, contribuindo para a redução da doença. O controle acontece sem que haja modificação genética no mosquito ou na bactéria.
A liberação do mosquito com a bactéria acontece para que se reproduzam com os Aedes aegypti locais e gerem uma nova população desses mosquitos. Com o tempo, a reprodução dos mosquitos com Wolbachia aumenta e cria uma nova geração, até que esta permaneça alta sem a necessidade de novas liberações.
Antônio Brandão informa que o projeto está previsto para acontecer até o fim de 2023 para atender toda Campo Grande. “Então vai ser o primeiro município do Brasil que terá toda a sua extensão coberta pelos Wolbachia e com isso a gente espera proteger a população e diminuir a problemática da dengue que há tanto tempo tem assolado o a Capital.”
Os resultados preliminares divulgados pela Fiocruz apontam redução de cerca de 70% dos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de zika nas áreas onde houve a intervenção entomológica. Com base nas diversas experiências de sucesso, o método entrou em expansão nacional em 2019. Além de Campo Grande, as outras cidades contempladas foram Rio de Janeiro, Petrolina (PE) e Belo Horizonte (MG).
“É sempre importante lembrar que esse é um método complementar. Então todas as ações de combate ao mosquito precisam continuar acontecendo, tanto o fumacê quanto a visita domiciliar, os agentes e a população têm de fazer a sua parte. Não deixar água parada, tampar sua caixa-d’água, colocar areia nos vasinhos de planta, usar repelente. O método visa fazer a substituição dos mosquitos que transmitem o vírus, criando uma geração que não apresente risco para a população, mas só vamos conseguir acabar com os mosquitos mesmo se cada um cuidar da sua casa”, reforça Brandão.
(Texto de Isabela Assoni)