Para quem não sabe, pedra bruta é um símbolo maçônico que representa imperfeição, enquanto que o que está acabado e apresenta detalhes, é representado por um bloco esculpido. Nesse sentido, os aprendizes da maçonaria são tal como pedras brutas – imperfeitos espiritualmente – quanto mais esculpidas essas pedras, mais graduados os maçons se tornam na sociedade secreta, sendo esse o seu objetivo. Estranhamente vão até dizer o que tem a ver a relação com a peça teatral “Pedra Bruta – Ensaio para colher o provisório das coisas”, com atores residentes em Campo Grande, encenada no Teatro Prosa – Sesc Horto por quatro dias.
No palco, atores que se denominam amadores e muitos buscando a oportunidade de uma experiência pela primeira vez em palco. A peça da Cia Teatral OFIT, teve com a dramaturgia de Éder Rodrigues e direção de Nill Amaral. No palco, Richard Lima, Ethieny Karen, Amanda Dim, João Arce, Vinícius Del Vecchio, Danielle Samara, Leandro Faria e Carlos Alexandre Melo. No sábado, teve início com apenas 13 minutos de atraso (algo raro nas peças teatrais por essas bandas), já impressiona justamente pela atitude atores-plateia num formado conjunto que todos possam unir sentimentos, formatos, buscas, razões e principalmente o universo de cada um no palco e suas particularidades.
Vão dizer… existe um roteiro com começo meio e fim em Pedra Bruta. Acredito que não, justamente porque os “aprendizes” de teatro não estavam se importando com isso e nem mesmo o diretor. A peça poderia sim ter esse início quase bibliográfico de cada um dos atores que contam em gravações, a importância de estar no palco. No entanto, esse começo, meio e fim não existe nessa peça, e por isso mostra-se interessante e gratificante para o expectador. Uma peça que pode “iniciar” pelo fim, passar pelo meio e “encerrar” no começo. Mesclar canções de Freddie Mercury, John Lennon e Nelson Gonçalves foi uma sacada gostosa e inteligente. Sonoridade e iluminação de primeira linha. A razão de atuar é mostra claramente nesse enredo cativante e com uma direção que me fez lembrar até mesmo o saudoso diretor e ator mineiro Ronaldo Brandão que sempre provocava com seus textos, a chama da verdadeira arte de interpretar.
Os quadros – a cada instante da peça mostram o cotidiano normal em que vivemos, mas nada para se surpreender, pois é a normalidade em que vivemos. O interessante, é que esses “amadores”, “imperfeitos”, mostraram sim, graduados e profissionais incansáveis em busca desse espaço que é a liberdade de interpretar, sem medo, receios ou dúvida de um tempo que atravessa além do palco. Sair de casa para assistir “Pedra Bruta” foi deixar-me ficar suavemente feliz em saber que o nosso teatro vive e muito bem! Os atores foram totalmente lapidados por uma direção competente e com um profissionalismo ímpar. Todos foram bem esculpidos e viraram pedras brilhantes.
* O autor da crítica, é jornalista, atual editor-chefe do Jornal O Estado e alguém apaixonado pela cena cultural de Mato Grosso do Sul, há pelo menos três décadas.