Óculos na infância não acabam com diversão nem estilo, mas precisam de indicação do médico

Oculos
Foto: Karime Xavier/Folhapress

Oftalmologista explica como é o exame para descobrir o grau e fala sobre os riscos de uso sem necessidade

Rita S. C. estava com os pais no carro, passeando pelo bairro de Higienópolis, em São Paulo, quando o trajeto levou a família ao endereço onde mora a “mulher da casa abandonada”, personagem famosa por causa de um podcast da “Folha”, no Spotify. Como de costume, a mulher, que aparecia numa janela do casarão, tinha o rosto besuntado de pomada grossa branca, daquelas de passar no bumbum dos bebês. Uma multidão na rua observava a cena, e os pais de Rita comentaram o que viam. “Só que ela falou que não estava enxergando nada”, lembra a mãe da menina, de 6 anos. “Achamos esquisito.”

Como Valéria e seu marido, pais de Rita, precisaram usar óculos a vida toda, eles decidiram levar a filha a um médico. Quem cuida dos olhos das pessoas é o oftalmologista, especialista celebrado neste domingo (7), Dia Internacional do Oftalmologista.

Pois Rita visitou o consultório de três oftalmologistas diferentes até receber o diagnóstico correto. “A primeira médica falou que eram 2,5 graus e a gente achou muito alto, melhor procurar uma segunda opinião. Na segunda, ela disse 4 graus. O terceiro explicou que ela precisava de no máximo 1,5 grau, e não o tempo todo”, lembra a mãe.

“Faz cinco meses que eu uso óculos, tenho miopia”, conta Rita. A miopia é o que os oftalmologistas chamam de “grau negativo”, e que deixa tudo pequenininho. Quem explica é Fabio Pimenta, oftalmologista e chefe do Setor de Estrabismo da Vision One São Paulo.

“Tem ainda a hipermetropia, que é o grau positivo, que deixa embaçado. E o astigmatismo, que é um grau que deixa sombra. Às vezes existe uma mistura desses dois. Pode ter miopia com astigmatismo, e hipermetropia com astigmatismo”, ensina.

Fabio diz que os médicos primeiro investigam se existe ou não a necessidade dos óculos e, quando descobrem que a pessoa realmente precisa deles, são então usadas no consultório algumas lentes com vários graus diferentes, que serão testadas em sua capacidade de melhorar a visão do paciente.

“Eu botava um binóculo e tinha que ver as coisas. E tiveram que pingar um remédio. Daí, fiquei vendo números, cores, a médica botou um óculos em mim e me deu uma pranchetinha com animais, daí perguntava qual animal tava saindo, eu falava, e a gente fez o teste”, lembra Rita.

Esse remédio a que ela se refere é um tipo de colírio, explica Fabio Pimenta. “Ele vai ajudar o médico a definir o grau correto, porque, para a gente enxergar, a gente faz força, e é essa força que ajusta a visão, que deixa tudo bem nítido, bem certinho. Quando a gente pinga o colírio, ele vai paralisar essa força e a gente vai ver qual é o grau real”, diz.

Rita saiu do consultório com sua receita e foi a uma ótica. “Fiquei vendo um montão de óculos e foi bem difícil escolher. Fiquei em dúvida entre dois, mas um ficou grande demais, aí fiquei em dúvida desse meu e de outro, um rosinha e um lilás meio roxo. Fiquei tirando foto de todos até escolher”, conta.

Ansiedade

Demorou uma semana até que os óculos ficassem prontos, e Rita ficou bem ansiosa. Quando foi buscá-los, já os vestiu e saiu usando. “Eu me senti vendo as coisas melhor, vi mais detalhes. Eu amo meus óculos, às vezes me sinto mais bonita com eles, um estilo novo.”

“Ela tem usado mais do que a gente imaginava, não tem vergonha de usar em lugar nenhum”, fala a mãe de Rita. “Minha infância foi bem diferente, eu tinha vergonha, e agora fico bem admirada, acho muito legal.”

Bia P. P., 8 anos, usa óculos desde os 5. Depois que sua prima descobriu que precisava das lentes para enxergar bem, a família de Bia resolveu levá-la ao oftalmologista para uma consulta.

“Eu preciso usar óculos o dia inteiro, só que quando vou dormir eu não preciso. No meu primeiro óculos, eu achava que não ficava muito legal, mas nesse eu acho, e no meu segundo eu também achava”, diz Bia, que já está na sua terceira armação.

“Meu segundo óculos era de grau e também era escuro, daí, numa viagem, meu irmão tava me empurrando num balanço, bati a cabeça numa árvore e ele entortou. Esse agora já tá um pouco riscado, mas não quebrado”, conta.

A partir dos 12 anos, Fabio Pereira diz que já é possível usar lentes de contato, que são uma espécie de película colocada dentro dos olhos, e não em uma armação, como nos óculos. São necessários cuidados especiais para manuseá-las e armazená-las, então é preciso ser responsável. Outra recomendação importante que o oftalmologista dá é que não se use óculos com lentes de grau se eles não forem os indicados por um médico. “Isso vai causar dor, desconforto, algum incômodo durante o uso. A princípio não faz mal, mas vai dar mal- -estar”, explica.

Quem ainda assim tem muita vontade de curtir óculos pode optar pelos sem grau, com lentes com proteção para luz azul do computador e raios solares. “Esse tipo de lente não faz mal, porque ela não tem grau, e ainda assim ela protege os olhos”, diz Fabio.

Por Marcella Franco 

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