Na pandemia, gravidez vem junto com medo e falta de pré-natal

Nos últimos sete meses, cerca de 5,8 mil bebês nasceram nas duas principais maternidades do Estado, a Cândido Mariano e a da Santa Casa de Campo Grande. O momento que deveria ser só de felicidade para as mães se tornou, também, um momento de apreensão devido à pandemia do novo coronavírus. Casos de “bebês gigantes” foram registrados e a falta de assistência básica de saúde pode ter influenciado na gestação.

No mês de setembro, a Santa Casa registrou o nascimento de dois “bebês gigantes”. Os casos ocorreram com intervalo de 10 dias e os recém-nascidos vieram ao mundo com quase seis quilos, sendo o peso máximo registrado no hospital. A média de peso para os bebês é de quatro quilos.

A dentista Fernanda Santiago deu à luz no dia 22 de agosto e relembra que a pandemia chegou na Capital durante o quarto mês de gestação. Com pouca informação sobre os riscos que a doença pode trazer para as gestantes, preferiu mudar a rotina.

Desde então, se afastou do consultório em que atende e deu prioridade em ministrar as aulas online, já que também é professora universitária, e iniciou o isolamento social.

“Minha profissão me deixa muito exposta ao vírus e, no início, não existiam muitas informações de como ocorria a transmissão. Havia a recomendação da máscara e da higienização, mas pensei, será que é suficiente? E então optei por manter apenas as aulas”, contou.

Em casa, os cuidados foram principalmente com a higienização, saindo apenas quando necessário, para idas ao mercado e para realizar o pré-natal.

“Minha preocupação em sair de casa era muito grande. Durante a gestação, nós ficamos mais sensíveis a doenças devido a alteração hormonal. A principal recomendação do meu médico foi manter o que eu já vinha fazendo, além de redobrar o cuidado com a alimentação, para aumentar a minha imunidade”, revelou.
Mesmo com o filho nos braços, Fernanda não reduziu os cuidados contra a COVID-19. Sair de casa, apenas em atividades essenciais e durante as consultas de rotina do pequeno.

Para a enfermeira Walkíria Colman de Oliveira, o receio foi dobrado, já que descobriu a gravidez em abril, bem no início da pandemia em Campo Grande. Já gestante, foi afastada do trabalho e desde então tem cumprido isolamento, na tentativa de se manter protegida do vírus.

“Eu tento ao máximo me cuidar e peço a compreensão da minha filha de 13 anos. Desde o início, nós temos ficado em casa e saímos apenas para ocasiões essenciais como realizar meu pré-natal e ir ao mercado”, comentou.

Walkíria relata que os planos para a gestação eram diferentes, com diversas celebrações para comemorar a vinda do bebê. “De início nós pensamos que seria passageiro e que poderíamos realizar, talvez, um chá revelação, mas os meses foram passando e nós optamos por não fazer nada, para evitar essas reuniões e a exposição”, contou.

A enfermeira aponta, ainda, que a tecnologia tem ajudado nesses momentos. Impedida de manter contato presencial, Walkíria tem utilizado chamadas de vídeo e ligações para matar aos poucos a saudade da família e dos amigos.

Dificuldade no atendimento

Mesmo durante a pandemia, o número de partos se manteve próximo do registrado em 2019. Enquanto na Santa Casa e na Maternidade Cândido Mariano, entre março e setembro, foram registrados 5,8 mil nascimentos, no ano anterior foram 6,1 mil.

De acordo com o supervisor da maternidade da Santa Casa, William Leite Lemos Júnior, mesmo que, no início da pandemia da COVID-19, tenha sido registrado uma redução na procura por atendimento, o atendimento na maternidade não teve alteração.

Apenas no hospital, foram registrados 1,7 mil partos, entre normais e cesariana, e 5,1 mil atendimentos de urgência e emergência de gestantes. Lemos Júnior aponta que, principalmente no início da pandemia, muitas mães ficaram desassistidas ou com receio de ir até os postos. Durante esse período houve o registro de bebês que bateram recorde de peso na instituição.

“Muitas pacientes relevaram que acabam não procurando a assistência da forma adequada. Nos casos dos bebês que bateram o recorde de peso na nossa instituição, as pacientes relataram que não tiveram acompanhamento correto, desde o pré-natal até ao uso de medicações”, revelou.

O supervisor aponta que o mesmo pode ocorrer em casos de bebês que nasceram abaixo do peso e que podem se enquadrar em dois padrões, sendo o primeiro de bebês que nascem antes da hora, ou em casos em que as mães têm pressão alta. “Se existe o aumento dessa demanda, é porque essas pacientes não estão tendo a assistência adequada”, frisou.

(Texto: Amanda Amorim)

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