MS tem somente 15% da parcela ideal de leitos psiquiátricos

Em Campo Grande são 30 leitos para SUS no Hospital Nosso Lar

O número de pessoas que buscam tratamento para doenças e transtornos mentais está aumentando no Brasil, uma vez que existem campanhas de conscientização e uma abertura maior para se tratar destes temas. Mas, na contramão desses índices, está a diminuição de leitos psiquiátricos no país. Em Mato Grosso do Sul, existem apenas 70 leitos psiquiátricos voltados para o atendimento de pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), quando, p número ideal, seria 450, pelo menos, como explicou a presidente da Associação Médica do Estado, Maria José Martins Maldonado.

Com a redução no número de leitos psiquiátricos, a médica pontua que os pacientes são tirados do hospital mais rápido, permanecendo em nível ambulatorial e, posteriormente, recebendo alta. Como exemplo da necessidade de ter mais vagas atender os pacientes, Maldonado lembrou o recente caso em que uma criança de três anos morreu por ter sido jogada no chão por um homem em surto. “”Quando surgiu este caso, pensamos até quando o poder público não vai enxergar que precisamos de ter leitos, que tem pacientes que precisam de internação e essa é a nossa grande preocupação, porque, hoje, no Estado, nós temos 70 leitos psiquiátricos, 40 em Paranaíba e 30 aqui em Campo Grande, no Hospital Nosso Lar. Nós deviríamos ter 450 leitos””, assegura.

De acordo com a SESAU (Secretaria Municipal de Saúde Pública), o país passou por uma reforma da psiquiatria e isso provocou mudança dos modelos de atenção e gestão nas práticas de saúde do SUS. “”Isso, de certa forma, impactou na assistência, a partir da mudança no modelo hospitalocêntrico, sendo então criado os serviços abertos e substitutivos ao hospital psiquiátrico, sendo o principal deles os Centros de Atenção Psicossocial, os Caps””, ressaltou o secretário José Mauro Filho, que afirmou ainda que Campo Grande é um das poucas cidades do país a atingir 100% de cobertura assistencial da população na modalidade Caps III.

Atualmente, a Capital, conta com seis Caps que realizam mais de 1,3 mil consultas ambulatórias e 2,5 mil atendimentos por mês. Por outro lado, Maria José reforça a necessidade dos leitos, tendo em vista que os Caps não dão segmento aos atendimentos. “”Que os gestores realmente possam agir de maneira correta, parar com essa história que não tem leitos psiquiátricos, tem que ter. O sistema público não funciona para acompanhamento desses doentes mentais. Os CAPS, eles são portas abertas, pode ir que eles te atendem, mas, e o depois? O segmento que tem que ser com médico, precisa ter registro do que está sendo feito e, se não deu certo, tem que internar no hospital””, argumenta.

Porém, o número de leitos pode aumentar em Campo Grande, tendo em vista que está previsto a contratação de mais 30 leitos no Hospital Nosso Lar. ““Existe expectativa de contratualização de mais 30 leitos com o Hospital Nosso lar, com aporte do governo do Estado. E, houve ainda a publicação de portarias pelo Ministério da Saúde habilitando os serviços de saúde mental do município aportando um incremento financeiro para custeio de mais de R$ 200 mil por mês, o que, certamente, irá proporcionar a melhoria da assistência e ampliação do serviço””, garante o secretário.

O número de leitos em Mato Grosso do Sul já foi bem maior. Ainda conforme a presidente, somente o Hospital Nosso Lar já chegou a ter mais de 100 leitos do SUS. ““Já chegamos a ter quase 200 leitos. No entanto, há três anos, os leitos da Santa Casa foram fechados, era o terceiro melhor serviço de psiquiatria do Brasil, foi um retrocesso muito grande dentro da nossa psiquiatria, o hospital tinha 30 leitos e, quando fechou, estava com 10. No Nosso Lar, eram mais leitos também, já chegaram a oferecer mais de 100 leitos do SUS, e, hoje, são 30 que nunca tem vaga para internação””, explica.

Os psiquiatras

Além dos leitos, os psiquiatras também estão em falta na rede municipal de saúde. Conforme o presidente da Academia de Medicina de Mato Grosso do Sul, Juberty Antônio de Souza, isso ocorre por conta da política aplicada aos pacientes com doenças e transtornos mentais e acaba que os atendimentos são feitos por recém-formados. “”Nós temos número de psiquiatras em boa quantidade e uma quantidade adequada para Campo Grande, não tem na rede pública porque ainda impera uma política que foi colocada pelo Ministério da Saúde até o ano passado, que foi uma política criminosa para o doente mental. Então, aqui em Campo Grande, nós temos atendendo pacientes psiquiátricos os médicos recém-formados em residência que não tem prática no atendimento aos doentes psiquiátricos, isso por conta de uma questão ideológica até então””, explica.

(Texto: Rafaela Alves)

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