Campo Grande ficou estarrecida nesse fim de semana com a morte de uma jovem de 19 anos atropelada pelo próprio namorado. O caso aconteceu na madrugada de sábado (15). Mariana Vitória Vieira Lima estava em um bar com Rafael de Souza Carrelo, da mesma idade, e subiu no capô de seu carro para impedir que ele saísse dirigindo bêbado.
Mariana foi arrastada em cima do capô por um trajeto de pouco mais de 1,5 quilômetro entre as avenidas Afonso Pena e Arquiteto Rubens Gil de Camillo, no bairro Santa Fé (região leste), até que caísse ao chão e fosse atropelada, morrendo na hora. Carrelo só parou o veículo pouco depois, após bater em um poste.
É o segundo feminicídio do ano causado por motoristas. Em fevereiro, um ex-marido perseguiu em alta velocidade uma mulher e seu acompanhante na Avenida Guaicurus (região leste), matando os dois em uma colisão intencional.
Diferentes na atuação, mas iguais na intenção, o de buscar a morte da companheira, o uso de veículos como instrumento para os homicídios choca a população média, mas não especialistas. José Edson de Moura, psicólogo de trânsito e integrante do Ibap (Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica), falou ao jornel O Estado que casos assim servem como avaliação da péssima qualidade dos exames psicotécnicos realizados nas autoescolas.
“Não são feitas avaliações que apontam o perfil violento do condutor avaliado. O carro acaba por se tornar uma extensão da sua propriedade, dos seus hábitos e sua postura ao volante evidencia muitas vezes uma predisposição para matar ou morrer dentro de um veículo”, disse Moura.
Responsável por ministrar um curso de preparação para psicólogos dispostos a aplicar os exames psicotécnicos por mais de 15 anos, Moura avalia que atualmente o lucro das autoescolas vale mais que a percepção de perigo no fornecimento de uma CNH (Carteira Nacional de Habilitação) a seus clientes.
“Não existe preocupação com a capacidade do condutor. E com o governo federal afrouxando a legislação de trânsito, a tendência é cada vez mais termos acidentes intencionais nas ruas. A imprudência conta mais que a segurança, desde que o lucro esteja garantido com o fornecimento de habilitações a qualquer um que seja”, completou.
A nova legislação do Código Brasileiro de Trânsito prevê que motoristas envolvidos em trânsito passem por uma avaliação psicológica, mas, segundo Mauro, os casos citados fogem dessa condição. “São tratados da forma como devem, homicídios, assassinatos, mas mesmo assim não podem dirigir nunca
mais. Mas é um assunto só do Judiciário”, disse.
A delegada Joilce Silveira Ramos, da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), disse que Carrelo estava bastande abalado com o ocorrido, o que não o impediu de dar duas versões diferentes sobre o acontecimento. O Ministério Público de Mato Grosso do Sul se posicionou pela prisão preventiva do jovem.
(Texto: Rafael Ribeiro)