Fronteira deixa Mato Grosso do Sul na liderança do mercado ilegal de cigarros no Brasil

Contrabando de cigarros
Foto: Valentin Manieri

Segundo especialista, proximidade do Estado com outros países reduz o custo logístico das quadrilhas

Com mais de 1,5 mil quilômetros de fronteira com Paraguai e Bolívia, Mato Grosso do Sul lidera o ranking do mercado ilegal de cigarros no país. Conforme o levantamento do Ivone Inteligência/ Ipec o produto ilícito domina 86% do comércio de cigarros no Estado, 37 pontos percentuais acima da média nacional. Segundo o presidente do ETCO (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial), Edson Vismona, a grande extensão da faixa de fronteira facilita a ação dos contrabandistas, pois aumenta as alternativas de acesso.

“Além disso, a proximidade entre os países reduz o custo logístico das quadrilhas, o que favorece o mercado do cigarro contrabandeado que, por não pagar impostos, chega ao consumidor bem mais barato que o produto legal que paga os tributos, respeita os regulamentos e gera empregos no país. A vantagem do ilegal é muito grande”, assegurou.

Até porque, mesmo com os efeitos da pandemia, provocando uma alta inédita no dólar, ultrapassando R$ 5, o mercado ilegal não apresentou o mesmo recuo verificado no Brasil. Conforme pesquisa divulgada pelo ETCO, os baixos preços também são um dos fatores do alto índice de participação do crime no mercado de cigarros, que, mesmo com a alta do dólar, o preço médio do cigarro ilícito no Estado subiu de R$ 2,82 em 2019 para R$ 3,91 em 2020, abaixo do preço mínimo definido pela legislação brasileira, que é de R$ 5.

Ainda conforme o levantamento do Ibope, o cigarro ilegal é facilmente encontrado no Estado. E ele não é comercializado apenas em barraquinhas nas ruas ou no comércio informal, 66% dos produtos do crime foram comprados no comércio legal, como bares, mercearias, mercadinhos, bancas de jornal e padarias.

Entretanto, se compararmos o ano passado com 2019, ano sem pandemia, Mato Grosso do Sul apresentou queda de um ponto percentual na participação do cigarro ilícito. A redução foi maior na média nacional, que em 2019 era de 57% e no ano passado caiu para 49%.

“A pesquisa Ibope/Idec é realizada anualmente, desde 2014, e levantará os dados referentes a 2021 no fim do ano. Portanto, não temos como fazer projeções, apesar dos altos índices verificados no Estado. Desde 2018, a participação do cigarro ilegal em Mato Grosso do Sul está acima de 80%”, assegurou Edson.

E assim como o cigarro ilegal lidera o mercado, dados da Receita Federal mostram que 88% dos produtos apreendidos em Mato Grosso do Sul são cigarros. Em 2020 houve um aumento de 17% nas apreensões: foram mais de 56,8 milhões de maços de cigarros apreendidos, o equivalente a mais de R$ 284 milhões.

Inclusive, o presidente do ETCO reconheceu que as forças policiais têm se esforçado para contar o contrabando de cigarros no Estado, citando até a instalação de novos radares de fiscalização aérea e do CIISPR-CO (Centro Integrado de Inteligência de Segurança Pública da Região Centro-Oeste), que começou a operar em agosto.

“Com a integração de equipes de inteligência das forças estaduais, federais, forças armadas e de fiscalização, como a Secretaria Estadual de Fazenda e a Receita Federal, essa atuação coordenada com foco no combate ao crime organizado é fundamental para o melhor resultado das iniciativas policiais”, disse.

 

Clandestinidade representa 49% do consumo

O levantamento do Ibope apontou que, em 2020, a ilegalidade respondeu por 49% de todos os cigarros consumidos no Brasil, sendo 38% contrabandeados, principalmente do Paraguai, e 11% produzidos no Brasil por fabricantes classificadas como devedores contumazes.

Cerca de 53,9 bilhões de cigarros ilegais circularam no país. Mas, com o aumento do preço do ilegal, passando de R$ 3,44, em 2019, para R$ 4,44 no ano passado, o consumidor migrou, pela primeira vez em seis anos, para o produto formal, provocando queda de 8 pontos percentuais do mercado ilícito no Brasil, ao passo que o mercado formal aumentou na mesma medida, chegando a 51%.

 

(Texto de Rafaela Alves)

 

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