Feira Central pode ficar sem investimento de R$ 39 milhões sem nova proposta até agosto

Marcos Maluf e Nilson Figueiredo
Marcos Maluf e Nilson Figueiredo

[Texto: Ana Cavalcante e Kamila Alcântara, Jornal O Estado de MS]

“Educação patrimonial é o caminho para preservação”, defendem entidades durante Audiência Pública

Proposta de reforma na Feira Central sofre mais um impasse por parte do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Nesta terça-feira (7), a negativa, que acontece desde 2018, foi decretada pelo presidente nacional do Instituto, Leandro Grass. Segundo análise técnica realizada, o projeto não pode ser aprovado por inadequação e falta de informações mínimas exigidas pela Portaria IPHAN nº 420/2010. A recusa, contudo, coloca o espaço turístico em risco de perder a reforma.

Há mais de seis anos, proposta de reforma na Feira Central gera imbróglio entre prefeitura de Campo Grande e o Iphan/MS, que recusa o projeto por ir contra a preservação histórica da região. Apesar de a prefeitura persistir com a proposta, que prevê um investimento de 40 milhões no espaço turístico, com uma revitalização que propõe um projeto arquitetônico amplo, moderno e funcional, o despacho, publicado terça-feira (7) nos autos do processo, rejeita o projeto por motivo de: incerteza quanto às alturas dos prédios já existentes no Complexo Ferroviário; assim como o projeto arquitetônico se relaciona com o bem tombado e a falta de detalhes sobre os materiais a serem usados. Ainda, é destacado a situação arqueológica da área.

Correndo contra o tempo, prefeitura precisa viabilizar a documentação sobre a revitalização, conforme o proposto pelo Iphan/MS, até 30 de agosto, prazo estipulado pelo “A Hora do Turismo”, programa que financiará a reforma.

Patrimônio histórico em discussão

A situação de pontos como o Horto Florestal, a Rotunda, Centro de Belas Artes, Calçadão Municipal e muitos outros lugares históricos foram tema de uma Audiência Pública, na Câmara Municipal de Campo Grande, ontem (8). Representantes de órgãos públicos, sociedade civil e associações que lutam pela preservação entendem que é preciso apresentar a importância de cada um desses elementos para que sejam valorizados.

Promovida pelo vereador Ronilço Guerreiro (Podemos), presidente da Comissão Permanente de Cultura, ele apresentou um vídeo com a situação desses lugares com importância histórica na capital e o quão importante seria para a cultura da população.

“Nossa preocupação neste momento é que precisamos pensar nos prédios novos sem deixar os antigos. É triste o que vemos ali na antiga ferrovia, ali onde temos a Rotunda, em que vários prefeitos passaram e fizeram projetos lindos e que encantam. Mas esses projetos pararam no tempo, novos são criados, criados, criados e nós não damos resposta à população”, disse.

A historiadora Maria Madalena Greco, presidente do(Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul), considera até vergonhoso para uma capital ter locais em situação de completo abandono, que poderiam estar colaborando na formação pedagógica dos alunos.

“O Horto Florestal é um espaço da cidade. Temos uma biblioteca que deveria estar atendendo a população, as escolas, e está totalmente abandonado.

Esplanada Ferroviária está toda pichada e é uma vergonha ter um patrimônio de mais de 100 anos daquele jeito”, enfatizou.

Foi a gerente de Patrimônio Cultural da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), Melly Sena, que apresentou como solução a educação patrimonial, para promover o sentimento de pertencimento.

“Um dos nossos focos, enquanto governo, é a questão da educação patrimonial porque realmente a gente não gosta e não valoriza quem não conhecemos. Isso reflete no nosso patrimônio. Tem sido a nossa
tônica de trabalho junto a Educação”, destaca.

Já João Henrique dos Santos, superintendente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em Mato Grosso do Sul, seguiu o mesmo pensamento, mas reforçou que a prioridade da gestão municipal deve ser a entrega do complexo ferroviário.

“Educação patrimonial é o caminho. Não temos como avançar na preservação sem essa educação de base, nas escolas, nas associações de moradores e até para os legisladores. Hoje, a prioridade do município de Campo Grande é o complexo ferroviário da Noroeste Brasil porque é proprietária daquela área”, conclui.

Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook Instagram.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *