Especialistas preveem crise energética com período de estiagem

hidrelétrica

Nível de água nos reservatórios das hidrelétricas neste ano já é o menor registrado desde 2015

Mato Grosso do Sul está próximo de completar um mês sem chuvas. Mas, além do tempo seco e suas consequências, a estiagem no Estado pode ajudar em um problema de nível nacional que promete se agravar nos próximos dias: a crise energética.

Especialistas ouvidos pelo jornal O Estado apontam que a falta de chuva em todo o Brasil pode desencadear o desabastecimento das hidroelétricas responsáveis pelo fornecimento de energia. 

É muito preocupante não só pela geração de energia, mas também pelos impactos na agricultura e disponibilidade de água nas grandes cidades”, afirmou o doutor em Física pela USP (Universidade de São Paulo) Pedro Artaxo.

O cenário fez com que o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) passasse a importar energia de países vizinhos, como Uruguai e Argentina. “Por conta dessa estiagem tivemos uma recarga menor dos reservatórios, tanto para abastecimento urbano quanto de hidrelétricas na Região Sul, o que afetou também parte do estado de São Paulo”, disse o professor do Instituto de Energia da USP Pedro Côrtes.

As hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste terminaram o período de chuva deste ano com o menor nível de água nos reservatórios desde 2015. Esse tronco gerador que responde por mais da metade da capacidade de geração do país. Côrtes afirmou que a situação é “muito difícil” e que a tendência é de que ela se torne mais grave e afete até a recuperação econômica no pós-pandemia.

Reservatórios de hidrelétricas estão com o nível de água abaixo de 50%. O armazenamento de água nesses reservatórios atualmente é o menor para esta época desde 2015 e bem próximo do registrado em 2001, quando o país passou por um racionamento de energia. 

Essa situação é resultado da falta de chuvas nas duas regiões nos últimos meses. De acordo com o governo, o volume de chuva registrado desde outubro é o menor dos últimos 91 anos.

Segundo Côrtes, a estiagem ocorre em razão da sobreposição de duas situações: a redução das chuvas geradas pela chamada zona de convergência na Amazônia e o fenômeno La Niña, que aconteceu desde meados do ano passado até abril deste ano.

“Tem havido redução sistemática das chuvas, ao longo dos últimos dez anos, por conta do desmatamento da Amazônia, o que faz com que grandes reservatórios trabalhem em nível médio abaixo do observado no último século”, disse.

“São dois fenômenos que se sobrepõem: o desmatamento continua acontecendo e a La Niña deve voltar. Os prognósticos não são bons, e o verão 2021/2022 deve ser tão ou mais seco do que o último, dificultando a recarga dos mananciais”, completou o especialista.

Côrtes destacou que a questão do desmatamento “já está pesando no nosso bolso”, com bandeira vermelha na conta de luz. “O cenário deve se agravar, e o governo já adiantou que há a possibilidade de a bandeira vermelha ficar mais cara, o que vai pesar no bolso e atrapalhar a recuperação econômica”, analisou.

O especialista disse ainda que a população deve pressionar os políticos para priorizar energia eólica e a solar. “Temos alternativas que apontam para um futuro melhor, não podemos ficar reféns de uma situação climática como estamos agora.”

(Confira mais na página A6 da versão digital do jornal O Estado)

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