Entrevista da Semana com o Urologista Marcelo Murucci Oliveira Magalhães

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[Por Camila Farias, Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul]

Urologista do Hospital de Câncer Alfredo Abrão defende campanhas como o Novembro Azul, que desperta a consciência coletiva sobre prevenção contra o câncer de próstata

O Novembro Azul, criado em 2011 com o objetivo de alertar para a importância do diagnóstico precoce do câncer de próstata, passou a ser uma oportunidade para conscientizar sobre a saúde do homem de uma forma mais ampla, estimulando a adoção de hábitos saudáveis e exames médicos periódicos, entre outros, segundo o urologista do Hospital de Câncer Alfredo Abrão, Marcelo Murucci Oliveira Magalhães.

Segundo o médico, o foco da campanha continua sendo o combate a tabus relacionados ao exame de próstata, mas também é importante que o homem cuide da saúde como um todo. “A maioria dos homens não costuma procurar o serviço de saúde para exames como esse, e só vêm ao consultório quando sentem algum sintoma e no caso desse câncer pode ser tarde demais. Essa doença costuma ser silenciosa, então quando aparecem os sintomas já pode estar em um estado que já não há mais como fazer”, alerta Marcelo.

O câncer de próstata é uma doença silenciosa. O médico reforça que, assim como a maioria dos tumores, é assintomático. Com isso, aguardar “sinais do corpo” para procurar um profissional pode ser um movimento arriscado e impedir que a doença seja tratada em estágio inicial.

“Com relação à questão dos sintomas de que as pessoas mais se queixam, que é dificuldade pra urinar, acordar várias vezes à noite, mas esses sintomas são gerais, de diversas doenças relacionados à próstata, não necessariamente ao câncer de próstata em si. A segunda questão foi relacionada à pessoa ter sintomas que crescem rápido; o câncer de próstata, na verdade, ele é uma doença que tem um desenvolvimento lento na maior parte das vezes. Nós temos uma pequena parte da população que desenvolve a doença de forma mais agressiva”, informa.

Hospital de Câncer Alfredo Abrão de Campo Grande oferece, neste mês de novembro, atendimentos gratuitos de prevenção contra o câncer de próstata. Os interessados poderão ir ao hospital para a coleta e os atendimentos serão realizados por ordem de chegada, mediante a distribuição de senhas (100 por dia), a partir das 5 horas. A previsão é de 65.840 novos casos desse tipo no país, e em MS estão previstos 1.240 casos novos dessa neoplasia.

O Estado: Quais as possíveis causas do câncer de próstata?

Marcelo Murucci: O câncer de próstata não tem preestabelecida uma causa específica. Os trabalhos científicos mostram uma grande relação com a hereditariedade e também com a etnia negra. Os demais fatores que estão relacionados ao câncer de próstata são: obesidade e o consumo de gordura saturada. Na verdade, estão relacionados a questões de saúde de uma forma geral, então, de início, a gente diz que o câncer de próstata não tem um fator de risco estabelecido.

Mas os fatores de risco mais importantes estão ligados principalmente à hereditariedade e à questão da raça negra, que acaba tendo uma incidência um pouco maior. No Brasil, nós temos uma miscigenação muito grande e a gente acaba agregando risco a todos relacionados à questão da etnia. Porém, com relação à questão da hereditariedade é importantíssimo a gente lembrar dos pacientes que têm parente de primeiro grau com câncer de próstata, com risco muito maior.

O Estado: Como é feito esse diagnóstico?

Marcelo Murucci: O diagnóstico atualmente é baseado inicialmente na avaliação do PSA, que é um exame dosado a partir de um exame de sangue laboratorial, e mais o exame de toque retal.

A importância do exame de toque retal está diretamente relacionada à questão de que aproximadamente 20% dos casos de câncer de próstata eles não estão com o PSA alterado. Então é sempre bom a gente ter uma avaliação complementar com exame de toque. A princípio essas duas avaliações são a rotina inicial para o quadro de diagnóstico precoce e rastreio dos casos.

O Estado: Qual a prevalência do câncer de próstata?

Marcelo Marucci: No mundo todo, em 2020, tivemos 1,4 milhão de diagnósticos. A taxa estimada para Mato Grosso do Sul em 2020 foi de aproximadamente 93 casos para cada mil habitantes, e no Brasil estimam-se aproximadamente 66 mil casos novos de 2020 a 2022. O câncer de próstata representa cerca de 30% das neoplasias malignas nos homens, isso sem considerar o câncer de pele não melanoma.

O Estado: O câncer de próstata é mais comum em alguma faixa etária?

Marcelo Murucci: De uma certa forma ele acontece com mais frequência entre os 50 e os 70 anos. Óbvio que existem os pontos discrepantes. Como por exemplo aqui no Hospital de Câncer, como temos um volume muito grande, já operamos pacientes com 42 e 43 anos, mas também já operamos com 75 e 72 anos. Costuma variar de acordo com o grau de acometimento, estadiamento, que aí já é um ultrassom. Cinquenta, setenta anos seria a faixa de maior acometimento do câncer de próstata.

O Estado: Quais são as características e os sintomas? Eles costumam aumentar rápido ou devagar?

Marcelo Murucci: A questão dos sintomas é a grande importância das campanhas de conscientização porque, na maioria esmagadora dos casos de câncer de próstata, ele é assintomático. Então, quando o paciente começa a apresentar algum sintoma, esse paciente já desenvolveu uma doença avançada para a qual a gente não tem um tratamento curativo mais. Obviamente que a gente tem tratamento, mas não de forma curativa. E, como temos a questão de os sintomas serem pouco evidentes em pacientes com câncer de próstata, a gente sempre incentiva as campanhas para um diagnóstico precoce, mas seriam essas campanhas de conscientização para o tratamento. Com relação à questão dos sintomas de que as pessoas mais se queixam, que é dificuldade pra urinar, acordar várias vezes à noite, mas esses sintomas são gerais, de diversas doenças relacionadas à próstata, não necessariamente ao câncer de próstata em si.

A segunda questão foi relacionada à pessoa ter sintomas que crescem rápido; o câncer de próstata, na verdade, ele é uma doença que tem um desenvolvimento lento na maior parte das vezes. Nós temos uma pequena parte da população que desenvolve a doença de forma mais agressiva. Então, na maior parte das vezes, o câncer de próstata tem um desenvolvimento um pouco mais lento. O que nos permite de uma certa forma ter um prazo de planejamento de tratamento um pouco maior. Alguns casos de câncer de próstata que a gente classifica como muito baixo risco, esses cânceres às vezes a
gente nem inicia o tratamento naquele momento, faz até uma certa vigilância, que a gente chama de vigilância ativa, e acaba tratando o paciente num momento mais adequado.

O Estado: Por que é necessário que seja feito o toque retal? Trata-se de um exame fundamental para a detecção precoce?

Marcelo Marucci: Sim, o exame PSA e o toque retal se complementam, pois, como falamos no início, 20% dos pacientes com câncer de próstata apresentam PSA dentro dos limites da normalidade.

Então, o toque retal é um exame fundamental pra diagnóstico precoce, ele tem essa importância justamente porque um quinto da parcela dos pacientes que terão câncer de próstata eles vão desenvolver PSA normal. Então, nesse caso, às vezes o paciente chega ao consultório e fala: “Eu estou com o exame normal, não precisa fazer o exame de toque”, e muitas vezes a gente tenta explicar da importância de fazer o exame de toque justamente por causa dessa porcentagem de pacientes que não têm o PSA alterado, e acaba fazendo diagnóstico apenas pelo exame de toque.

O Estado: Por que ainda há tanto preconceito e medo da realização do toque retal?

Marcelo Marucci: Bom, acredito que exista uma cultura, a sociedade tem essa questão do machismo muito implantada, enraizado há muitos anos, nós temos um desenvolvimento social que não é condizente com as pessoas procurarem de forma espontânea para fazer esse tipo de exame, por isso a importância das campanhas de conscientização.

Mas, por outro lado, talvez hoje em dia nós não tenhamos tanto preconceito, o paciente chega ao consultório e não há recusa em relação a fazer o exame. A maioria dos pacientes, mesmo os mais idosos, acima de 60 anos, não tem mais esse preconceito tanto quanto antigamente. As pessoas têm se conscientizado e dado importância à saúde do homem de forma geral.

O Estado: Quais os maiores mitos sobre o câncer e também sobre o exame de toque?

Marcelo Marucci: Na verdade o que nós tentamos passar sempre é que o exame de toque não é algo doloroso, é um exame bem simples, rápido, pode ser feito em qualquer consultório, não causa nenhum problema em relação à ereção, masculinidade, ejaculação. Simplesmente é um exame digital com a realização de toda a porção periférica da próstata.

Com relação à doença em si, acho que existem muitas coisas relacionadas aos tratamentos, e às vezes nós temos algumas consequências relacionadas aos tratamentos em cada caso específico, em cada nível. Agora, sobre o desenvolvimento da doença, as pessoas falam muito que, se a pessoa fizer vasectomia, ela terá câncer de próstata e isso é um mito. Mas os pacientes que querem fazer vasectomia sempre perguntam.

O Estado: Campanhas como o Novembro Azul têm ajudado no diagnóstico precoce?

Marcelo Marucci: No ano passado, nesse mesmo período, nós atendemos mais ou menos dois mil pacientes com exames e avaliamos individualmente 200 pacientes, que fizeram o diagnóstico, que eram pessoas com o PSA alterado. E aproximadamente 40 pacientes foram diagnosticados com câncer de próstata desse montante de 2 mil pacientes.

Então, essas campanhas são importantíssimas, porque elas dão visibilidade para a doença, pois às vezes as pessoas não querem falar, não querem pensar que pode acontecer. E essas campanhas fazem com que as pessoas se preocupem em procurar para fazer os exames, que permitem ainda que aconteçam diagnósticos de outras doenças do aparelho urinário.

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