Com dedicação, Valmir plantou mais de 200 árvores em 8 anos

O trabalho solitário e generoso pode ser visto de longe. É impossível não perceber toda a predominância da paisagem verde na Avenida José Barbosa Rodrigues quase cruzamento com a Avenida Pôr do Sol, no Jardim Aeroporto. Apesar de ser uma via de fluxo intenso, é na tranquilidade e no silêncio que Valmir Martins, de 66 anos, faz o trabalho de recuperação e plantio de árvores nativas do Cerrado, que margeiam o córrego. Aquilo que o homem destruiu, seu Valmir faz questão de recuperar, afinal, de acordo com suas humildes palavras, “estamos aqui só de passagem e precisamos deixar um legado”.

O funcionário público realiza esse trabalho na avenida há oito anos com sementes coletadas em seu próprio trabalho no Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul). “Passada a inauguração da avenida eu comecei a plantar em 2012 algumas espécies e tem espécies que nós plantamos direto da semente mesmo. Eu plantei desde o início do bairro Zé Pereira até aqui no Horto. Trabalho na área de meio ambiente e eu coleto várias sementes em vários lugares do Estado. Às vezes nós pegamos as sementes de árvores que estão caindo e fazemos a muda em casa, e eu distribuo também as mudas para várias pessoas, para escolas, para chácaras e tudo gratuitamente”, ressaltou.

Martins sempre realizou o trabalho sozinho e nesses oito anos, acredita que já tenha plantado mais de 200 árvores. “Sempre fiz sozinho, eu venho no fim de semana, pego a enxada e planto. Adquiri gosto por isso porque eu trabalhei no plantio do Parque das Nações Indígenas, nós que ajudamos a desenvolver o paisagismo lá. Fiz parte da equipe que plantou e coletou semente, e eu aprendi a gostar de tudo isso, isso foi de 2000 a 2004, e hoje as árvores já estão adultas e florindo”, pontuou.

Durante o período de quarentena, os trabalhos com a preservação do local foram intensificados e todos os dias pela manhã Valmir, sem falta, limpa e cuida do local que infelizmente conta com muito lixo eletrônico e restos de entulhos. “Tem muito lixo espalhado porque nessa mudança da tecnologia, as pessoas acabaram descartando os aparelhos aqui. Às vezes as pessoas vêm com folhas e galhos de seus quintais e jogam aqui, pensam que estão fazendo o bem porque esse material vai se decompor, mas, ao mesmo tempo, aquilo ali pode provocar queimadas”, frisou. Valmir contou que as árvores mais antigas sofreram com, pelo menos, duas queimadas, provocadas por pessoas que ainda usam o fogo para eliminar restos de folhas e lixo. “Por duas vezes aconteceram queimadas aqui, o que prejudicou várias árvores, e agora estamos repondo com espécies frutíferas. Eu quero plantar goiaba, outras espécies também para alimentar a fauna local, os bichos do local”, disse.

Por mais que o ser humano continue contribuindo com a degradação do meio ambiente, Valmir possui uma visão otimista e acredita que o futuro será melhor, promissor e proporcionará consciência ambiental. “Eu acho que na medida que as árvores começarem a florir, vai causar um impacto visual e as pessoas vão começar a sentir vergonha de jogar o lixo aqui.” O voluntário reiterou que o trabalho de paisagismo é mesclado. “Intercalamos os ipês e os jacarandás, e a parte de frutíferas tem a bocaiuva, tem a manga, pitanga, tem várias espécies plantadas que servem tanto para os animais e servem para as pessoas também”, ressaltou.

Segundo Valmir, todos nós temos de deixar uma marca no mundo de forma positiva, ele espera que, no futuro, o seu cuidadoso trabalho faça com que a vida das pessoas que moram no bairro, ou que estão apenas de passagem pela avenida, seja um pouco melhor. O objetivo é que a paisagem recuperada seja uma oportunidade de conexão com a natureza. “Quanto mais contato com a natureza melhor é a qualidade de vida, vejo que as pessoas nos prédios, elas sentem a necessidade de ir em local turístico e bonito para sentir a natureza”, reiterou.

O senhor simpático, com uma conversa acolhedora e com mensagens de sabedoria, finalizou a conversa com O Estado explicando o que espera o porvir. “A ideia disso aqui é que no futuro eu imagino essa avenida toda florida para que o filho do morador vizinho aqui possa vir e sentar debaixo de uma árvore para estudar para um vestibular, um idoso caminhar e apreciar a vista, é isso que é bom para a vida. As paisagens elevam a autoestima e uma coisa que eu penso é que passado esse momento da pandemia, as pessoas vão precisar de algo que eleve o astral. Acredito que todas as atitudes de todo mundo que foi atingido [pela pandemia] precisam ser positivas pois o planeta é a nossa casa e é o local que temos de preservar”, finalizou.

(Texto: Mariana Moreira/Publicado por João Fernandes)

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