Com 787 registros, Campo Grande lidera estatísticas de acidentes com escorpiões no Estado

escorpião
Foto: Reprodução

Mato Grosso do Sul enfrenta uma crescente preocupação com o aumento significativo nos casos de acidentes com escorpiões, especialmente nos meses de agosto e setembro, período de reprodução desses animais, agravado pelas altas temperaturas. O primeiro trimestre de 2023 já registra o maior número de ocorrências desde 2020, acendendo um alerta para a população.

A espécie mais prevalente no estado é o Tityus serrulatus, conhecido como escorpião-amarelo. Com pernas e cauda amarelo-claro e tronco escuro, essa espécie é a principal responsável por acidentes graves, podendo levar a óbito, especialmente em crianças. Esses animais, frequentemente encontrados em terrenos baldios e esgotos, têm invadido residências por meio dos ralos da cozinha e banheiro, representando uma ameaça séria à segurança da população.

Segundo dados do Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica), vinculado à SES (Secretaria de Estado de Saúde), o estado já contabilizou assustadores 3.012 casos de acidentes com escorpiões até o momento em 2023. Este número representa quase a mesma quantidade de acidentes registrados durante todo o ano de 2022, e isso apenas nos nove primeiros meses do ano.

Campo Grande, a capital, lidera as estatísticas, registrando 787 acidentes até o momento. Outros municípios também apresentam números preocupantes, ultrapassando a marca dos 100 casos, incluindo Três Lagoas (431), Paranaíba (189), Corumbá (133), Dourados (110), Brasilândia (106) e Cassilândia (104).

Flavia Menezes, advogada, revelou sua preocupação com a frequência do aparecimento dos escorpiões em sua residência. Flavia relatou ter encontrado mais de 10 escorpiões, todos provenientes da rede de esgoto, apesar das medidas tomadas, como dedetização e orientações do CCZ. Com três crianças em casa, incluindo um bebê de 7 meses, Flavia está considerando mudar-se, mas a dimensão do problema na cidade a impede. Ela questiona a responsabilidade da empresa de saneamento diante da infestação, destacando quatro mortes de crianças este ano.

Foto: 10º escorpião encontrado em residência de advogada levanta questionamentos do papel do saneamento básico de esgoto na capital/ Flavia Menezes

 

“Na minha casa, já foram mais de 10 encontrados, todos vindos da rede de esgoto. Já dedetizamos, o CCZ já veio, usamos venenos com frequência e tenho barreiras físicas nos ralos. Tenho 3 crianças, entre elas um bebê de 7 meses. Estou avaliando me mudar, mas o que me impede é que sei que a cidade está tomada. Quantas crianças mais precisarão morrer para que o poder público cobre a responsabilidade da empresa de saneamento, pois pagamos por um esgoto tratado e, em contrapartida, estamos recebendo infestação de escorpiões. Este ano foram 4 crianças mortas. E o que vemos é o silêncio conivente de quem deve fiscalizar.” questiona a advogada.

Atuação do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ)

Kelly Godoy, médica veterinária do Centro de Controle de Zoonoses, destaca a atuação do Serviço de Controle de Roedores, Animais Peçonhentos e Filantrópicos no município de Campo Grande. O CCZ realiza desinsetização por demanda espontânea, respondendo aos pedidos da população. Uma equipe é enviada ao local, realiza vistorias e oferece orientações sobre barreiras físicas para evitar acidentes.

Kelly também ressalta as ações de desinfecção em órgãos públicos, principalmente escolas e secretarias. Além disso, a coordenadoria realiza a identificação das espécies, seja pela população ou durante vistorias. A partir do próximo ano, iniciará um processo de educação em saúde, focado em educação ambiental nas escolas e unidades de saúde, visando a prevenção de acidentes, especialmente com escorpiões. Um dos pontos-chave da atuação da coordenadoria é a educação em saúde. A partir do próximo ano, nos meses de janeiro e fevereiro, será iniciado um processo focado em educação ambiental nas escolas e unidades de saúde. O objetivo é fornecer orientações para a prevenção de acidentes, com especial atenção para o aumento de ocorrências envolvendo escorpiões.

A médica destaca o parâmetro de número de casos de aparecimento de escorpiões nas regiões de Campo Grande entre 2022 e 2023. Apesar do aumento dos casos em comparação a 2020 no Estado de Mato Grosso do Sul, os ataques com o animal foram diminuídos neste ano, somente na capital em relação a 2022. Confira a tabela:

 

Porém, diante da necessidade de ampliar o alcance e facilitar a comunicação com a população, a coordenadoria está implementando um serviço de atendimento via WhatsApp. Esse canal proporcionará não apenas informações sobre medidas preventivas, mas também permitirá a solicitação de serviços de desinfecção, desratização e orientações para o controle de outros animais filantrópicos, como pombos e caramujos. Com o projeto ainda em andamento, o canal para atendimento é o (67) 20201796.

Reconhecendo a importância da pronta resposta a acidentes com animais peçonhentos, a coordenadoria realizará vistorias aos finais de semana nas casas daqueles que sofreram acidentes. Essa iniciativa busca garantir que nenhum caso seja deixado sem atendimento, especialmente quando as vistorias durante a semana não são suficientes.

Concessionária e o Tratamento de Esgoto

Jefferson Gonçalves, assessor das Águas Guariroba, concessionária responsável pelo saneamento básico, esclareceu o papel da empresa em relação à proliferação desses animais e que as medidas da concessionária visam reforçar as orientações sobre cuidados, especialmente em relação à manutenção e limpeza dos locais que servem como habitat para os escorpiões. Ele destaca que tanto a rede de esgoto, as caixas de gordura quanto a rede de drenagem acabam sendo meios, mas não a causa do problema.

Ao falar sobre o tratamento de esgoto, Jefferson enfatizou que todo o processo ocorre nas estações, não nas residências. A coleta dentro das casas, direcionamento dos resíduos até a estação, tratamento preliminar (com a retirada de resíduos sólidos) e o tratamento por meio de reatores são partes fundamentais desse processo. Somente após essa etapa, o esgoto é devolvido ao meio ambiente.

Entretanto, ele esclarece que a relação do escorpião com a rede de esgoto é um processo adaptativo do animal, que busca ambientes escuros, como caixas de gordura, encanamentos e redes de drenagem, para se esconder. A concessionária, portanto, atua no sentido de reforçar os cuidados preventivos, uma vez que não pode utilizar produtos específicos para infestação, evitando interferir no tratamento de esgoto e não comprometer o meio ambiente.  Ele esclarece que o tratamento de esgoto ocorre nas estações e não diretamente nas residências.

A orientação da Águas Guariroba se alinha às recomendações da vigilância ambiental em relação à proliferação de escorpiões. Esses animais, que têm preferência por ambientes escuros, quentes, úmidos e com lixo acumulado, representam uma ameaça à segurança das residências. Por isso, a população é orientada a seguir as recomendações da Vigilância Sanitária, como redobrar os cuidados com a limpeza e manutenção das caixas de gordura e esgoto, além de instalar telas de proteção nos ralos e janelas para evitar a entrada desses animais em casa.

Diante da ineficácia comprovada de inseticidas contra escorpiões e do risco que o uso de venenos pode representar, a concessionária destaca a importância da conscientização da comunidade para a prevenção, colaborando para reduzir o risco de acidentes e garantir um ambiente mais seguro para todos.

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