Ciência na educação pública: alunos produzem cosméticos aliados a sustentabilidade em projeto

Foto: Divulgação
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“Os cientistas do futuro estão na educação básica e o recrutamento precisa chegar na escola pública”, acredita a professora Daniely Ferreira de Queiroz, doutora em Química pelo IQSC/USP (Instituto de Química de São Carlos) que com alunos do ensino médio da Escola Estadual Teotônio Vilela, no bairro Universitário, realiza projeto que une química e sustentabilidade na criação de cosméticos.

O projeto “Química dos Cosméticos: Desenvolvimento de métodos biotecnológicos em Cosmetologia” ganhou vida por meio do Pictec (Programa de Iniciação Científica e Tecnológica de MS) que contempla professores e alunos do Ensino Médio com bolsas de iniciação cientifica.

Sob as orientações de Daniely, os estudantes Daniel Vitoriano Santos, Gabriela da Gama dos Santos, Laíssa Borges Nunes e Nathalia Morais Barboza, todos com 17 anos e cursando o terceiro ano, puderam participar do programa e garantiram bolsas de R$ 400 reais durante 12 meses.

A professora viu no Pictec a chance de despertar nos alunos o gosto pela química, promover o empreendedorismo escolar e trabalhar com a cosmetologia aliada à sustentabilidade. Diariamente a equipe pesquisa e produz cosméticos naturais para o cuidado com a pele e cabelo.

“São produtos fabricados com bases vegetais, não testados em animais e asseguram bem-estar para nossa saúde ao promover firmeza, hidratação, entre outros benefícios, sem causar danos ao tecido celular da pele. Isso porque não envolvem nenhum tipo de óleo mineral, derivados do petróleo e metais pesados (petrolato), como a grande maioria dos cosméticos mais comerciais”, explica Daniely Queiroz.

Daí surgiu a “Curie Cosmetologia Natural” que é a marca do projeto. “O nome foi inspirado na primeira cientista mulher da história, Marie Curie, ganhadora de dois prêmios Nobel, em Química e Física, e claro, uma inspiração para todas as mulheres da ciência. A maioria das atividades da Curie são realizadas no nosso Lacobio (Laboratório de Cosmetologia Natural e Biotecnologia) que funciona dentro da escola.  Não tinha forma definida quando começamos, mas com esforço, compramos todo o necessário. E isso só foi possível devido às bolsas concedidas pela Fundect”, conta a professora.

Os alunos de Daniely não só aprendem os conceitos básicos de química, na prática, como também decodificam a linguagem dos artigos científicos para a produção dos cosméticos, ministram palestras sobre o assunto e, recebem mini cursos de inglês, boas práticas de laboratório, vidraria e redes sociais.

A estudante Laísa Borges, após aprender sobre o trabalho de Curie, pretende seguir carreira na Química, como Daniely Queiroz.

“O projeto me proporciona toda a experiência maravilhosa no laboratório e fora dele também, mostrando de verdade como é a pesquisa científica. Tudo o que nós aprendemos aqui também é utilizado na nossa vivência no dia a dia. Esse conhecimento tem grande peso na escolha de curso para a graduação pois, como é algo que estou bem apegada, aumenta a vontade em explorar mais o universo da ciência”, esclarece a aluna.

Para Nathalia Morais Barboza, o trabalho realizado no projeto é uma pequena demonstração de como os cientistas são importantes para o planeta. “Ser cientista é ter a capacidade de mudar o mundo e poder melhorar as condições de vida das próximas gerações. Além disso, é uma pessoa que reinventa tudo ao seu redor e cria métodos seguros, responsáveis e conscientes”, defende.

Complementando a ideia dos colegas, Gabriela da Gama dos Santos iniciou a caminhada científica pelo sentimento de fazer o bem ao próximo, principalmente no ambiente em que vive.

“Eu quis trabalhar com ciência assim que vi a proposta do projeto, já que ele trabalha no bem-estar das pessoas e no cuidado com a natureza. Eu adoro contribuir para a autoestima da comunidade através da elaboração de cosméticos como os da Curie”.

Daniel Vitoriano Santos debate a inovação apresentada pelas colegas ao expor a relevância da sustentabilidade unida à ciência. “Ao produzirmos e utilizarmos produtos sustentáveis, estamos contribuindo para o meio ambiente uma vez que a Indústria Cosmética é uma das que mais consomem recursos hídricos no mundo. Um exemplo do nosso cuidado com a natureza é a fabricação de alguns insumos que não necessitam de água em sua composição e são ricos em outros aditivos naturais. É algo inovador se compararmos aos cosméticos convencionais que possuem 80% do líquido em sua base de formulação”, ressalta.

Produtos

A equipe já produziu cerca de 20 tipos de produtos, divididos entre linha facial (água micelar, sérum, creme de base neutra e lipbalm) e linha capilar (shampoo, condicionador e máscara). Todos os cosméticos são fabricados com matérias-primas vegetais como melaleuca, aloe vera, licuri, macadâmia, maracujá, rícino, entre outros elementos, e possuem o selo de qualidade da Ecocert Brasil, uma das maiores empresas certificadoras de soluções orgânicas do País.

Conforme o trabalho foi se desenvolvendo, além das bolsas da Fundect, o grupo passou a ter a colaboração da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) no acesso a insumos e laboratórios.

A professora Daniely não esconde o orgulho pelos pupilos que são referência em protagonismo acadêmico. “Eu tenho certeza que meus alunos têm a oportunidade de trabalhar, conhecer e vivenciar a ciência de verdade. A gente só alavanca um país com ciência, tecnologia e inovação”.

Pensando no futuro

Quando questionados sobre os próximos passos, a resposta da equipe foi unânime: “Queremos mais do que o projeto!”.

Conforme Daniely, as ações da Curie estão progredindo positivamente, recebendo grande adesão e interesse da comunidade escolar Teotônio Vilela. O próximo debate está relacionado ao que construir a partir da Curie Cosmetologia Natural.

“O projeto está avançando tão bem por ser algo que estimula o empreendedorismo de cada um. Futuramente pretendemos submetê-lo a outro programa da Fundect, o Centelha que ajuda as startups. Por que não uma pequena empresa ou incubadora dentro da escola? Trabalhar ideias inovadoras é nosso principal foco. Que possamos promover também o setor de comércio, tornando possível a inserção da comunidade local em um mercado que está em franca expansão, como é o caso da indústria da beleza”, destaca a professora.

Com informações do Fundec

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