Ginecologista fala da infância feliz e do orgulho de ver pacientes vacinados hoje
Com descendência libanesa e portuguesa, a médica ginecologista e obstetra Maria Auxiliadora Budib cresceu imersa na arte e foi criada junto a uma família grande e tradicional. Estudou balé, teve aulas de piano e sempre se reunia com os familiares. Maria Auxiliadora se formou jovem em Medicina, e contabiliza cerca de cinco mil partos em Campo Grande. Hoje ela atua ativamente na linha de frente em combate à pandemia.
“Eu amo Campo Grande, amo a música, amo o céu, as araras e amo meu trabalho”.
“Minha infância sempre foi muito pautada pela família. Éramos todos juntos – primos, amigos. Fui criada no Jardim dos Estados, casa em que meu pai mora até hoje”, conta a médica. Os avós foram personagens importantes para Campo Grande e o bisavô foi o primeiro maestro de Mato Grosso do Sul, o professor Elvídio de Campo Vidal.
“Já o meu avô materno foi fundador do Operário Futebol Clube, de Campo Grande, então eu tenho grandes recordações do meu avô e do nosso time do coração, o Operário. Íamos aos jogos do Comerário aos domingos, no Morenão. Então, todas as recordações da infância em Campo Grande são as mais doces”, relembra.
Maria Auxiliadora estudou no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora durante o Ensino Fundamental e completou o Ensino Médio no Colégio Dom Bosco, instituições tradicionais de Campo Grande. Aos 17 anos ela iniciou a Faculdade de Medicina na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, se casou e engravidou durante o período de formação. “Eu me casei no 4º ano de Medicina, engravidei durante a residência médica. Fiz alguns partos enquanto estava gestante.
“Hoje já sou avó”, destaca. A médica disse que a obstetrícia veio com um papel de reconhecimento pela vida e que queria trabalhar com o início de famílias, além de ajudar no nascimento de campo- -grandenses. “O pessoal me chama de ‘tia cegonha’”, diz em tom divertido.
“Eu me recolhi, fiquei isolada; quando eu chegava em casa eu fazia um ritual. Eu tinha medo até mesmo de usar elevador e observei que pessoas que antes nos admiravam passaram a ter medo”.
Mudanças de planos
Maria Auxiliadora Budib é hoje coordenadora de Assistência à Saúde da Cassems e atua na linha de frente no enfrentamento à pandemia da COVID-19. A médica viu de perto as transformações na saúde com a chegada da doença.
“Estou na gestão da crise atuando como médica e também como gestora. São dez hospitais em rede no Estado. Nosso maior hospital aqui na Capital, a rede de saúde de Campo Grande, juntos em comitê de crise, eu vejo que tivemos uma gestão pública muito boa. Tivemos uma campanha voltada para o aumento de leitos, conscientização, fechamento da cidade no início da pandemia, que foi fundamental”, esclarece.
O fechamento de Campo Grande, segundo ela, foi necessário e importante para organizar o mais rápido possível uma estrutura maior do que a Capital já tinha para iniciar os atendimentos aos pacientes com COVID-19.
“Tivemos mortes, sim, que são muito sentidas, mas não tivemos falta de suporte da rede. Eu vejo que Campo Grande pode dizer que teve uma gestão humanizada da crise. Que saiu, sim, com seus débitos, mas tem uma carta de crédito pelo que tem feito pelo cidadão como um todo”, avalia.
Ela frisa que o período de pandemia foge da teoria apresentada em sala de aula nas universidades. O último registro que se tinha era da gripe espanhola que iniciou em 1918, dentro de um contexto diferente do que se vive hoje. Já a COVID impactou milhares de brasileiros e afetou psicologicamente muitos profissionais que atuam na saúde.
“Os colaboradores da saúde passaram por vários estágios. Um deles antes da vacina. Nós tínhamos medo de morrer, de infectar os nossos familiares. Eu me recolhi, fiquei isolada, quando eu chegava em casa eu fazia um ritual. Eu tinha medo até mesmo de usar elevador e observei que pessoas que antes nos admiravam passaram a ter medo”, conta.
Budib salienta que só depois da vacinação foi possível trabalhar com mais serenidade, já que não havia o sentimento de estar constantemente ameaçando a vida do outro.
Escalas sobrecarregadas, desenvolvimento de doenças psicológicas, perdas de colegas e pacientes foram grandes desafios enfrentados durante o período. “Perdi dois pediatras, da minha equipe, amigos e companheiros de 25 anos de luta e sala de parto, para a COVID. Quando você vê um colega indo embora e você ficando, a gente pensa qual será o nosso papel diante daquilo tudo. Foi impactante para todos nós”, destaca.
Com o avanço da vacinação na Capital o cenário melhorou de forma significativa. Os números de mortes e internações diminuíram em Campo Grande e Maria Auxiliadora Budib fala com felicidade dos resultados da campanha.
“Eu vejo jovens que nasceram comigo se vacinando contra a COVID-19, e me postando nas redes sociais”, comemora.
Até hoje a obstetra não parou de atender as mulheres grávidas que chegam a sua clínica. “Eu amo Campo Grande, amo a música, amo o céu, as araras e amo meu trabalho”, finaliza ela, orgulhosa de ter abraçado sua profissão.
(Texto de Beatriz Magalhães)