Auxílio diesel de R$ 400 não cobre sequer trecho de 200 km

Valentim Manieri
Valentim Manieri

Para caminhoneiros, benefício anunciado pelo governo não é suficiente

O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta semana a criação de uma ajuda financeira para os caminhoneiros autônomos do país. Segundo o comunicado do chefe do Executivo, o valor do “auxílio diesel” seria de R$ 400. Para profissionais da categoria em Mato Grosso do Sul, o valor não seria suficiente para arcar com as despesas do combustível, que já registra várias altas neste ano.

Com o subsídio, um motorista não chegaria a completar uma viagem de 229 quilômetros, entre Campo Grande e o município de Dourados, por exemplo. Para a base de cálculo, foi utilizado o preço do litro do diesel comum de um posto da Capital, cotado a R$ 4,99, à vista. Considerando um consumo médio de dois quilômetros por litro, uma carreta percorreria apenas 200 km. Assim, R$ 400 pagam somente 80 litros do combustível.

Para o caminhoneiro Silvio Antonio, a cifra não ajuda os profissionais do ramo, pois os ganhos com o frete têm sido consumidos pelos gastos com o diesel. “Isso aí não vai resolver o problema. O frete hoje está muito defasado. O óleo diesel está levando 70% do valor do frete.”

Eu tenho um amigo que está puxando minério de Corumbá para Suzano, em São Paulo, e ele diz que o frete custava R$ 300 por tonelada. Agora está em R$ 280. Se não há caminhão, eles pagam um ‘x’, e quando chega caminhão eles baixam o preço. Esse auxílio é igual beija-flor puxando água no bico para apagar um incêndio florestal”, avaliou.

Sem indicar a origem do dinheiro que deve bancar o “auxílio diesel”, o governo federal informou que o benefício perduraria até dezembro de 2022 e contemplaria cerca de 750 mil caminhoneiros autônomos. A iniciativa custaria aproximadamente R$ 4 bilhões aos cofres públicos. De acordo com Emerson Vilela, motorista carreteiro transportador de combustível, a ajuda é melhor que nada, mas demorou a ocorrer.

“Eu acho que não é suficiente, mas foi a única ideia para ajudar lançada até o momento. Em termos de gasto e consumo, R$ 400 não é nada. Uma ‘tanqueada’ é R$ 3 mil e pouco. Eu, por exemplo, gasto mais de R$ 10 mil rodando aqui na Capital. Mas demorou demais esse auxílio. É porque apertou o calo, e aquela primeira greve mostrou que realmente parou o país”, analisou Vilela.

Elogiando a proposta do Executivo, o caminhoneiro Thiago Adames afirma que o programa é bom e irá ajudar os motoristas. “Eu acho que todo tipo de ação que beneficia o caminhoneiro já melhora nossa situação. Essa ajuda de custo é para subsidiar o que a gente gasta com o diesel, o que vai fazer cair bastante a despesa com esse combustível. Isso demonstra que o governo se preocupa com os caminhoneiros.”

Paralisação nacional

A medida do governo ocorre mediante organização de paralisação nacional dos caminhoneiros, programada para o próximo dia 1º de novembro. Além de reivindicar preços mais baixos sobre o diesel, esses trabalhadores pedem valor mínimo do frete rodoviário e aposentadoria especial para a categoria aos 25 anos de trabalho.

Texto: Felipe Ribeiro

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