A imagem do pai que “ajuda” nas tarefas de casa e nos cuidados com os filhos ainda é comum no imaginário brasileiro. Mas há um movimento silencioso — e transformador — que vem mudando essa realidade: homens que assumem a paternidade de forma plena, dividindo responsabilidades de maneira equilibrada e presente.
A chamada paternidade real não é feita de visitas ocasionais ou de gestos pontuais, mas da rotina diária, da atenção às necessidades físicas e emocionais das crianças e da parceria concreta na divisão das tarefas domésticas.
Em Campo Grande, a história de vida de Kenzo Minata ajuda a ilustrar essa mudança. Ele é o responsável direto pelos dois filhos mais velhos, Caio e Ryu, e divide de forma igualitária o cuidado com a caçula, Lara, ao lado da mãe dela, Mariana Mendes.

Foto: Roberta Martins
A primeira experiência com a paternidade veio de forma inesperada. “Foi uma gravidez não planejada, eu estava prestes a deixar o Brasil, num momento muito difícil.A chegada do Ryu foi o que literalmente me salvou. Nunca mais tive crises depressivas, nunca mais fiquei mal como antes”, relembra. Uma realidade ainda rara, mas que aponta caminhos possíveis para o futuro das famílias.
Mais que presença: corresponsabilidade
“Um bom pai é um pai que tenta ser o mais próximo possível de uma mãe”, diz Kenzo, refletindo sobre a sobrecarga histórica que recai sobre as mulheres. Sua rotina envolve desde preparar refeições e organizar a casa até acompanhar de perto a escola, a saúde e o bem-estar dos filhos. “É um mestrado prático em paciência. Tem que estar todo dia exercendo para não deixar o estresse chegar neles”, afirma.
Sem rede de apoio constante, ele e Mariana organizam a rotina de forma equilibrada: enquanto um cuida das crianças, o outro prepara a casa ou as refeições. “Aqui em casa a gente é muito ligado em música. Tento virar a chavinha da correria ficando com as plantinhas e ouvindo um som”, conta. Mariana reforça: “Se eu esqueço alguma coisa, ele percebe e resolve. É leve, sem sobrecarga.”
Ruptura de padrões
A paternidade real exige mais do que amor: pede renúncia, adaptação e disposição para aprender. No caso de Kenzo, significou mudar de profissão e abrir mão da vida noturna no trabalho para ter horários compatíveis com a rotina dos filhos. Antes, ele era proprietário da Brava e da Resista, espaços culturais que exigiam atuação até altas horas da madrugada. “Tive que adequar e mudar de trabalho para conseguir conciliar tudo”, explica.
Essa escolha rompe com a ideia de que o pai é apenas “ajudante” ou “visitante” no dia a dia da criação. Aqui, ele é corresponsável por tudo: higiene, alimentação, apoio escolar, limites e afeto. “Mesmo nessa correria insana, não teria rotina que eu queria mais do que essa loucura com as crianças”, garante.
O que a paternidade real ensina
Neste Dia dos Pais, a reflexão vai além da homenagem: é sobre repensar o que significa ser pai no século 21.Histórias como essa mostram que exercer a paternidade plenamente não é sobre perfeição, mas sobre compromisso.
“Se você está exercendo a paternidade e não está cansado, provavelmente está sobrecarregando uma mulher”, reflete Kenzo. É estar disponível não apenas nos momentos fáceis, mas também na correria, na bagunça, no cansaço e nas renúncias que a criação de filhos exige.
Por Suelen Morales