COMO É ISSO?
Existem centenas de doenças reumáticas e que atingem milhões de brasileiros. Várias dessas doenças reumáticas acometem as articulações, músculos, ligamentos, tendões, pele, coração, rins, pulmões, cérebro e… os olhos!
O acometimento ocular pode se dar por lesões inflamatórias de qualquer região, como os vasos da retina, na córnea, na conjuntiva ou na esclera (parte branca do olho).
É muito difícil o paciente atribuir a uma doença reumática a sua queixa ocular, normalmente quando a pessoa sente vermelhidão, dor, embaçamento ou redução da visão, ela procura um oftalmologista que, ao conhecer as queixas sobre a evolução e os sintomas, irá realizar exames específicos, podendo suspeitar de alguma doença sistêmica, entre elas uma doença reumática.
QUAIS DOENÇAS REUMÁTICAS PODEM AFETAR OS OLHOS?
Muitas vezes, o acometimento ocular é a primeira manifestação de uma doença reumática. Daí a necessidade de procurar atendimento médico o mais cedo possível.
Algumas das doenças reumáticas que podem acarretar doença ocular:
– SÍNDROME DE SJÖGREN – é uma doença inflamatória, autoimune, de evolução crônica, que tem por características o processo inflamatório das glândulas salivares e lacrimais, assim como de todas as outras glândulas, ocasionando na produção e na qualidade das secreções produzidas, como a saliva e a lágrima, levando a um quadro de boca seca e olhos secos. Os sintomas oculares, decorrentes da diminuição da lágrima, são ardência ocular, coceira, dor, infecções de repetição, podendo levar a um processo de lesão da córnea de forma grave.
– ARTRITE REUMATOIDE – é uma doença inflamatória e autoimune, de evolução variável, que acomete principalmente as pequenas articulações (como as articulações dos dedos) e grande (como joelhos e quadris), mas que podem acometer os olhos, levando a processos inflamatórios, como conjuntivites, esclerites e diminuição na produção da lágrima (olho seco).
– LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO – é uma doença de acometimento sistêmico, que além das articulações, inflama e lesa os vasos sanguíneos que irrigam todos os órgãos do organismo, podendo acarretar lesões irreversíveis, entre eles os olhos, levando à diminuição parcial ou completa da visão, por lesão dos vasos da retina e de outras estruturas.
– DOENÇA DE BEHÇET – doença reumática que tem por característica inflamação e trombose de vasos sanguíneos das mucosas, como da boca (aftas), do trato digestivo e cérebro. Nos olhos, a inflamação denominada de uveíte, pode levar a vermelhidão, dor e dificuldade da visão, de forma repetida e que, se não tratada pode levar à cegueira.
– ESPONDILOARTRITES – é um grupo de doenças reumáticas que podem afetar as articulações dos membros superiores e inferiores e a coluna vertebral. Compõem esse grupo de doenças a espondilite anquilosante, a forma indeterminada, associada à psoríase, às doenças inflamatórias intestinais (doença de Chron e Retocolite Ulcerativa) e as reativas (decorrentes de processos infecciosos). A lesão ocular mais frequente nesse grupo é a uveíte de repetição, que pode levar à perda da visão, se não diagnosticada e tratada. Outros processos inflamatórios, como ceratite (inflamação da córnea) e conjuntivite podem ocorrer
– POLIMIALGIA REUMÁTICA / ARTERITE TEMPORAL – é uma doença da pessoa acima dos 50 anos, que leva dor e perda da força dos ombros e quadris e quando associada à inflamação da artéria temporal e seus ramos, ocasiona além de dor de cabeça latejante de forte intensidade, visão dupla ou turva ou mesmo cegueira.
QUAL O TRATAMENTO?
Quanto mais cedo o paciente procurar o oftalmologista e ter o diagnóstico firmado, melhor é a evolução. O tratamento deve ser em conjunto com o reumatologista e o oftalmologista.
O tratamento vai depender do diagnóstico da doença reumática que está por trás do acometimento ocular.
Via de regra, são recomendados colírios, pomadas, anti-inflamatórios e imunossupressores. Lembrar que o uso de algumas medicações pode levar a alterações da visão e, nesse caso, o médico terá de reorientar o tratamento. Como lembrete final: nem todo problema nos olhos é decorrente de uma doença local, devendo ser investigada a presença de doença sistêmica, que pode ser a responsável pelo quadro ocular.
Professor titular da Famed da UFMS, professor do curso de pós-graduação de saúde e desenvolvimento do Centro-Oeste, da UFMS; coordenador do programa de residência médica em reumatologia, do Humap/Ebserh/UFMS; titular da cadeira 23, da Academia Brasileira de Reumatologia.
Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.