Coluna: Entre Linhas, com Gabriel Pollon
O brasileiro é reconhecido mundialmente pelo seu senso de humor e capacidade de rir de sua própria tragédia. Com o advento das redes sociais, o humor brasileiro ganhou o mundo, seja pelos perfis humorísticos que pululam nas redes sociais, seja pela farta produção de memes, que nada mais são do que imagens de temas atuais, trazendo consigo alguma pitada de humor, o que facilita a propagação viral.
A capacidade de um povo fazer humor denota sua inteligência, sendo sua expressão mais sofisticada a ironia e o sarcasmo, que só poderão ser entendidos por pessoas dotadas do feeling necessário para a captação da “graça”
A internet trouxe o debate público para a palma da mão das pessoas, e, como não podia deixar de ser, o humor passou a ocupar importante espaço nas redes sociais. Quem não se lembra dos perfis humorísticos “Gina Indelicada”, “Nazaré Amarga”, “Irmã Zuleide”, que já nos garantiram boas risadas.
Sabemos que o humor está diretamente relacionado à liberdade, sendo fato que, em regimes ditatoriais, os comediantes, muitas vezes, são perseguidos e, não raras vezes, presos e torturados, como é o caso do mianmanês Maung Thura, crítico ao regime instaurado no país, que em 2008 foi condenado a sessenta anos de prisão.
A partir da virada do século, temos percebido um movimento global no sentido de retirar a liberdade dos indivíduos, por meio do que se chama comportamento “politicamente correto”, o que nada mais é do que um meio de cerceamento à liberdade de expressão, transformando quem ousar ultrapassar essa barreira em propagador de ódio e intolerância, e por aí vai.
Os “patrulheiros do pensamento” têm restringido o debate público cada vez mais, sempre em prol de “um mundo melhor”, é claro. Nesse sentido, os indivíduos que possuem opiniões divergentes à ideia dominante acabam por sofrer pressão para que as omitam, sob pena de serem isoladas socialmente, chegando, às vezes, ao fenômeno do cancelamento, o que corresponderia a um banimento da ágora digital.
Esse fenômeno de impotência individual em face do pensamento dominante foi conceituado em 1977, pela cientista política alemã Elisabeth Noelle-Neumann, recebendo o nome de Espiral do Silêncio.
Pois bem, nessa semana veio a público que os Ministérios Públicos Estadual e Federal iniciaram uma investigação sobre o perfil Joaquim Teixeira Oficial, perfil satírico que ironiza a figura do idoso, “tiozão”, mais ou menos no mesmo tom do personagem deputado João Plenário, do programa “A Praça É Nossa”.
Diante da investigação, o detentor do famoso perfil viu-se obrigado a firmar acordo de não persecução penal, tendo que arcar com pesadas multas, das quais não teria condições de pagar, não fosse a solidariedade de seus seguidores, que permitiram que o perfil satírico continuasse ativo.
Democracia relativa é isso. Hoje foi o Joaquim Teixeira Oficial, amanhã poderá ser você.
“Sabemos que o humor está diretamente relacionado à liberdade, sendo fato que, em regimes ditatoriais, os comediantes, muitas vezes, são perseguidos e, não raras vezes, presos e torturados”, diz Gabriel Pollon
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