O BBB é a sociedade brasileira?

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Foto: reprodução

O Big Brother Brasil (BBB) para além de um programa vendido como de entretenimento é um laboratório social televisionado, mas um laboratório pensando dentro dos moldes da sociedade da espetacularização. Quanto mais espetáculo, lê-se briga, mais audiência e, automaticamente, mais dinheiro para um pequeno grupo familiar que domina a comunicação no país. Portanto, o BBB é pensado para ser polêmico e tudo isso ganha maior dimensão a partir de uma sociedade preconceituosa e desigual. Concorde você ou não, a sociedade brasileira é machista, homofóbica, racista e capacitista. São dados cientificamente comprovados e tudo isso ganha maior dimensão em um programa transmitido e manipulado pela maior rede de televisão do país. 

A seleção dos participantes que estão na casa mais vigiada do Brasil é pensada milimetricamente a partir de personalidades e realidades sociais e econômicas distintas. Tantas diferenças reclusas em um ambiente passível de controle externo gera o estranhamento e faz com que os participantes tragam ao vivo o que possuem de melhor e, na maior intensidade, de pior. Portanto, voltemos à pergunta do título: o BBB é a sociedade brasileira? Responderia sim e não. Sim, pois todos os participantes foram retirados de uma realidade social brasileira e levados para um confinamento por cem dias na casa do BBB. No programa, a homofobia, o racismo, o machismo, o capacitismo e tantos outros preconceitos que são práticas infelizes e cotidianas da sociedade brasileira afloram, entram nas nossas casas por meio da TV e nos colocam frente a frente com a pior versão nossa enquanto seres humanos. 

Ao mesmo tempo, diria não, o BBB não consegue refletir integralmente a sociedade brasileira, pois o ambiente construído é manipulado e, pensadamente, empurra os participantes para sua pior versão. Ainda que boa parte daquilo que os participantes entregam no programa seja o que eles realmente são na vida fora do BBB, não se pode deixar de levar em consideração que a competição planta a intriga, a espetacularização, o ódio e a manipulação dando a falsa sensação de que o jogo faz parte de um mero entretenimento com regras iguais para todos e que o descontrole é de responsabilidade única e exclusiva do participante. Quando na verdade, o programa potencializa práticas reprováveis do cotidiano e sem nenhuma responsabilidade dá luz e maximiza o que os participantes têm de pior. 

Aqui de fora, os telespectadores, sentados em tronos de juízes, que muitas vezes, possuem práticas iguais ou piores dos participantes do BBB, sob o manto do entretenimento e julgamento em massa, dão o veredito final de quem fica ou sai da casa mais almejada por muitos brasileiros. O cancelamento dos eliminados costuma ser uma regra. 

É a partir dessa bifurcação que eu diria que o BBB dá amplitude a partir da manipulação e da espetacularização ao que cada ser humano tem de pior. O vencedor do programa quase sempre é aquele que mais se enquadra no perfil de bonzinho e que transmite práticas admiráveis, mas o que gera lucro e faz com que o programa tenha a popularidade e audiência que possui é a produção de vilões a partir da espetacularização, do cancelamento e da exploração de práticas para o lucro daquilo que a sociedade possui de pior.

 Quando na verdade, o programa potencializa práticas reprováveis do cotidiano e sem nenhuma responsabilidade dá luz e maximiza o que os participantes têm de pior.

 

Por Tiago Botelho.

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