Gota: O que é e como deve ser tratada

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O que é a gota? 

Gota é o nome popular de uma doença que leva à inflamação de articulações (artrite), decorrente do depósito de cristais de ácido úrico.

Por que ocorre? 

A deposição dos cristais de ácido úrico, nas articulações ou em outros locais, acontece quando os níveis sanguíneos do ácido úrico ultrapassam os limites de sua capacidade de ser solúvel. Isto ocorre quando os níveis são maiores que 7 mg/dl.

Os níveis elevados do ácido úrico podem ocorrer devido a excesso de produção (por erro genético no metabolismo ou por alguma doença associada, como psoríase ou alguns tipos de câncer, p. ex.) ou por diminuição da eliminação pelos rins (nos casos de algum grau de insuficiência renal). 

Quem tem mais chance de ter Crise de Gota? 

Estima-se que entre 1 a 5 % da população tem a crise de gota. Entre estes, o sexo masculino é o mais acometido, na razão de 9 homens para cada (1) pessoa do sexo feminino.

A faixa etária de maior incidência está entre os 40 a 65 anos de idade, com o aumento em função da idade

Pessoas que apresentam certas condições associadas, como alcoolismo, ingesta excessiva de alimentação hipercalórica, rica em proteínas, síndrome metabólica (hipertensão arterial, aumento dos níveis do colesterol, triglicérides e glicose), doença renal, psoríase, uso de diuréticos e de AAS (ácido acetil salicílico) e alguns tipos de câncer.

 

Como são os sintomas? 

Grande parte das pessoas pode ter níveis elevados de ácido úrico no sangue, por vários anos, sem apresentar nenhum sintoma articular ou de cálculo renal (hiperuricemia assintomática). 

Porém, tem sido observado que muitos desses pacientes assintomáticos podem desenvolver hipertensão arterial, insuficiência renal e doenças cardiovasculares.

Passada essa fase de hiperuricemia assintomática, o indivíduo pode desenvolver a primeira crise de gota, que geralmente se dá no “dedão” do pé (hálux), com dor intensa no local (o paciente não tolera nem o roçar de um lençol, p. ex.), vermelhidão, com aumento da temperatura local e com inchaço (conhecida como podagra) – FASE AGUDA.

Outras articulações podem ser acometidas, como tornozelos, joelhos etc., sempre com as mesmas características.

Após a primeira crise de artrite, o intervalo até a próxima crise pode ser longo, sendo que, com o tempo, o intervalo entre as crises vai diminuindo, até permanecerem diariamente – FASE CRÔNICA

Caso não ocorra o tratamento adequado, os cristais de ácido úrico passam a depositar sob a pele (tofos), em locais como cotovelos, pavilhão auricular e próximo às articulações, levando a lesões ósseas irreversíveis – FORMA TOFÁCEA.

Deve-se lembrar de que esses depósitos podem ocorrer nos rins, formando cálculos ou depositando-se nas suas paredes, levando a danos sérios da função renal. Podem ocorrer depósito em paredes das artérias principais do corpo, como aorta e coronárias.

 

Diagnóstico 

A história clínica e o exame físico detalhado já garantem um primeiro reconhecimento da doença.

Os exames laboratoriais devem ser solicitados, visando uma avaliação global do paciente, em razão dos fatores relacionados acima. Assim, não só a dosagem do ácido úrico sérico, mas a avaliação sorológica dos rins, do fígado e da parte metabólica, é essencial para caracterização da causa da gota, das possíveis consequências e se há outra doença concomitante.

 

Tratamento 

O tratamento da fase aguda é feita com o uso de anti-inflamatórios, às vezes, o uso de corticoides se faz necessário e a colchicina. 

Na fase pós-crise, o tratamento inclui o uso de medicação redutora dos níveis do ácido úrico e/ou de excretoras de ácido úrico. O tratamento medicamentoso não deve ser interrompido e deve ser acompanhado por um reumatologista.

A dieta alimentar, desde que o paciente esteja em tratamento e bem controlado, não deve ser rígida, a menos que tenha contraindicação, em relação à restrição absoluta de ingesta de proteínas. A ingesta com moderação não altera os níveis séricos do ácido úrico de maneira importante. 

A restrição de bebidas alcoólicas deve ser considerada, por ser fator desencadeador de crises de artrite gotosa.

A perda de peso tem papel relevante no controle da hiperuricemia.

Com a doença controlada com medicamentos e observando as restrições citadas, o indivíduo com gota tem vida com boa qualidade.

 

Professor titular da Famed da UFMS, professor do curso de pós-graduação de saúde e desenvolvimento do Centro-Oeste, da UFMS; coordenador do programa de residência médica em reumatologia, do Humap/Ebserh/UFMS; titular da cadeira 23, da Academia Brasileira de Reumatologia

 

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